Escola de Lutheria forma jovens com visão sustentável
31/03/2013 – Ao longo dos anos a Amazônia apresentou picos de desmatamento. As últimas informações divulgadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que no período de 2000 a 2012, 2004 foi o ano que apresentou a maior taxa de desmatamento, quando mais de 27 mil quilômetros quadrados da floresta foram degradados. De agosto de 2012 a janeiro de 2013, o desmatamento da região caiu gradativamente, mas voltou a subir em fevereiro deste ano. Nos últimos sete meses, os alertas de desmatamento na Amazônia Legal subiram 26%. Isso significa que cerca de 1.600 quilômetros quadrados de floresta foram destruídos no período. A área é pouco maior do que o tamanho da cidade de são paulo, que tem pouco mais de 1.500 quilômetros quadrados. Confira na reportagem especial do Rádio com Ciência.
Essas atitudes de agressão à biodiversidade regional tem causado grandes perdas para a Amazônia, mas uma iniciativa que partiu de dentro de uma comunidade da zona Leste de Manaus trouxe visão sustentável da relação entre meio ambiente, música e ciência. Há 15 anos, a Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (Oela), ensina crianças e jovens a arte milenar de talhar instrumentos musicais com as próprias mãos e deles extrair melodias.
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O sonho, que começou no fim dos anos 1990, em uma pequena casa no bairro Zumbi 2, ganhou o mundo e mudou a vida de muita gente. Rubens Gomes é fundador da organização não-governamental, e já coleciona mais de dez prêmios em reconhecimento pelo projeto socioambiental que leva os sons da floresta para vários lugares do planeta.
"O sonho começou no Acre. Como artista, eu via que havia a possibilidade de fazer uma intervenção que possibilitasse o uso racional dos recursos naturais. Hoje, ter a oportunidade de associar essa manufatura, essa madeira de alta qualidade ao movimento científico eleva a qualidade desse trabalho", contou o fundador da Oela.
As madeiras utilizadas na confecção dos instrumentos são certificadas e doadas pela empresa mil madeireira. Uma parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), desde o início do projeto, possibilitou a descoberta de espécies de madeiras nativas da região com potencial para substituir as que estavam ameaçadas de extinção, como o Mogno, o Cedro e o Jacarandá da Bahia. Entre as pesquisas realizadas por meio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Madeiras da Amazônia, localizado no Inpa, surgiram novas alternativas para a indústria de instrumentos que sofre com a ameaça do fim de matéria-prima em todo o mundo.
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Para o pesquisador de produtos florestais do Inpa, Basílio Vianez, a Oela tem formado uma geração de jovens com visão sustentável, utilizando a música como instrumento de transformação socioambiental. "A Oela tem uma função muito importante no que diz respeito contribuição social", disse.
O projeto da Oela é dividido em três diretrizes: geração de renda, políticas públicas e educação. Desde 1998, já formou cerca de 150 profissionais em lutheria e aproximadamente 400 em marchetaria. Renato Montalvão tem a trajetória profissional atrelada à história da Oela. Na escola de música, aprendeu os primeiros acordes, apenas um começo para a nova paixão: a lutheria. Atualmente, é professor da escola e compartilha com outros jovens os segredos da arte milenar. "Aquilo que seria lixo a gente transforma em arte. A gente leva essa ideia para o mundo todo. Os músicos estão aprovando nossos instrumentos", ressaltou Montalvão.
A escola oferece atividades multidisciplinares, além das aulas de música, a fim de promover oportunidades para crianças e jovens do bairro. Evelyn Lopes, frequenta a Oela há quatro anos. Ela começou com aulas de flauta doce aos 11 anos. Hoje, a paixão pela música ganhou acústica e cordas: a menina está encantada com as aulas de violão. "Eu pretendo fazer uma faculdade de música. Comecei o curso de flauta e estou continuando o de volão. Eu soube me expressar mais com as pessoas através da música", frisou a estudante.
Após quinze anos de projeto, os novos integrantes do grupo têm em quem se inspirar. É o caso de Lebson Terço, de 12 anos. O adolescente quer seguir os passos do fundador da Oela. "Quero ser como o seu Rubens, que começou com uma casinha, que se transformou em uma lutheria. Quero tocar flauta e levar música para o mundo inteiro. É isso o que eu quero pra mim", destacou.
O cantor Lenine visitou a Oela e gravou o vídeo abaixo, em que ensina a tocar uma música com um violão fabricado na escola de lutheria. Confira:
Reportagem – Edilene Mafra
Edição – Eliena Monteiro
Agência FAPEAM