Estudo genético do sauim-de-coleira é reconhecido pela SBG
A dissertação de mestrado intitulada “Genética das populações do sauim-de-coleira (Saguinus bicolor-Callitrichidae) em fragmentos florestais e floresta contínua: implicações para conservação”, defendida em 2005, foi reconhecida pela Sociedade Brasileira de Genética com o melhor trabalho desenvolvido no Brasil naquele ano sobre genética da conservação. A dissertação, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais do convênio Ufam/Inpa, é de autoria do pesquisador Wancley Garcia Santos.
A pesquisa foi desenvolvida em três fragmentos de florestas (Cidade Nova, Mata do Sesi e Mata do Campus da Ufam) e em uma floresta contínua (Reserva Florestal Adolpho Duck), todas em Manaus. Wancley concluiu que os sauins-de-coleira têm baixa variabilidade genética e que as populações estão estagnadas nas áreas pesquisadas. Com a ajuda do projeto “Sauim-de-Coleira” da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o pesquisador capturou os animais e retirou amostras para a análise genética.
O mérito da pesquisa está exatamente nos resultados da análise genética dos animais, que produziram informações sobre a possibilidade de translocação dos sauins de uma área para outra para efeito de preservação. “A pesquisa contribui para a preservação dessa espécie, que está na lista dos animais em extinção”, disse o pesquisador. “É considerada a espécie mais ameaçada de extinção entre os calitriquídeos na Amazônia”, observou Wancley.
O sauim-de-coleira também é considerado espécie endêmica da região urbana de Manaus e a população desses animais foi reduzida drasticamente nos últimos anos. “A população humana está tomando o lugar deles. Nós somos os invasores. A cidade de Manaus se instalou no habitat deles”, disse Wancley, em entrevista recente sobre o trabalho.
A constatação de que há pouca variabilidade genética trouxe a segurança de que as populações das diferentes áreas estudadas possam ser translocadas para regiões mais seguras para fazerem cruzamentos, sem o risco de modificações genéticas. “A translocação seria importante também para evitar o cruzamento entre animais da mesma família, o chamado endocruzamento”, disse Wancley. A pesquisa, no entanto, constatou que os sains-de-coleira evitam os cruzamentos em família. “O endocruzamento é ruim porque aumenta a probabilidade de aparecimento de doenças genéticas”, afirmou o pesquisador.
A significativa redução do tamanho efetivo populacional em alguns dos fragmentos de florestas estudados reforça a necessidade de um plano de manejo e conservação da espécie, como sugeriu Wancley no trabalho de mestrado.
De acordo com o pesquisador, historicamente todos esses fragmentos de floresta estudados eram conectados e acredita-se que a população da floresta do Sesi foi exterminada durante a fragmentação, sendo posteriormente repovoada por macacos provenientes do fragmento da UFAM. “É importante conhecer e conservar a diversidade genética das populações de Sauim destes fragmentos porque sua perda pode levar a um aumento do risco de extinção diminuindo o potencial para adaptações futuras”, disse.
O estudo analisou nove marcadores moleculares de microssatélites com o objetivo de determinar os níveis de variabilidade genética de quatro populações de S. bicolor. Amostras de pêlo e pele de 95 indivíduos foram coletadas para a extração de DNA. As genotipagens foram realizadas no seqüenciador de DNA MegaBace utilizando-se o programa Genetic Profiler.
A pesquisa teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Valmir Lima – Decon/Fapeam