O papel da incubadora de empresa no incentivo à inovação tecnológica


O incentivo ao empreendedorismo inovador para o fortalecimento do ecossistema de inovação faz parte das linhas de ação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). O fomento é por meio  de programas específicos  que estimulam o empreendedorismo de base tecnológica no Amazonas. Um deles é o Programa de Apoio à Incubadoras (Pró-Incubadoras), que apoia com recursos financeiros a estruturação, o desenvolvimento e a interação de incubadoras de empresas, novas e existentes, para que estejam alinhadas ao Modelo de Centros de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne), de forma a ampliar, expressivamente, o número e a qualidade de empreendimentos inovadores no Estado do Amazonas.

A equipe do Departamento de Difusão do Conhecimento (Decon) entrevistou o  professor e coordenador da incubadora de empresas da Universidade do Estado do Amazonas (UEA)  Sálvio Costa, que tem projeto apoiado pela Fapeam no âmbito do Pró-Incubadoras. Boa leitura!

1-  O que é uma incubadora de empresas? 

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Sálvio Costa- coordenador da Incubadora da UEA

A incubadora é um órgão da UEA que  funciona como programa de apoio a empreendedores com ideias inovadoras, mas com todo suporte  desde a questão de espaço físico até mentorias, assim  como também em assessoria na parte de gestão. Temos o objetivo de fazer com que esse empreendedor se torne numa média de dois anos, período que fica incubado, um empresário de sucesso. Para isso, fazemos com  que o empreendedor  receba todo apoio para que consiga seguir com a sua empresa. Ajudamos  com o marketing, área jurídica e até mesmo na parte técnica, se for o caso, desenvolvendo a inovação tecnológica do produto que ele está aprimorando. O fato de estarmos na universidade facilita, porque já temos mestres e doutores, que são pessoas que trilham no caminho da ciência e têm conhecimento da inovação para dispor para esse empreendedor e  até em alguns laboratórios para fazer testes e desenvolver produtos, protótipos e etc.

2-  Como você avalia o papel das universidades na cultura empreendedora?

Eu digo que o papel das universidades é crucial, porque a cultura empreendedora precisa ser disseminada não só na universidade, mas desde o ensino médio. Não empreender no sentido de abrir negócios, mas empreender no sentido de inovar, no sentido de levar as coisas adiante. Vejo na universidade, uma forma de lapidar esse espírito empreendedor que pode ser inoculado ainda no ensino médio e na universidade ele já vai atrás das ferramentas, já vai conhecer um pouco do mundo do empreendedorismo, quem sabe o mundo do empresariado e fazer com que ele entenda que empreender como empresário é uma opção de carreira. A universidade pode formar cidadãos para serem autônomos, funcionários de empresas privadas, mas também para serem empresários. Então, essa cultura empreendedora precisa ser disseminada e eu acredito que dentro da universidade tem ferramentas para fazer isso. Professores que entendem e laboratório para inovação que estão diretamente ligado a essa questão do empreendedorismo.

3-  A Fapeam oferta, por meio de editais, programas específicos voltados para inovação tecnológica. Atualmente, com apoio da Fapeam, você coordena a incubadora de empresas da UEA. De que forma você destaca o papel das agências de fomento para o incentivo do ecossistema de inovação?

A Fapeam tem demonstrado grande apoio, por meio de vários editais de fomento, não apenas  para as incubadoras, mas para o ecossistema de inovação como um todo. Com o trabalho voltado  para o empreendedorismo inovador e também estimulando a pesquisa que traz inovação. Eu diria que as agências de fomento são cruciais para manter esse ecossistema vivo. Dentro do ecossistema, se ele não tiver esse apoio fica desequilibrado. É algo fundamental, acredito que a Fapeam tem feito um excelente trabalho no nosso ecossistema,porque a partir desse estímulo, dessas ideias, desses recursos injetados na inovação, seja em startups, seja em pesquisa para o desenvolvimento de ideias, produtos e soluções, isso faz com que o ecossistema gire. É o governo fazendo a roda girar para que possamos nos desenvolver e fortalecer a economia do nosso estado.

Atualmente, estamos com recursos do Pró-Incubadoras do edital 010/2019 para que a incubadora da UEA se certifique no Cerne, uma certificação nacional de referência de incubadoras de excelência. Mais uma vez mostra que a Fapeam reconhece a importância do investimento nesse ecossistema que faz com ideias se transformem em realidades e empresas autossustentadas.

4-  Quantas empresas participam, hoje, na Incubadora de Empresas da UEA?

A incubadora da UEA, hoje,  funciona em Manaus e outra está no processo de implantação no município de Itacoatiara. Somos uma incubadora sistêmica, ou seja, é uma incubadora única para toda universidade. Então, onde tiver unidades da UEA podemos ter unidade de incubação. Mas hoje está funcionando,efetivamente, em Manaus ligada à Escola de Ciências Sociais da UEA. Temos  cinco empresas residentes, em funcionamento com contrato ativo, e cinco empresas que estão alocadas dentro do espaço da incubadora na universidade. Pretendemos dobrar isso com recursos que recebemos do programa Pró- Incubadoras da Fapeam no ano de 2019.

5-  Em sua opinião qual o cenário atual de incubadoras de empresas em nossa região?

Eu diria que é crucial o papel das incubadoras. Se olharmos o processo de maturação de uma ideia inovadora  percebemos que há muitas iniciativas, tanto de universidades e de coworking, quanto de entidades para-governamentais ou até mesmo governamentais, mas elas são muito embrionárias, muito na ideação. Precisamos que essas ideias sejam maturadas, que sejam transformadas em negócios, que possam se autossustentar, com a geração de emprego, renda, lucro para sociedade, recolhimento de impostos e devolver para a sociedade esse investimento que foi feito. Acredito que no cenário atual das incubadoras precisamos ter mais apoio no sentido de parcerias. Já temos bastante da Fapeam,  que já realizou três editais para nos ajudar enquanto incubadoras, mas ainda acho que precisamos crescer mais. Precisa ser entendido, que em alguns momentos, ter apenas a  ideia não vai colocar a empresa para frente. Essa empresa precisa ter um apoio mais especializado. Contratar uma consultoria na área de marketing, direito tributário, administrativo, direito trabalhistas, finanças e contadores, por exemplo, tudo isso sai muito caro para uma empresa que está iniciando, principalmente na área de inovação onde tudo é muito arriscado e novo. Então, o cenário hoje eu acredito que apesar de termos muitas incubadoras em Manaus e estamos nos unindo em muitas ações por meio  da Rede Amazônica de Instituições em prol do Empreendedorismo e da Inovação (Rami) que organiza e coordena isso.

6-  Qual a diferença de um startup para uma incubadora de empresa?

startup é um tipo de empresa, um modelo de empresas nas quais as incubadoras tendem a querer incubar, porque normalmente estão ligadas à área de inovação. As incubadoras são organismos que ajudam negócios inovadores exatamente pelo risco, dependendo de ser startup ou não. Um negócio de base tecnológica, ou mesmo, uma economia mais tradicional se for inovadora  tem risco.  A incubadora serve esse suporte para que nesse negócio arriscado o empreendedor possa focar no produto, no serviço, na tecnologia e  vamos ajudá-lo a  se desenvolver enquanto empreendedor empresário. Eu diria que hoje as incubadoras abrigam essas startups para que elas no futuro se consolidem e virem grandes empresas.

7-  Qual mensagem você pode deixar para quem pretende iniciar  sua  empresa ?

Primeiro, tem que ter uma ideia inovadora e inovação não é sinônimo de impeditivo, as pessoas às vezes têm muito medo disso. Inovação é agregar valor ao que já existe, às vezes a pessoa tem uma ideia inovadora, mas  fica com receio de apresentar para uma incubadora, porque  pensa que tem que ser algo como descobrir a roda e não é.  Tem que ser inovador no sentido de ser algo que agregue valor ao que já tenha no mercado,  porque se a empresa não tem competitividade, não tem motivo para uma incubadora apoiar empresas que já fazem o que todas fazem no mercado.

Segundo, tem que ter dedicação ao seu empreendimento, espírito empreendedor, vontade de trabalhar na sua startup, no seu negócio. Uma startup não é brinquedo e empresa não é brincadeira. Quanto mais a pessoa se dedica na empresa, maior a possibilidade de sucesso  ela vai ter. Ouvir e seguir as orientações das incubadoras ao empreendedor terá maior possibilidade  de ter uma empresa bem sucedida em menos tempo.

Esse é o conselho que dou para quem quer entrar em uma incubadora, que não vá apenas atrás de espaços físicos, não é isso, a incubadora tem um papel muito importante do que só fornecer espaço físico. Queremos desenvolver empresas e para isso as pessoas precisam estar dispostas a trabalhar nas suas empresas. Para depois daqui um ou dois anos  possam empregar  de forma direta e indiretamente, fortalecendo a economia, comprando de fornecedores, vendendo produtos inovadores, vendendo tecnologia, essa é a ideia.

Por: Jessie Silva

Fotos: Bárbara Brito