É necessário investir 2% do PIB em pesquisa, em ciência básica

Professor titular do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jailson é conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Sociedade Brasileira de Química (SBQ). Foto: Diulgação JC.
O novo secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o químico Jailson Bittencourt de Andrade tomou posse de seu cargo na última terça-feira (3), em Brasília.
Siga a FAPEAM no Twitter e acompanhe também no Facebook
Professor titular do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jailson é conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Sociedade Brasileira de Química (SBQ). Como secretário da SEPED ele lidará diretamente com políticas estratégicas para o desenvolvimento científico e tecnológico do País.
Em entrevista ao Jornal da Ciência, Jailson Andrade fala de seus desafios à frente da Seped e revela quais programas de pesquisa serão prioritários nos investimentos da Secretaria durante sua gestão. Ele afirma que é necessário investir 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa, especialmente em ciência básica. “Este é o maior desafio e o caminho rumo ao futuro!”, aponta.
Jornal da Ciência – O senhor acaba de tomar posse para comandar a Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI. Quais serão os seus grandes desafios à frente da pasta?
Jailson Bittencourt de Andrade – A Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, Seped, tem por finalidade implantar e gerenciar políticas e programas, visando ao desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação no País: nas áreas de Ciências Exatas, das Engenharias, da Terra e da Vida, em especial em Biotecnologia e Saúde, Nanotecnologia e nas áreas de interesse estratégico para o levantamento e aproveitamento sustentável do patrimônio nacional, em especial em Biodiversidade, Ecossistemas, Meteorologia, Climatologia e Hidrologia, Ciências do Mar, Antártica e Mudanças Climáticas Globais.
Em resumo, a Seped tem uma missão temática extremamente abrangente e associada ao planejamento, implantação e gerenciamento de Políticas e Programas. Provavelmente, os maiores desafios são relativos ao planejamento de políticas concertadas, convergentes e integradoras.
JC – Na sua visão, quais programas de pesquisas merecem ser colocados na lista de prioridades de investimentos?
Jailson – Certamente que os Programas de Pesquisa em andamento no âmbito do MCTI são de grande prioridade. Mas, em minha opinião, quatro merecem destaque, devido às respectivas especificidades e abrangência: O Edital Universal, pela abrangência temática e regional e por atingir pesquisadores consolidados e em consolidação; Os Institutos Nacionais de Ciência Tecnologia e Inovação, INCTs, também pela abrangência temática e regional, e por apoiar os principais Grupos de Pesquisa do País; O PROINFRA, por ter como alvo principal as Universidades; O SIRIUS e o Reator Multipropósito, pois são estruturas essenciais para a autonomia das atividades de C,T&I, bem como para o Brasil atuar na fronteira do conhecimento.
JC – O senhor assume a Secretaria em um momento de crise hídrica no País e de fortes alterações climáticas. Quais os desafios para mitigar os efeitos desses dois fatores? Como é possível enfrentar os desafios do século 21, no processo de transformação do mundo em direção à sustentabilidade global como segurança alimentar e hídrica, por exemplo?
Jailson – Hoje a previsibilidade referente a condições climáticas e à segurança energética hídrica e alimentar tem um alto grau de confiabilidade. Precisamos avançar nas questões relativas aos desafios e soluções, atuando de forma concertada. Água e energia são temas intrinsecamente interligados. Produzir energia necessita de água e disponibilizar água onde é necessária e com qualidade adequada requer energia. O manejo adequado (ou inadequado) dos desafios e soluções no binômio água – energia refletem diretamente, não apenas na segurança hídrica ou energética, mas também na segurança alimentar e no ambiente.
A produção de alimentos necessita de água e, especialmente, de energia em todas as etapas: produção, colheita, estocagem e transporte. Em resumo, água e energia precisam ser abordados de forma concertada e considerando, pelo menos, três dimensões: Tecnológica, Econômica e Social. Vale ressaltar que o planejamento e execução de ações nesse binômio devem estar em consonância com a conservação e uso sustentável dos biomas nacionais.
JC – Como melhorar o cenário da pesquisa brasileira, diante de um orçamento apertado, de corte nos recursos da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação, por exemplo?
Jailson – O planejamento e a definição de prioridades sempre ajudam. Mas, não são suficientes. Para o Brasil atuar na fronteira da produção do conhecimento e pautar a ciência e tecnologia mundial é necessário investir 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa, especialmente em ciência básica. Este é o maior desafio e o caminho rumo ao futuro!
Fonte: Jornal da Ciência, por Edna Ferreira