Estudo sugere que a presença ou ausência do HPV no câncer de cabeça e pescoço apresenta heterogeneidade entre as regiões geográficas


Um estudo científico indicou que embora evidências apontem que a infecção por Papilomavírus Humano (HPV) esteja associada ao desenvolvimento de um subgrupo de cânceres de cabeça e pescoço, particularmente de orofaringe, fatores de risco clássicos, como o consumo de tabaco e álcool, por parte da população brasileira, ainda parecem ser a principal causa relacionada à ocorrência desses tumores malignos, em países em desenvolvimento como o Brasil.

Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), um grupo de pesquisadores de Manaus (AM) e Araçatuba (SP) investigou a presença do HPV em tumores de pacientes com câncer na cavidade bucal e orofaringe. 

O projeto “Detecção do HPV através da real time PCR e Linear array em pacientes com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço” foi concluído em dois anos e, desenvolvido na Faculdade de Odontologia do Campus de Araçatuba (FOA-Unesp), por meio do Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas (RH-Mestrado – Fluxo Contínuo), edital Nº 001/2015, da Fapeam. Recentemente o trabalho foi aceito para publicação na revista European Journal of Cancer Prevention. 

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Estudo foi apoiado pela Fapeam no âmbito do RH-Mestrado

Para observar a correlação entre o HPV e o câncer de cabeça e pescoço foram colhidas amostras biológicas provenientes de biópsias da cavidade bucal e de orofaringe de 36 pacientes, com idades entre 21 e 88 anos com suspeita de câncer.

As amostras foram obtidas no Centro de Oncologia Bucal (COB), uma unidade auxiliar da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), responsável pelo diagnóstico e tratamento de pacientes com tumores de cabeça e pescoço da cidade de Araçatuba (SP) e regiões próximas.

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Pesquisa foi realizada por pesquisadores de Manaus e Araçatuba

De acordo com a pesquisadora, Ingrid da Silva Santos, nenhuma das amostras analisadas demostrou positividade para o HPV-16 e para outros 37 genótipos do vírus. Por esse motivo, o achado sugere que o desenvolvimento deste tipo de câncer, nesta população, esteja ainda fortemente relacionado a hábitos de vida como o consumo de fumo e álcool.

“A ausência do HPV nesse estudo adiciona mais uma evidência, uma vez que outros estudos mostraram resultados semelhantes, de que existe baixa prevalência de cânceres de cabeça e pescoço associado ao vírus, pelo menos nessa população-alvo estudada. No entanto, estudos envolvendo maior amostragem de populações específicas são necessários para que os dados possam ser extrapolados”, disse Ingrid Santos.

A pesquisadora alerta ainda, que embora nessas amostras, os resultados tenham sido negativos para o HPV e câncer de cabeça e pescoço, altas taxas de câncer cervical (de colo do útero) são causados por HPV no Brasil, especialmente no estado do Amazonas. Por isso, ela enfatiza a importância da vacinação para prevenir esse e outros tipos de cânceres causados pelo HPV.  

Os pesquisadores combinaram dois métodos específicos para detectar a prevalência da infecção por HPV entre os pacientes. A primeira foi a reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real através de ensaio qualitativo de presença ou ausência do HPV-16 e, a segunda foi pelo Linear Array®, que detecta 37 tipos de HPV.

Carcinoma espinocelular

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Pesquisadora, Ingrid da Silva Santos, na defesa da dissertação.

Mais de 90% dos cânceres de cabeça e pescoço são do tipo espinocelular também chamados de carcinomas de células escamosas (CEC) ou epidermoides, e afeta regiões como boca, que envolve regiões como: lábio, língua, assoalho, mucosa jugal (bochechas), palato duro (céu da boca) e gengivas. Além disso, o câncer de orofaringe também faz parte do subgrupo de câncer de cabeça e pescoço e afeta locais como:  palato mole, a base da língua, as tonsilas palatinas e a parede posterior da faringe. 

As características clínicas desse tipo de câncer são variáveis, mas a clássica inclui a presença de úlcera (ferida) que não cicatriza em um período aproximado de 15 dias. No início, a úlcera não manifesta qualquer sintoma, mas em estágios mais avançados começa a apresentar dores. Outras características que podem estar relacionadas a possível presença de um CEC na boca e que devem ser investigadas são: nódulos ulcerados, regiões vermelhas ou esbranquiçadas em alguma localização da boca, incluindo o lábio (especialmente o inferior), dificuldades para mastigar ou mover a língua.

Programa de bolsas

O Programa RH-Mestrado foi substituído pelo Programa de Bolsas de Pós-Graduação em Instituições fora do Estado do Amazonas (PROPG-Capes/Fapeam), que concede bolsas de mestrado e doutorado a profissionais interessados em realizar curso de pós-graduação stricto sensu, em cursos recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em outros Estados da Federação.

Por: Helen de Melo

Fotos: Acervo da pesquisadora Ingrid da Silva Santos

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