Estudo sobre insetos possibilita monitoramento ambiental
Quem, na Amazônia, ainda não foi incomodado por um inseto? Apesar de parecer comum na região, por traz de uma picada aqui outra ali, podem se esconder problemas maiores causados pelo próprio homem. Conhecer as espécies, compreender como vivem e a importância delas para o homem e o meio ambiente é uma das tarefas da pesquisadora Ruth Kepler, do Laboratório de Insetos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
A partir do projeto “Fitotelmatas como criadouros de insetos aquáticos em áreas naturais e urbanas de Manaus, Amazônia Central, Brasil”, que pesquisa insetos que vivem em plantas que acumulam água da chuva no perímetro urbano de Manaus e em áreas de florestas, o grupo, formado pela pesquisadora, alunos de mestrado e da graduação, está conseguindo identificar e mapear a população de insetos que habitam plantas, como as bromélias, bambus, axilas foliares em palmeiras, helicônias, brácteas de palmeira caídas, entre outras, e de compreender a relação destes insetos com o ambiente e o homem.
Segundo Ruth Kepler, fitotelmatas são partes de plantas vivas, mortas e/ou caídas, que ocorrem em várias regiões do mundo, sendo predominantes na região amazônica, devido à diversidade de espécies vegetais e grande quantidade de chuvas. “Esses fatores nos oferecem uma excelente oportunidade para investigar e determinar processos ou interações ecológicas. A maioria da fauna que habita fitotelmata é específica desse ambiente e, na maioria, são insetos”, revela a pesquisadora, lembrando que, atualmente, são conhecidas mais de 70 famílias distribuídas em 11 ordens de insetos da ordem Diptera, principalmente os mosquitos Culicidae.
A pesquisadora destaca que os insetos contribuem de forma significativa com a diversidade das florestas tropicais, atuando em importantes processos como predação, polinização, atividade herbívora, decomposição da matéria orgânica, além de serem fonte de alimento para outros organismos da cadeia alimentar, logo, essenciais para a manutenção do ambiente.
O projeto, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), está sendo executado em seis áreas de fragmentos de mata na área urbana de Manaus: Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs), Ufam, Parque do Mindu, Aeroporto, Sesc, no bairro Campos Elíseos, e Ulbra, no bairro Jappim, e numa área periurbana (reserva florestal Adolpho Ducke), localizada na zona norte da cidade.
O estudo comprovou que essas áreas apresentam características favoráveis ao desenvolvimento de espécies de plantas que servem de habitats naturais para insetos, como Bromélias (Bromeliaceae), babaneira-brava (Strelitziaceae), tajás (Araceae) e palmeiras (Arecaceae). Estas plantas fazem parte do objeto da pesquisa por terem ampla distribuição na região amazônica, sendo abundantes em áreas naturais de floresta e em fragmentos de mata.
O avanço do perímetro urbano da cidade de Manaus para áreas rurais nos últimos anos é um dos fatores que contribuem para transformações ambientais sob o ponto de vista ecológico, no qual a substituição da floresta por casas constitui perda da diversidade da fauna e da flora. No aspecto epidemiológico, a ação do homem representa uma ameaça à saúde das populações que vivem próximas às matas, devido à presença de insetos vetores de doenças. “A influência da urbanização sobre populações de insetos ainda é pouco estudada, mas, certamente, existe a possibilidade de domiciliação de espécies silvestres. Desse modo, há que se levar em consideração a adaptação das formas imaturas de mosquitos, por exemplo, que utilizam diferentes ambientes aquáticos naturais, desde os rios e lagos até pequenos recipientes como fitotelmatas, distribuídos em áreas naturais, urbanas e florestadas”, esclarece Ruth.
Descobertas
Por meio das coletas e da associação dos insetos a fitotelmatas, o estudo já conseguiu identificar, por exemplo, as quantidades de insetos que vivem em determinadas espécies de plantas, números que ficam em torno de 30 mil insetos em 60 palmeiras de Butitis, 15 mil em 144 bromélias e 17 mil insetos em 12 bananeiras, sendo algumas dessas espécies usadas hoje na decoração de jardins.
Outro dado da pesquisa aponta que o crescente desmatamento ao longo das rodovias, ramais e cursos d’água e o uso indevido dos recursos hídricos na Amazônia Central também podem afetar as comunidades de insetos associadas aos mais variados tipos de fitotelmatas. “Esses impactos provocados pelo homem podem gerar sérias conseqüências ambientais, como a destruição de habitats e microhabitas, a perda da biodiversidade local, além do aumento de artrópodos, vetores de patógenos humanos, ou seja, mosquitos transmissores de doenças”, diz a pesquisadora.
Nesse sentido os pesquisadores detectaram a presença de espécies de mosquitos de importância médica como os maruins e mosquitos dos gêneros Aedes, Sabethes e Haemagogus que são vetores de diversos arbovírus, como o da dengue e o da febre amarela silvestre.
A partir dos resultados, o grupo pretende repassar informações à população, por meio de folderes e cartilhas, com orientações sobre a interação de insetos e plantas comuns em jardins, por exemplo, e sobre a importância de não destruir o meio ambiente. “A idéia é traduzir os resultados e descobertas em linguagem simples e acessível à sociedade, sem a perda do rigor científico”, finaliza.
Ulysses Varela – Agência Fapeam