Pesquisa pretende agilizar processo de avaliação em escolas públicas
26/08/2013 – Um sistema rápido que permite saber reações ou respostas de uma plateia instantaneamente. Esse é o Sistema de Resposta à Audiência (SRA), composto por hardwares e softwares que permitem que as pessoas possam responder ou opinar de forma sigilosa usando um controle remoto. Os resultados chegam em tempo real para o palestrante, sem expor os participantes. O método é utilizado por empresas de grande porte e algumas escolas particulares. Mas possuir um SRA custa caro.
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Devido ao custo elevado, a mestranda em Engenharia Elétrica da Universidade de Campinas (Unicamp), Jomara Bindá, com a ajuda de dois professores, desenvolveu um projeto que pretende baratear o sistema para utilizá-lo em escolas públicas de zonas rurais e da periferia. Para falar sobre a proposta, a pesquisadora concedeu entrevista à Agência FAPEAM.
Agência FAPEAM: Como você identificou a necessidade de encontrar uma solução para resposta à audiência dentro de salas de aula? Os métodos tradicionais usados já não são mais eficientes?
Jomara Bindá: Os professores da Faculdade de Engenharia Elétrica e da Computação (Feec/Unicamp), Eduardo Valle e Renato Lopes, que estão orientando este trabalho, tem se interessado por novas metodologias didáticas, como a “aprendizagem pelos pares” e a “sala de aula invertida”, que necessitam de soluções de resposta à audiência. Eles identificaram a deficiência dos sistemas atuais para o contexto sócioeconômico brasileiro, especialmente o custo e complexidade de operação dos sistemas tradicionais, e me convidaram para participar desse projeto no meu mestrado.
AF: Com a ajuda dos professores, como você pretende pôr em prática o projeto para instalação do SRA nas salas de aula? Parece ser uma tarefa bastante complicada. Quais serão os seus passos nessa empreitada?
JB: Como optamos por uma abordagem baseada em Visão por Computador, os primeiros passos são entender o estado da arte das técnicas de reconhecimento de códigos de barra bidimensional, bem como o reconhecimento de gestos estáticos e dinâmicos que possam ser utilizados na técnica que iremos propor. Como queremos implementar a técnica em uma ampla gama de ambientes e dispositivos, também estou estudando técnicas para melhorar a qualidade das imagens nessas situações desfavoráveis, como baixa iluminação, baixa resolução e problemas de foco.
AF: Você fala sobre a facilidade de desenvolver o método devido a existência de uma grande quantidade de códigos de barras em 2D. O que são essas barras bidimensionais e como serão utilizadas?
JB: Estes códigos de barra 2D são como os códigos de barra normais, que existem hoje no comércio para identificar produtos (no caixa do supermercado, por exemplo). Mas ao invés de codificar a informação de forma linear, alinhando os códigos um após o outro, eles usam as duas dimensões (altura e largura) da superfície do papel. Dessa forma, eles conseguem codificar muita informação em pouco espaço. Esses códigos já são muito usados em aplicações populares: os QR Codes, usados para codificar links de internet em páginas de revista ou cartazes de propaganda, são um tipo de código de barra 2D.
AF: Instalar um Sistema de Resposta à Audiência (SRA) custa caro. Devido essa realidade de mercado, como estão os preços e como as instituições interessadas conseguem usar mesmo assim o método?
JB: O custo inicial pode chegar a dezenas de milhares de dólares. O custo de cada aparelho é da ordem de algumas dezenas de dólares por aluno. Isso sem contar o custo de manutenção da infraestrutura, que não é pequeno. Nos sistemas tradicionais, a escola tem que decidir se os dispositivos serão atribuídos aos alunos durante todo o período letivo, ou se devem ser distribuídos e recolhidos a cada aula. As duas decisões são problemáticas. Na primeira, é preciso que cada aluno tenha seu transmissor (que pode ficar ocioso a maior parte do tempo). Na segunda, é preciso uma logística de distribuição e recolhimento dos transmissores que toma tempo do professor. Algumas escolas optam por um modelo de custos distribuídos em que os alunos são responsáveis por adquirir os transmissores, mas esse modelo não é viável para o ensino público brasileiro. Existem outras questões incômodas relativas à responsabilidade pela manutenção dos transmissores, ou da garantia de que as baterias deles tenham carga suficiente, etc.
AF: Existe a possibilidade de criar um SRA com baixo custo?
JB Sim, a questão dos custos e complexidade é central no nosso projeto, e não apenas o custo de aquisição, mas também o custo de operação e manutenção. Queremos uma solução que possa ser usada amplamente na educação brasileira, mesmo em comunidades rurais ou isoladas.
AF: Você concorreu ao Edital 003/2013 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) com o projeto e ganhou financiamento para seu mestrado na Unicamp. O apoio do Governo do Estado chegou em boa hora?
JB: Considero a ajuda fundamental para quem deseja fazer o mestrado e sou grata pela existência da FAPEAM. Para mim e para meus orientadores, a ajuda da FAP foi fundamental para que pudéssemos conduzir este projeto com a tranquilidade necessária. Estávamos nos preparando para uma longa batalha para conseguir financiamento para tornar esse projeto uma realidade. Com a ajuda da FAPEAM posso me concentrar nos meus estudos e na minha pesquisa, ao invés de me preocupar a cada semana se teria condições de continuar o projeto.
Sobre o RH-Mestrado
Concede bolsas de mestrado a profissionais interessados em realizar curso de pós-graduação stricto sensu, em programa de pós-graduação recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em outros Estados da Federação ou no Estado do Amazonas, desde que o programa de pós-graduação não tenha sido atendido pelo Programa de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu (Posgrad).
Leandro Guedes – Agência FAPEAM