Entrevista Fapeam: Eduardo Nakamura é premiado por tese


O amazonense Eduardo Freire Nakamura tem motivos de sobra para se orgulhar. Formado em engenharia elétrica pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e mestrado e doutorado em Ciência da Computação pela UFMG, ele acaba de conquistar o Prêmio Capes de Tese e o Grande Prêmio Capes de Tese, por seu trabalho de doutoramento defendido em 2007. O Prêmio Capes de Tese é outorgado para a melhor tese em cada uma das sub-áreas do conhecimento. O Grande Prêmio Capes de Tese é outorgado para a melhor tese, dentre as premiadas no Prêmio Capes de Tese, em cada uma das três grandes áreas do conhecimento: (1) Ciências Biológicas, (2) Ciências Exatas e (3) Ciências Humanas. Portanto, a referida tese foi escolhida a melhor do Brasil (defendida em 2007) na área de Ciência da Computação (Prêmio Capes de Tese) e a melhor tese do Brasil na grande área das Ciências Exatas e da Terra e Engenharias (Grande Prêmio Capes de Tese). Professor da Fundação Centro de Análise Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi) e do Programa de Pós-Graduação (mestrado/doutorado) em Informática da Ufam, Nakamura desenvolveu sua tese, intitulada “Fusão de Dados em Redes de Sensores sem Fio”, em quatro anos e meio, só com o apoio da Fucapi. Cheio de esperança, ele acredita que os pesquisadores amazonenses podem, sim, tornar a região uma referência nacional e internacional em diversas áreas do conhecimento, além de colaborar para melhoria da qualidade de vida dos amazonenses. Confira. 

 

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Agência Fapeam – Qual é a temática principal de sua tese?

Eduardo Nakamura – O trabalho apresenta uma pesquisa de 4,5 anos que envolve redes de sensores e técnicas de fusão de dados. De forma simplificada, redes de sensores assemelham-se com as redes tradicionais de computadores, como a Internet. Contudo, esse tipo de rede possui uma série de desafios e restrições particulares. Os elementos interconectados são dispositivos pequenos com uma limitada capacidade de processamento e de comunicação (sem fio) e são equipados com uma ou mais unidades de sensoriamento (temperatura, pressão, umidade, movimento, som, etc.). A idéia é que, operando em conjunto, de forma coordenada, esses pequenos dispositivos, chamados "nós sensores", são capazes de perceber o ambiente a sua volta e monitorá-lo, auxiliando em tarefas de detecção de eventos. Note que estes dispositivos operando de forma contínua são capazes de coletar uma quantidade muito grande de dados. É aí que entram as técnicas de fusão de dados. Essas técnicas são utilizadas para processar os dados gerados e prover uma interpretação dos mesmos que seja facilmente compreensível ao ser humano. Por exemplo, os sensores podem oferecer diversos dados como temperatura, luminosidade e umidade. Estas informações por si só podem não ser facilmente interpretadas. As técnicas de fusão de dados compreendem algoritmos capazes de processar estas informações e identificar, por exemplo, os valores atuais de temperatura, luminosidade e umidade significam que provavelmente está ocorrendo um incêndio.

 

Agência Fapeam – Quais são as implicações práticas de sua pesquisa para a sociedade?

Eduardo Nakamura – As aplicações de redes de sensores sem fio e fusão de dados são muitas. Particularmente para a nossa região aplicações ambientais possuem um apelo muito forte. Em teoria, podemos utilizar essas redes para monitorar a ocorrência de incêndios, animais silvestres em risco de extinção, a qualidade de nosso ar, das  águas de nossos rios, enfim, as aplicações são determinadas somente pelas necessidades que tenhamos de monitorar qualquer ambiente. Um aspecto importante deste monitoramento é que ele é feito de forma remota, uma vez que os dispositivos comunicam-se uns com os outros. Portanto, esta tecnologia dispensa a custosa e, muitas vezes invasiva, presença física do pesquisador. Além disso, os dados coletados são mais confiáveis, mais precisos e possuem uma cobertura maior se comparados com a coleta feita por um pesquisador. Além disso, temos aplicações industriais, de telemedicina, automação, etc. Enfim, podemos aplicar essa tecnologia em qualquer situação em que se necessite de um monitoramento contínuo e autônomo.

Agência Fapeam  – Qual é a importância, para o Estado do Amazonas, dos dois prêmios Capes conquistados pelo senhor?

Eduardo Nakamura – Vale ressaltar que é a primeira vez que uma tese de Ciência da Computação vence o Grande Prêmio Capes de Tese. Embora meu doutorado tenha sido desenvolvido em Minas Gerais, na UFMG, acredito que isto mostre o potencial humano de nosso Estado. Isto significa que, com investimentos e uma política de apoio à pesquisa adequados, podemos captar e manter os talentos, muitas vezes desconhecidos, de nosso Estado (na capital e no interior). Atualmente uma grande parte dos talentos precisa buscar uma formação fora do Estado. Acredito que, com o tempo, podemos mudar esta realidade e mostrar que a região pode, sim, vir a ser uma referência nacional e internacional em diversas áreas, trabalhando na fronteira do conhecimento e melhorando a qualidade de vida do amazonense.

Agência Fapeam – O senhor trabalha com o uso racional da energia. Como é a atividade?

Eduardo Nakamura – Atualmente a Fucapi e o nosso grupo de pesquisa, chamado NEPComp, busca avançar o estado da arte em redes de sensores, ampliando o leque de aplicações. Neste caso, a área de energia possui um potencial para essa tecnologia, inclusive hoje nosso grupo possui projetos relacionados com redes de sensores e energia e busca novos parceiros na iniciativa privada. Hoje ainda é um desafio convencer a iniciativa privada, de maneira geral, que o investimento em pesquisa e inovação é importante e benéfico para os diversos segmentos. No contexto de redes de sensores, toda solução é projetada e pensada no uso racional de energia, pois os nós sensores normalmente são alimentados por pequenas baterias ou pilhas comuns. O que significa que a fonte de energia é limitada e deve ser utilizada de forma racional para prolongar a vida dos dispositivos, evitando, assim, a necessidade de constante manutenção (para troca de baterias) que tornaria muitas aplicações inviáveis.

 

Agência Fapeam – Sobre sua atividade como professor da Fucapi, o senhor nota uma atitude de interdisciplinaridade da Ciência da Computação com a área de Humanas?

Eduardo Nakamura – O aspecto da interdisciplinaridade e multidisciplinaridade são objetos de estudo da Fucapi, que vem apresentado propostas socialmente relevantes, como a criação de telecentros em comunidades na cidade de Manaus. Neste caso, entretanto, o aspecto social prevalece sobre aspectos técnicos da Ciência da Computação. Entendo que a interdisciplinaridade da Ciência da Computação com outras áreas, como Produção, Ecologia e Humanas, deve ser incentivada, ampliando a relevância da Computação além do domínio estritamente particular aos cientistas da computação.

Agência Fapeam – Acerca da problemática da inclusão digital, como se pode delimitar a questão atualmente? Há avanços no Estado do Amazonas?

 

Eduardo Nakamura – Os avanços são lentos e demandam uma atuação mais forte das autoridades. É inadmissível que a cidade de Manaus possua uma das Internets mais caras do mundo, cujo preço é comparável ao de países em situações complexas, como é o caso do Afeganistão (cujo preço da Internet é compatível com os praticados em Manaus). Enquanto tivermos esses preços elevados e uma qualidade de serviço sofrível, estaremos alguns anos atrás dos principais pólos da federação, como os Estados do Sul e Sudeste.

 

 

Renan Albuquerque – Agência Fapeam

 

 

 

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