Exploração do trabalho infantil vem desde o período áureo da borracha


05/07/2011 – Um estudo realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), pela pesquisadora Alba Barbosa Pessoa, revela que crianças de até 14 anos de idade eram exploradas sem remuneração durante o ciclo da borracha no Amazonas.

A pesquisa intitulada ‘Infância e trabalho: dimensões do trabalho infantil na cidade de Manaus, 1890/1920’ teve por objetivos mostrar o lugar ocupado pelas crianças no mundo do trabalho durante o período áureo da borracha e verificar como se procedeu essa exploração. O estudo teve financiamento do Programa Institucional de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu (Prograd) da Fundação Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

A pesquisadora que é mestra em História pela Ufam, afirmou que, durante esse período, Manaus passou por grandes transformações de infraestrutura e sociais. Com o avanço da economia, formou-se a classe trabalhadora e junto dela a força de trabalho infantil que era absorvida por fábricas e pequenos comerciantes.

“Elas trabalhavam nos mais diversos lugares exercendo as mais diversas atividades. No comércio eram vistas nos bares, nas fábricas de cigarros, fábricas de charutos, nas mercearias, nas lojas de confecções, nas alfaiatarias, nas tipografias, nas serrarias, fábricas de chapéus, oficinas de fogos de artifícios, nas ferragens, e outros”, observou.

Menores executam longas jornadas de trabalho vspace=10

Segundo Pessoa, nesses estabelecimentos os pequenos trabalhadores exerciam longas jornadas de trabalhos realizando tarefas árduas e estavam sujeitos a frequentes acidentes de trabalhos e a maus-tratos. “Os jornais do período noticiam menores morrendo em explosões de oficinas pirotécnicas, acidentes com balas de espingardas nas lojas de ferragens, casos de espancamentos, dentre outros acidentes”, ressaltou.

A pesquisadora disse ainda que a força de trabalho dos menores não se restringia aos locais mencionados. Ela era utilizada nas residências onde exerciam a função de empregados domésticos, realizando diversas tarefas sem remuneração. “Nesse período havia mecanismos legais possibilitando esse tipo de exploração”, ressalta a pesquisadora.

Manaus e o movimento operário

Segundo Pessoa, durante esse período, em Manaus, assim como nas demais cidades brasileiras, o movimento operário era muito atuante.  As jornadas de trabalho eram extensas, chegando até a 14 horas sem descanso semanal. “As condições de trabalhos eram péssimas e os salários irrisórios. Organizados em associações, sociedades, agremiações ou outras entidades, a classe trabalhadora manauara já lutava por melhorias desde a segunda metade do século XIX”, disse.  

Pesquisa quer despertar a reflexão

Para a pesquisadora, o estudo possibilita a  reflexão e o questionamento sobre as atuais condições de vida em que se encontram as crianças de nossa época para que a partir disso possam ser implementadas ações sociais voltadas exclusivamente para esse segmento.

Apoio da FAPEAM

“A FAPEAM é de extrema importância para a produção de conhecimento no Amazonas”. Pessoa afirmou que qualquer processo de pesquisa envolve tempo e gastos e, em razão disso, a maioria dos estudantes só consegue realizar suas pesquisas a partir da concessão de bolsas de estudos.

“No meu caso, ainda que licenciada das funções da docência, sem a bolsa de estudos não teria conseguido concluir a pesquisa. A obtenção de recursos tecnológicos tais como máquina fotográfica, impressora, computador, além das despesas diárias, só foram possíveis com o auxílio da bolsa”, afirmou.

Sobre o Prosgrad

O Programa Institucional de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu (Posgrad) consiste em apoiar, com bolsas de mestrado e doutorado, e auxílio financeiro, as instituições localizadas no Estado do Amazonas que desenvolvem programas de pós-graduação Stricto Sensu credenciados pela Capes.

Foto2: Dissertação/Alba Barbosa Pessoa

Sebastião Alves – Agência FAPEAM

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