Entrevista: Ferrovia é solução para Amazônia, diz Aimberê


Doutor em Engenharia de Transportes pela Coppe/UFRJ, Luiz Aimberê Freitas possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense (1970) e mestrado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (1989). Atualmente é professor da Faculdade Roraimense de Ensino Superior e diretor-presidente do Instituto Aimberê Freitas. Tem experiência na área de ciência política, assim como em planejamento de transportes para o desenvolvimento sustentável. Para a Agência Fapeam, Aimberê Freitas destacou sua tese de doutorado, a qual indica a necessidade de uma ferrovia que ligue Manaus, Boa Vista e Georgetown, na Guiana.

 

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Agência Fapeam – Em que consiste a “alternativa ferroviária” para a Amazônia Ocidental?

Luiz Aimberê Freitas – Minha tese dividiu essa parte da Amazônia em quatro pólos: O Pólo 1 abrange a cidade de Manaus e sua parte norte, incluindo aí Pólo Industrial, Distrito Agropecuário, municípios do entorno e Itacoatiara, como seu dinamismo de escoamento de soja, além do projeto Pitinga, em Presidente Figueiredo; o Pólo 2 é no noroeste do Pará, com a produção de bauxita da região do rio Trombetas, que escoa para o Canadá e Barcarena, no próprio Pará; o Pólo 3 é no Estado de Roraima, com produção de soja, milho, arroz e a cassiterita da Serra das Surucucus; por fim, o Pólo 4 é na Guiana, que escoa do seu interior para vários países arroz, açúcar e bauxita. Esses pólos juntos demandaram em 2007/2008 mais de 7 milhões de toneladas de produtos e insumos agrícolas e industriais. Na minha projeção conservadora, em 2025 demandarão mais de 30 milhões de toneladas. A ferrovia ligará Manaus, Boa Vista e Georgetown. De Manaus a Georgetown, são 1.308 km por ferrovia. Um trem, mesmo de baixa velocidade, faz isso em 65 horas. De navio, são de seis a oito dias de viagem. Quando se imagina que parte desses produtos destina-se à Ásia e eles passarão pelo Canal do Panamá, minha tese mostra que a ferrovia é mais econômica, menos poluente, mais preservacionista e menos agressiva ao meio ambiente. Falta, no entanto, a construção de um porto de águas profundas na Guiana para que o trem se justifique totalmente. 

 

Agência Fapeam – Por que o senhor acredita que a construção de ferrovias é a melhor estratégia para a Região Norte?

 

Luiz Aimberê Freitas – Estudei e afirmo que para a parte norte da Amazônia Ocidental, abrangendo Manaus e sua parte norte e mais Itacoatiara, o Estado de Roraima e o noroeste do Pará, a ferrovia é a melhor saída, principalmente quando se agrega a ela a intermodalidade fluvial (no caso da soja do Mato Grosso) e do rodoviário para distâncias menores. 

 

Agência Fapeam – Ainda há alguma chance de a BR-319 ser, ao menos em parte, construída pela perspectiva ferroviária?

 

Luiz Aimberê Freitas – O projeto do Governo do Estado do Amazonas aponta para o modal ferroviário como sendo o mais indicado. Todavia, o Brasil ainda é refém do lobby automobilístico, e para esse setor, quanto mais rodovias forem construídas mais veículos serão vendidos. Isso é uma desgraça. O planejamento nacional não é capaz de se livrar desse sistema de pressão. Assim, a perspectiva ferroviária entre Manaus e Porto Velho virá apenas quando as pessoas entenderem a necessidade de se livrar dos grandes projetos rodoviários danosos ao meio ambiente e forçar os planejadores a aceitarem a ferrovia, como foi feito em países grandes, como Estados Unidos, Canadá, China, Índia e Austrália. 

 

Agência Fapeam – Qual foi a melhor experiência acadêmica que o senhor teve estudando na Coppe/UFRJ?

 

Luiz Aimberê Freitas. A Coppe/UFRJ é a melhor escola de engenharia da América do Sul. Minha experiência acadêmica foi rica em ensinamentos e troca de experiências com os professores daquela casa. Ao fim de meus estudos de engenharia voltada para a floresta e para a acessibilidade em transporte e da mobilidade da periferia da Amazônia, ouvi de meus mestres que “tinham aprendido comigo nesses cinco anos”. Isso foi a maior e mais relevante frase que já ouvi na vida. Eu, como pesquisador e estudante de doutorado, ser considerado naquela universidade, é algo realmente imerecido, mas gratificante.

 

Agência Fapeam – Ser veterinário o ajudou no trato com a engenharia de transportes?

 

Luiz Aimberê Freitas. Não, a medicina veterinária não ajudou em nada. O que me ajudou foi meu mestrado em administração pública com concentração em planejamento urbano, realizado na FGV-SP. Isso sim ajudou e muito. E também a minha experiência como prefeito de Boa Vista, aliada ao meu conhecimento da geografia e da história da Amazônia. 

 

Agência Fapeam – Como o senhor observa o atual cenário de fomento a pesquisa no Estado do Amazonas, sobretudo a partir das ações da Fapeam?

 

Luiz Aimberê Freitas. Vejo de modo positivo. O Amazonas, com a Fapeam, dá exemplo para os outros Estados. A Fapeam é líder em seu segmento no Norte e dela fazem parte pessoas comprometidas, que atuam em alto nível de responsabilidade, inteligência e amor pelo que fazem.

 

Agência Fapeam – O senhor já trabalhou no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República. Como foi essa atividade?

 

Luiz Aimberê Freitas. Fui durante quatro anos membro daquele Conselho. Atuei junto aos meus pares, mostrando caminhos ao governo e ao presidente da República. Em particular, apontei que na Amazônia tem gente importante e que merece ser mais bem conhecida e estudada. Foi uma atividade intensa e de muito proveito, desde que os governos futuros leiam nossos anais e neles se inspirem para o planejamento nacional. Destaco que esse trabalho no Conselho não teve remuneração. Trabalhamos porque gostamos da Amazônia e do Brasil.

 

Renan Albuquerque – Agência Fapeam

 

 

 

 

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