Estado e academia precisam dialogar para diminuir desmatamento na Amazônia
Assim como a Amazônia, as questões sócio-econômicas de mudanças do uso da terra são grandes e requerem não apenas uma, mas várias respostas. Outro desafio passa pelo diálogo entre o estado e a academia para formulação de uma agenda científica a fim de contribuir com a formulação de políticas públicas. É o que apontam os pesquisadores Mateus Batistella, da Empresa Brasileira de Pesquisa em Produtos Florestais (Embrapa Monitoramento por Satélite), e Diógenes Alves, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
As discussões aconteceram no âmbito da Conferência Científica Internacional "Amazônia em Perspectiva: Ciência Integrada para um Futuro Sustentável", que ocorreu de 17 a 20 de novembro. Durante o evento, estiveram reunidos os maiores especialistas em pesquisas amazônicas dos três maiores programas do Ministério da Ciência e Tecnologia: o Programa de Grande Escala da Biosfera Atmosfera da Amazônia (LBA); a Rede Temática em Modelagem Ambiental da Amazônia (Geoma); e o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio).
Segundo Alves, o estado necessita de informações para formulação de políticas públicas. Mas é preciso superar entraves, a exemplo do descompasso entre o tempo do cientista e do gestor, além das demandas e o que é pesquisado. "Os políticos precisam de soluções técnicas para questões urgentes. Contudo, eles não apresentam uma agenda do que deve ser pesquisado como acontece na comunidade internacional" salientou.
Houve mudanças políticas no país, conforme Batistella. Foram feitos seminários em Brasília (DF) com gestores, ministros, políticos. Na pauta, os problemas não científicos, que exigiam ação política, uma vez que é "preciso gerir a partir do conhecimento científico". Da mesma forma, Batistella explicou que o pesquisador precisa saber o que o político deseja e ter respostas práticas e subsídios para elaboração de políticas públicas, mas nem sempre é possível.
Para os pesquisadores, a ciência e a política têm que gerar dados para diminuir os impactos da ação humana na floresta Amazônica, o que não é fácil. Isso porque envolve aspectos políticos, econômicos, sociais, institucionais. Ou seja, não há apenas uma resposta para as causas e as conseqüências do desmatamento na Amazônia.
O desmatamento no Pará e Mato Grosso, de acordo com os pesquisadores, é causado pelos grandes fazendeiros. Em Rondônia foi a política de assentamento e os grandes fazendeiros. O reflexo é que "40% do Produto Interno Bruto (PIB) do país são oriundos do agronegócio. Por isso, é preciso agregar tecnologia a novos produtos, criar cadeias produtivas, por exemplo, produtos feitos por extratos da Amazônia. Temos que produzir sem derrubar a floresta", disseram.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que nos últimos dez anos a área para pastagem na Amazônia cresceu 30% e a quantidade de bovinos, 80%. “Isso é bom ou ruim?”, questiona o pesquisador. Ele completou dizendo que, no Brasil, o desmatamento contribui com 50% a 70% das emissões de gases do efeito estufa. "É o grande problema do país", avisou.
Em relação à matriz energética, os pesquisadores salientaram que o Brasil está em uma posição invejável. O mesmo não ocorre em países como os Estados Unidos e China, os quais têm que mudar as matrizes energéticas.
Para Alves, o desenvolvimento sócio-econômico não pode acontecer separado da conservação ambiental. Ele aponta os modelos de ocupação da região por meio de aberturas de estradas. "Não existe uma única resposta para desenvolver a Amazônia e manter a sustentabilidade da floresta. Há pesquisas e respostas produzidas pelo LBA. Há a necessidade de diálogo. Não dá para avançar sem diálogo (geração e aplicação do conhecimento)”.
Luis Mansuêto – Agência Fapeam