Entrevista: Adalberto Val fala sobre os 55 anos do Inpa


No mês de julho, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) completou 55 anos de criação. Ao longo de sua existência, o Inpa tem contribuído com informações importantes para a preservação da Amazônia, elaboração de políticas públicas e melhoria da qualidade de vida do povo da região. Mas para o atual diretor do Instituto, Adalberto Luis Val, há ainda muito a ser feito. A grande dificuldade é a imensidão da região, as fronteiras e a falta de pessoal qualificado para atuar na busca de novas informações que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável. Todavia, ele ressaltou os mais de 1,2 mil mestres e doutores que foram formados pelo Instituto, os quais atuam em instituições de ensino e pesquisa da região e que têm ajudado nesse processo. Foi o que destacou em entrevista cedida para a equipe de reportagem da Agência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

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Agência Fapeam – O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) tem alcançado os objetivos para os quais foi criado?

 

Adalberto Val – Até hoje há uma imensa dificuldade de se conhecer a região amazônica. Mesmo o Inpa tendo sido criado em 1952 e instalado apenas em 1954, as dificuldades continuam as mesmas. Temos uma mega região, uma mega diversidade, que se estende pelos países amazônicos, como Bolívia, Colômbia, Guiana, Suriname, Peru, Venezuela. Todavia, conhecemos pouco a região.

 

 

Agência Fapeam – Qual é o papel do Inpa nos dias de hoje?

 

Adalberto Val – O papel do Instituto tem sido de contribuir com a geração de informação sobre a Amazônia. Vale ressaltar que o grande legado é a formação de recursos humanos, ou seja, pessoal altamente qualificado. Inicialmente foi por meio do curso de pós-graduação em Botânica, e hoje há oito cursos de pós-graduação. Os cursos têm contribuído com a formação de profissionais que atuam na Região Norte e nos países amazônicos. Além disso, há parcerias firmadas com outras instituições de ensino e pesquisa para incentivar jovens e adolescentes a enveredarem pela ciência. É o caso dos programas Institucionais de bolsas de iniciação científica (Pibic, Paic e Pibic Jr.), que visam despertar a vocação científica.

 

Agência Fapeam – Quais são as conquistas mais relevantes do Inpa nestes 55 anos?

 

Adalberto Val – A primeira conquista é o papel importante na descrição do ambiente amazônico, não só para o Brasil, mas para o mundo. A segunda contribuição é a capacitação, pois não há como deixar de citá-la. Mais de 1 mil pessoas foram formadas, entre mestres e doutores. Temos pelo menos um professor atuando em instituições locais que foi formado pelo Inpa. Temos orgulho disso. Além disso, na literatura mundial há citações de trabalhos científicos feitos por pesquisadores do Instituto. Claro que estamos distante de uma situação ideal, mas poderíamos contribuir mais ainda com a formação de pessoal qualificado se não fosse a defasagem de servidores.

 

Agência Fapeam – Qual é a atual situação do Inpa em relação a recursos humanos?

 

Adalberto Val – O Instituto já chegou a ter 1,2 mil funcionários, e hoje não chega a 750. Ou seja, falta pessoal. Mas o que é produzido, é de qualidade, o que tem ajudado a alavancar os projetos de pesquisa.  Uma saída encontrada pelo Instituto é associar a informação produzida com novas ações, por exemplo, leis para a região. 

 

Agência Fapeam – Quais foram os grandes cientistas que passaram pelo Inpa?

 

Adalberto Val – Alguns grandes cientistas do mundo já passaram pelo Instituto. O pesquisador tem sua vida dirigida pela curiosidade, e a Amazônia desperta essa curiosidade. O Inpa teve a felicidade de aglutinar todas as condições possíveis para possibilitar que esses grandes pesquisadores passassem pelo Instituto, por abrigar  informações novas. Passaram por aqui, entre eles, Clodoaldo Pavan e Warwick Kerr. Não vou citar outros nomes para não cometer erros.  

 

Agência Fapeam – O que o Inpa tem feito para popularizar as informações científicas produzidas no âmbito do Instituto?

 

Adalberto Val – Há diversas ações de popularização da ciência. É um aspecto vital para as instituições de ensino e pesquisa. Não há como sobreviver sem fazer chegar às informações, os trabalhos de mestrado e doutorado que estão nas prateleiras dos laboratórios à população. Não é produzindo meia dúzia de figuras e um texto que podemos dizer que estamos fazendo divulgação científica. Precisamos de profissionais capacitados para decodificar a linguagem do pesquisador para uma linguagem acessível, transformando em outras formas de comunicação. O Inpa tem se especializado de várias formas, como é o caso das áreas de visitação, as revistas  Acta Amazônica e agora a de divulgação científica. A primeira comunica para um público especializado, enquanto a segunda decodifica a informação para a sociedade. Além disso, há folders com informações sobre os projetos do Instituto, e estimulamos a participação do pesquisador nos meios de comunicação por meio de entrevistas. Há o Bosque da Ciência, área de visitação pública, os trabalhos desenvolvidos na Reserva Adolpho Ducke, na zona Leste da cidade, em parceria com a prefeitura de Manaus. O país precisa socializar as informações produzidas nas universidades de uma maneira geral.

 

 

Luís Mansuêto e Edilene Mafra – Agência Fapeam

 

 

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