Dez anos de caminhada na CT&I no Amazonas


19/07/2013 –  O Amazonas avançou em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). São 10 anos de crescimento consideráveis na formação de recursos humanos qualificados, no desenvolvimento de pesquisas e financiamentos de projetos inovadores que o colocam em posição de destaque nacional entre os Estados que mais investem neste setor. Entretanto, também há de se reconhecer que é necessário avançar mais. E nesse processo de articulação de políticas públicas em CT&I, visando a consolidá-la na sociedade amazonense, o papel do doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC-SP, Odenildo Sena, é estratégico. Desde 2005, quando foi diretor-presidente da Fapeam e, hoje, à frente da Secti-AM, o secretário atua no fortalecimento de CT&I no Estado e na região Norte. Gestor aplicado na busca de aproximar a CT&I da população, Sena acredita que se a sociedade reconhecer a importância de se investir em ciência, ela abrirá caminho para um horizonte de prosperidade e riqueza. Confira a entrevista concedida ao Amazonas Faz Ciência.

"Hoje é indiscutível olhar para o cenário mundial e verificar que todos os países que ocupam destaque fizeram investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação’’. disse Sena.

“Hoje é indiscutível olhar para o cenário mundial e verificar que todos os países que ocupam destaque fizeram investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação’’. disse Sena.

Amazonas Faz Ciência – Países que investem em CT&I obtêm sempre destaque nas áreas investidas. E o desenvolvimento geralmente alcança outras áreas como a social, econômica, saúde, empreendedorismo e inovação. Se os investimentos são positivos, que importância a CT&I tem para uma nação e, no âmbito menor, para os Estados?

Odenildo Sena Hoje é indiscutível olhar para o cenário mundial e verificar que todos os países que ocupam destaque fizeram investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). A gente se torna até repetitivo porque fica sempre se lembrando desses exemplos. Não é à toa que os norte- americanos continuam sendo uma referência mundial em termo de avanço tecnológico e, por trás do avanço tecnológico, a hegemonia política. Isso não é gratuito. Isso vem de investimentos maciços em CT&I. Há países como a Coreia, a China e a Índia que investiram fortemente em CT&I e começam a preocupar os próprios americanos. A Alemanha também é um exemplo. Arrasada pela Segunda Guerra Mundial, o país se reergueu e não foi por nenhum milagre, mas por ter investido pesadamente na formação de capital intelectual. No Brasil, é só observarmos qual é o Estado que historicamente detém essa força, da política, da inovação tecnológica, das grandes universidades. É São Paulo. E isso não aconteceu à toa, pois é o Estado que mais investe em CT&I. São Paulo tem uma Fundação de Amparo à Pesquisa que tem 50 anos. Lá estão as melhores universidades, os pesquisadores mais experientes, as melhores infraestruturas laboratoriais. Esse quadro comprova que não há outra saída. Se um país de fato quer ser competitivo, ele tem que investir em CT&I. É o caso do Amazonas, que politicamente tomou a decisão em 2003 de investir em CT&I. Estamos completando 10 anos desses investimentos.

Amazonas Faz Ciência – Há dez anos o Estado criou o Sistema Estadual de CT&I. Criou-se nesse cenário quatro instituições: uma de educação tecnológica, uma de educação superior, uma de fomento à pesquisa, coordenadas por uma secretaria de articulação política, que é a Secti-AM.  O estabelecimento dessas instituições se deve a uma conjuntura mundial favorável ao cenário brasileiro nos últimos anos ou são decisões políticas de promover mudanças?

Odenildo Sena – Os avanços em CT&I não acontecem por obra da natureza ou do Espírito Santo. Acontecem sempre por decisões políticas. Alguém tem que tomar a iniciativa. Há mais de 50 anos, o então governador de São Paulo, Carvalho Pizzo, já falecido, tomou a decisão de dar vida à Fundação de Amparo daquele Estado, a Fapesp. Aqui no Estado do Amazonas, em 2003, a iniciativa foi parecida. Inexistia a Secti-AM, o Cetam e a Fapeam. A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) já existia há um ano. Então, o governador do Estado à época, Eduardo Braga, tomou a iniciativa e a decisão política de criar o que hoje chamamos de sistema público estadual de Ciência e Tecnologia. Foi uma decisão estratégica e bem pensada, pois temos a Secti-AM, que é uma espécie de grande articuladora política do sistema, a quem cabe articular toda essa teia de ações da área de CT&I. Temos o braço do fomento, a Fapeam, que tem um papel extraordinário no avanço da ciência no Amazonas. De outro lado, temos o Cetam, que é responsável pela formação de nível técnico para resolver gargalos mais imediatos e ao lado, você tem a UEA, com o desafio enorme de se consolidar. Então, o sistema público estadual de CT&I tem esses braços que se articulam entre si e que formam parcerias, envolvendo as universidades públicas, particulares, os institutos de pesquisas, as fundações de saúde para avançarem em pesquisas e na formação de recursos humanos. Isso não é obra do acaso. Enfim, foi preciso uma decisão política. Por trás disso, vem um processo todo de ampliação e, sobretudo, de consolidação. Até chegar um momento em que essa decisão política se transforme numa decisão de Estado, que é o que nós desejamos que aconteça. Ao assumir esse patamar, de tal modo que independa de quem assuma o governo, o Estado poderá, de fato, ganhar grande competitividade e se transformar num grande polo de CT&I.

Amazonas Faz Ciência – Nesses dez anos, o amazonense vem conhecendo mais sobre CT&I. Quais são as ações que estão ajudando a área a se tornar mais presente no cotidiano da população?

Odenildo Sena – Isso se deve a um conjunto de ações. Você tem, de um lado, investimentos em recursos humanos e o investimento em pesquisa. Quanto mais você forma doutores para o Estado, maior é a necessidade de infraestrutura para ele pesquisar. Ao mesmo tempo, eles vão ganhando maior competitividade e começam não só a desenvolver pesquisas com recursos públicos do Estado do Amazonas, mas também a captar recursos federais, a captar recursos internacionais. Ao lado disso, é interessante observar tal processo como uma espécie de efeito cascata, nós passamos a ter muito que falar da CT&I por meio da divulgação científica. Então, se hoje, nós temos um forte apelo para a divulgação científica do Estado, isso se deveu a essa retroalimentação dessas várias ações, ou seja, se você tem ações em quantidade e qualidade, você tem do que falar e tem necessidade de compartilhar isso com a sociedade. Temos essa enorme preocupação com a divulgação científica aqui, ou seja, é preciso envolver a sociedade, é preciso convencê-la de que a ciência é fundamental na vida dela.  Quando a gente fala em ciência como fundamental na vida das pessoas, as pessoas em geral não se lembram disso, não se dão conta disso. Mas, por que hoje se tem uma expectativa de vida maior? A do brasileiro, atualmente, chega a 72 anos. Há 20, 30 anos, não se chegava a tal número. Isso se deve à ciência, à qualidade de vida proporcionada pela ciência. Novas descobertas, novos medicamentos, novas pesquisas que dão conta de que é preciso buscar alternativa A e B para se ter qualidade de vida. Cirurgias menos invasivas, produtos tecnológicos das mais variadas performances. Tudo isso se deve à ciência. Sem CT&I nós estaríamos lá atrás. Aqui no Amazonas, nós demos um salto invejável, mesmo porque, a partir de 2010, nós acabamos sendo referência para outros Estados da Região Norte, que não tinham estruturas de CT&I e passaram a ter a partir daí.

Amazonas Faz Ciência – O senhor foi diretor-presidente da Fapeam e é o atual secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação. Gostaria que o senhor comentasse um pouco sobre o amazonense ainda ter medo de investir em Inovação. Ainda falta conhecimento em saber o que o Estado oferece para esse crescimento econômico?

"A divulgação científica ao mesmo tempo em que envolve a sociedade, a motiva para que se compreenda melhor o que significa investir em CT&I". Anunciou.

“A divulgação científica ao mesmo tempo em que envolve a sociedade, a motiva para que se compreenda melhor o que significa investir em CT&I”. Anunciou.

Odenildo Sena – Esse é todo um processo que não é fácil, mas trabalha em consonância com tudo o que comentamos até agora, com toda essa retroalimentação por meio dessas tantas ações. É um processo natural e passa pela disseminação científica, que é fundamental. A divulgação científica ao mesmo tempo em que envolve a sociedade, a motiva para que se compreenda melhor o que significa investir em CT&I e, também, a motiva a se envolver mais diretamente com isso. Hoje, a demanda por CT&I aumentou sensivelmente, pois passou-se a oferecer oportunidades e investimentos nessa área.

Amazonas Faz Ciência – Durante esses anos, o senhor presidiu o Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap) e presidiu o Consecti. Gostaria que o senhor comentasse sobre o papel do Amazonas no cenário nacional de CT&I, da experiência à frente dessas instituições e da realidade observada em outros Estados?

Odenildo Sena – Eu tenho um quadro bem contundente em relação a isso. Quando eu assumi, em 2005, a presidência da Fapeam, (substituindo o professor José Aldemir, que naquele momento havia se afastado por razões de saúde), ela era a única Fundação de Amparo à Pesquisa na Região Norte. Passou-se três anos e, em 2008, surgiu a segunda Fundação de Amparo, que foi a do Pará. Eu acabei sendo escolhido pelos meus colegas, naquele momento, como presidente do Confap e isso me permitiu uma interlocução nacional na área de CT&I. Visitei todos os Estados da Região Norte, mostrando resultados positivos que ocorrem quando um Estado pode contar com uma Fundação de Amparo à Pesquisa. No cenário atual, só falta o Estado de Roraima criar a sua. Isso é fantástico em relação ao que acontecia lá no início. Nas reuniões nacionais, eu era o representante da Região Norte porque só havia a Fapeam. Agora não. Isso significa que nos fortalecemos na Região Norte e hoje discutimos com muito mais força e determinação os interesses da região e a necessidade de mais investimentos nessa área para a região. Outro ponto a se ressaltar é que, até 2003, quando se falava em CT&I não se incluía o Amazonas. Aliás, nenhum Estado da Região Norte tinha presença no mapa da ciência brasileira. Em pouco tempo, o Estado do Amazonas passou a ser referência. Hoje, ocupamos o quarto lugar, depois de São Paulo, Rio e Minas, em investimentos em CT&I. Veja o salto extraordinário que demos nesse sentido e isso está refletido nas várias ações desenvolvidas pelo sistema.

Amazonas Faz Ciência – Tivemos, recentemente, uma articulação e diálogos entre os Estados da Amazônia mais o Maranhão e Mato Grosso para a formatação de um Plano de Ação em CT&I para Desenvolvimento na região, um plano ousado para os próximos 20 anos. Queria que o senhor comentasse sobre esse plano.

Odenildo Sena – Você está falando de mais uma ação, essa de repercussão muito grande, que começou aqui. As conversas começaram aqui em Manaus. É preciso se criar um plano de Ciência e Tecnologia para a Amazônia. Eu estava à frente do Consecti e, após várias reuniões com os colegas da Amazônia Legal, levamos a proposta ao ministro Raupp, que comprou o desafio. O MCTI está financiando a elaboração do Plano de CT&I para o Desenvolvimento da Amazônia. Não é um plano qualquer, é um plano de grande envergadura. O Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), responsável pela elaboração do plano, já percorreu todos os Estados da Amazônia Legal, auscultando vários segmentos, e irá fazer uma segunda rodada. Reitero, não é um plano qualquer. Ele foi criado por nós. Aqui na Amazônia, não é um plano do governo federal, embora o MCTI tenha abraçado a ideia esteja financiando. É um plano com perspectiva de 20 anos e foi criado por nossa iniciativa na Amazônia. Ele tem amplas possibilidades de se transformar em uma ação de Estado, porque não é de A, B ou C. É um plano desejado e construído por todos esses atores da Amazônia Legal. Ao longo desse processo de discussão do plano, a gente já envolveu várias agências eventuais financiadoras de ações do plano, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que acompanha desde a primeira reunião oficial para a montagem do plano; o BNDES, que acompanha a montagem do plano e que já esteve em reuniões nossas; o Basa; e a gente pretende envolver também a Sudam. Enfim, a que se deveu isso tudo? A esse novo momento que colocou a CT&I nesse novo cenário na Amazônia.

Por Carlos Fábio Guimarães

Colaboração Cristiane Barbosa