Entrevista: Luiza Garnelo


Ela é professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e pesquisadora do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD), a Fiocruz Amazônia, com pesquisas na área de saúde. Para a doutora Luiza Garnelo, a carência de recursos humanos qualificados para pesquisa e pós-graduação na Amazônia e, em particular, a baixa concentração de docentes com doutorado em saúde coletiva é um dos mais importantes entraves à consolidação da produção científica em sua área. Em entrevista à Agência Fapeam, ela fala sobre seu trabalho e sobre pesquisas na região.

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Agência Fapeam – Como a senhora observa o crescimento do número de pesquisas financiadas pela Fapeam nos últimos anos?

Luiza Garnelo – É uma situação muito promissora. A presença da Fapeam instituiu um diferencial no cenário da pesquisa em nosso estado, viabilizando maior acesso às fontes de financiamento e instituindo uma movimentação positiva em torno dos editais e outras iniciativas ligadas à pós-graduação. Tal circunstância coincidiu com a ampliação do número de doutores em nossas instituições, ou seja, vamos de vento em popa.
 
Agência Fapeam – Na pesquisa “Tuberculose e Hanseníase em áreas indígenas”, da qual a senhora participa, há aportes da Fapeam. Quais foram, até o momento, os resultados desse levantamento?

Luiza Garnelo – Os resultados ainda estão sob análise, mas, segundo o que foi processado até o momento, o cenário não é bom. Encontramos altas taxas de incidência e prevalência dessas endemias, ao lado de ações de controle descoordenadas e descontinuadas. Esperamos que o resultado final da análise possa contribuir para o aprimoramento das ações institucionais de controle dessas doenças.
 
Agência Fapeam – Uma das linhas de pesquisa em que a senhora atua é a de antropologia e saúde indígena. Como os trabalhos são realizados nesse campo?

Luiza Garnelo – Bom, temos pesquisas realizadas diretamente nas comunidades indígenas e pesquisas documentais e/ou com entrevistas feitas com atores-chave no cenário político da saúde indígena. No trabalho junto às comunidades, temos pesquisas sobre os sistemas indígenas de cura e cuidados, os sistemas alimentares tradicionais e cosmologia indígena. Já a pesquisa documental é mais voltada para a análise do subsistema de saúde indígena e de suas interfaces com as comunidades e com o Sistema Único de Saúde. Todas as pesquisas são desenvolvidas em parceria com as associações e comunidades indígenas e muitas delas foram desenvolvidas para atender a demandas geradas nas comunidades.
 
Agência Fapeam – Ano passado a senhora publicou o artigo “Cárie dentária e necessidade de tratamento odontológico entre os índios Baniwa do Alto Rio Negro”. Como foi essa experiência?

Luiza Garnelo – A origem desse trabalho foi uma dissertação de mestrado que orientamos e que gerou a pesquisa de campo que desenvolvemos. Foi um trabalho muito interessante, porque gerou uma avaliação sistemática de uma parte da população indígena Baniwa, no médio Içana. A situação encontrada era bem desfavorável, com elevada perda dentária e grande necessidade de prótese a partir de trinta anos em média. Essa demanda não estava sendo devidamente atendida pelo sistema de saúde. Grande parte do perfil encontrado está ligada a uma transição alimentar enfrentada pelos povos indígenas, com o ingresso progressivamente maior de alimentos industrializados, como o açúcar.

Agência Fapeam – De que maneira a senhora vislumbra o desenvolvimento científico na Amazônia, a partir de fomentos que estão sendo aportados não apenas por parte da Fapeam, mas também da Fapespa?

Luiza Garnelo – Positivamente, é claro. Prevejo que teremos um número cada vez maior de pessoas interessadas em desenvolver pesquisa científica, com boas condições para realizá-la. Estamos numa espiral ascendente nesse campo.

 

Renan Albuquerque – Agência Fapeam

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