Estudo comprova eficiência de plantas no controle de inseto que ataca plantações de citros na região


Um estudo desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) revelou que a manipueira de mandioca (líquido que sai da prensa, no processo de fabricação da farinha de mandioca, apresenta forte odor e, se fervido durante cinco horas vira tucupi) e a erva-de-rato (Palicoure Marcgravii, também conhecido como cafezinho ou vick) são eficientes inseticidas no combate ao pulgão preto de citros, inseto que ataca as lavouras de tangerina, laranja e limão.

A pesquisa foi desenvolvida no Programa Integrado de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais (Mestrado em Agricultura do Trópico Úmido), pela pesquisadora Adriana Dantas Gonzaga, com bolsa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Nos testes de laboratório feitos pela pesquisadora, tanto a manipueira de mandioca quanto a erva-de-rato se mostraram eficientes no combate ao pulgão preto de citros. Esse inseto ataca principalmente os brotos das plantas cítricas, sugando-lhes a seiva, o que provoca o encarquilhamento e atrofiamento das folhas e brotos. Além disso, ele libera uma substância açucarada que permite o desenvolvimento de um fungo negro conhecido como fumagina. O pulgão preto também transmite o vírus da tristeza dos citros em plantas sadias.

De acordo com a pesquisadora, a citricultura do Estado do Amazonas apresenta grande incidência do pulgão preto dos citros. “São insetos que geram anualmente grandes perdas econômicas aos citricultores da região, através dos danos diretos e indiretos”.

Diante desse quadro, a bióloga Adriana Gonzaga se propôs a investigar o potencial de ação inseticida da manipueira de mandioca e da erva-de-rato sobre o pulgão preto em casa de vegetação. O estudo avaliou o grau de mortalidade dos dois extratos feitos à base dessas plantas e constatou que ambos foram eficientes, com uma diferença estatística insignificante do segundo: o extrato da manipueira conseguiu eliminar metade dos insetos utilizados nos testes de laboratório em 33 horas e 42 minutos; a erva-de-rato fez o mesmo efeito em 33 horas e 40 minutos.

Os testes também mostraram 100% de mortalidade dos insetos pela aplicação dos produtos na concentração de 50mg/ml durante as 120 horas de observação. Foram aplicadas concentrações de 10, 20, 30, 40 e 50mg/ml durante os testes. Após 24 horas de aplicação dos extratos observou-se mortalidade de no mínimo 10% dos pulgões pretos em todas as concentrações. “Os testes mostraram que nas concentrações de 10mg/ml todos os insetos morreram em cinco dias de observação”, disse Adriana Gonzaga.

Os testes foram realizados em mudas de tangerinas com idade de três meses, em ensaios via contato e via translaminar. No primeiro teste foram colocados em cada muda, com o auxílio de pincel, dez pulgões adultos, com idade de 10 a 15 dias. Em seguida os vasos com as mudas foram protegidos a fim de evitar a fuga dos insetos e a infestação por outros insetos, e pulverizados com os produtos à base de manipueira e de erva-de-rato. No segundo teste, as mudas foram pulverizadas até o ponto de escorrimento com os extratos e, em seguida, foram repassados dez pulgões para cada muda, na superfície das folhas. Ambos os ensaios foram eficientes, apresentando taxas de mortalidade de 100% no período de observação.

A pesquisa pode contribuir para reduzir os custos de produção de cítricos na região, com o uso de inseticida natural e preço mais acessível. A erva-de-rato, por exemplo, é uma planta encontrada nas bordas das matas, nas capoeiras e em pastos recém-formados. Já a manipueira de mandioca é retirada da massa para a obtenção da fécula ou farinha de mandioca. A maior parte desse produto é inutilizada pelos produtores de farinha de mandioca na região.

A pesquisadora afirma, no entanto, que a eficiência dos extratos de manipueira de mandioca e de erva-de-rato no controle do pulgão preto de citros, verificada em condições de laboratório, precisa ser testada em ensaio de campo, assim como precisam ser investigados o efeito residual e o tempo de carência desses extratos vegetais e os impactos sobre os inimigos naturais (outras espécies de insetos).

 

Valmir Lima – Agência Fapeam

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