Entrevista- Pesquisadora fala sobre estudos com cogumelos comestíveis da Amazônia
Com o sucesso da comida japonesa o mercado de cogumelos comestíveis ficou bem conhecido e, futuramente, pode ser uma boa aposta para o cultivo e produção. O primeiro cultivo de cogumelo comestível, em escala experimental, foi realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), com o intuito de gerar um produto alimentício a partir da biodiversidade da floresta Amazônica.
A equipe do Departamento de Difusão do Conhecimento (Decon) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) conversou com a doutora em Botânica. A pesquisadora atua na área de cogumelos nativos comestíveis da Amazônia; é responsável pelo Fungário do Museu da Amazônia (Musa) e integra o Grupo de Pesquisa “Cogumelos da Amazônia” liderado pela pesquisadora do Inpa, Noemia Kazue Ishikawa.
Ruby tem pesquisa apoiada pela Fapeam , por meio do Programa de Apoio à Fixação de Doutores no Amazonas (Fixam/Am), edital N°022/2013, com o tema “Produção de Lentinula raphanica, um cogumelo comestível da Amazônia, utilizando substratos regionais”.
Atualmente a pesquisadora está desenvolvendo atividades agropecuárias no Centro de Produção Orgânica do Estado do Amazonas (Cenpoam), na produção de produtos advindos de produção de base ecológica para futuramente produzir “semente-inóculo” para comercialização. Confira a entrevista!
1- O que a despertou para a área do estudo dos fungos, a Micologia?
O que mais me chamou a atenção foi a diversidade de cogumelos (formatos, cor, tamanhos e substratos) existentes na Amazônia. Em curtas caminhadas na floresta após um dia chuvoso, nos deparamos com os cogumelos. Observamos a floresta, animais o homem que a habita e ignoramos a rede de fungos que se conecta neste ambiente sustentando a floresta. Outra coisa que despertou é o número muito baixo de profissionais que se dedicam a essa área muito importante que é a Micologia.
2- Você tem um estudo com apoio da Fapeam, chamado “Produção de Lentinula raphanica, um cogumelo comestível da Amazônia, utilizando substratos regionais” acha que existe mercado de cogumelo comestível para nossa região?
Sim existe potencial na nossa região. Tanto para o mercado local, nacional e internacional, oriundos de cultivo e do extrativismo (povos tradicionais).
Em nossos levantamentos bibliográficos desde 1851 até o momento, cruzando os dados de quais espécies são comestíveis e quais têm ocorrência natural na Amazônia brasileira, chegamos ao número 50 espécies. Destes, nosso Grupo de Pesquisas Cogumelos da Amazônia já encontrou 26 espécies nas expedições e coletas nos últimos 15 anos.
Das 26 espécies, consideramos a Lentinula raphanica a mais saborosa e promissora para o cultivo. Esta espécie, encontrada pela primeira vez na Amazônia brasileira no ano de 2010, é parente próxima do shiitake (Lentinula edodes), cogumelo comestível que cresce em climas temperados e frios e é cultivado mundialmente em escala industrial. E com o desenvolvimento do projeto financiado pelo programa FIXAM-AM/FAPEAM o cultivo de L. raphanica foi considerado o primeiro cultivo em toras realizado a nível mundial.
3- Quais os benefícios dos cogumelos comestíveis?
Os fungos nativos têm grande importância etnomicológica por ser um alimento muito apreciado pelos indígenas de diversos grupos étnicos na América Central e, em geral, pelos camponeses e ribeirinhos de regiões dos bosques úmidos. Há gerações vem coletando e preparando os cogumelos nativos (cozidos, embrulhados em folhas ou assados) os quais são considerados ou vistos como uma importante fonte de proteína. Na falta de peixe e carne de caça eles conseguem suprir a falta de proteína consumindo os cogumelos.
De forma geral os cogumelos são fontes de carboidratos, proteínas, vitaminas, minerais, fibras e outros nutrientes. Cerca de 90% do cogumelos fresco é água; dos 10% de matéria seca os valores de % dos componentes variam muito entre espécies de cogumelos, substrato que foi cultivado, tamanho e parte do cogumelo analisado; vale a pena enfatizar é que os cogumelos são capazes de sintetizar os nove aminoácidos essenciais, que nós humanos precisamos adquirir pela alimentação, porque nós não conseguimos sintetizar. Isso é muito importante aos vegetarianos e veganos. Pois eles não obtém alguns aminoácidos se alimentando apenas de vegetais.
4- Existem muitas espécies de cogumelos, nem todos são comestíveis, quais os riscos que ele pode causar ao ser manuseado sem nenhum critério de utilização?
O principal risco é intoxicação para quem consome cogumelos sem identificação. Pesquisas indicam que existem diferentes níveis de toxicidade, sendo alguns deles mortais. Para coletar cogumelos primeiro tem que ter treino no olhar, para isso precisa de muita prática e acompanhamento de uma pessoa treinada, pois muitas das espécies podem ser identificadas somente no laboratório. No caso da dúvida não consuma cogumelos.
A importância do conhecimento indígena é importante, pois eles são capazes de diferenciar cogumelos comestíveis e tóxicos, e passam o conhecimento de geração para geração.
5- Como você avalia a importância do apoio de agências de fomento para a atividade científica?
Considero importante o fomento da pesquisa para ampliar a área de estudo considerando a Amazônia, bem como para o incentivo de programas de extensão e popularização da ciência, por exemplo, POP C,T & I, que particpei e foi desenvolvido no Museu da Amazônia do qual participaram escolas do ensino da rede pública estadual e federal, assim como agricultores e técnicos extensionistas do Estado; a importância do apoio na publicação de material didático e paradidático.
Por: Jessie Silva
Fotos: Érico Xavier