Extração tradicional de óleo de andiroba pode desaparecer
A extração do óleo de andiroba foi descrita pela primeira vez em 1775, pelo francês Jean Baptiste Christian Fusée-Aublet. Três séculos após o relato, o processo sofreu poucas alterações, mas daqui pra frente é provável que a extração, tal qual é praticada hoje, seja encontrada somente em livros. Baseado na oralidade e nas observações, o conhecimento tradicional da atividade pode desaparecer, já que sua transmissão não está sendo repassado às novas gerações.
Pesquisa realizada nos municípios de Anamã, Manacapuru e Silves revela que as mudanças sociais combinadas à praticidade e eficiência de outros métodos como a prensa têm contribuído para a perda do conhecimento do processo tradicional de extração do óleo em algumas comunidades.
Baseado nos relatos das extratoras, o estudo diz que os jovens não têm interesse em aprender um processo tão longo e trabalhoso, dividido em três etapas: coleta e seleção das sementes; preparação da massa e extração do óleo; a atividade pode durar cerca de dois meses.
O isolamento geográfico das comunidades faz com que a divisão técnica e social do trabalho seja, no geral, reduzida a uma família que domina todo o processo até o produto final. As extratoras lamentam que o conhecimento esteja se perdendo. Elas relatam casos de comunidades mais afastadas, com grande produção de sementes de andiroba, mas sem ninguém com domínio do processo de extração.
O estudo “Óleo de andiroba: processo tradicional da extração, uso e aspectos sociais no estado do Amazonas, Brasil”, de Andreza Mendonça e Isolde Dorothea Kossmann, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) entrevistou 38 mulheres nos três municípios em 1992 e 2004.
Em comparação com a exploração madeireira, a coleta das sementes precisa de pouco investimento e, além de não ser destrutiva, a produção do óleo pode assegurar um bom retorno econômico para a população local.
De acordo com o levantamento, cerca de 450 sementes da espécie Carapa guianensis produzem de um a cinco litros de óleo puro. A variação de rendimento é atribuída às diferenças no procedimento de extração em todas as etapas.
As pesquisadores perceberam a necessidade de orientar as extratoras em relação à atividade para um melhor aproveitamento da semente e da extração. Em alguns casos, observou-se a formação de fungos nas sementes, o que pode prejudicar a qualidade do produto final.
Além do artigo, publicado na revista Acta Amazônica do INPA, Andreza e Izolde elaboraram o livreto ilustrado “Extração tradicional do óleo de andiroba”, sobre o processo de extração. A publicação de 28 páginas tem o objetivo de apoiar a transmissão do conhecimento tradicional e está a venda na Editora do INPA.
Sobre a obra
“Óleo de andiroba: processo tradicional da extração, uso e aspectos sociais no estado do Amazonas, Brasil”
Autoras: Andreza P. Mendonça e Izolde Dorothea Kossmann (INPA)
Programa: Edital CT Amazônia do CNPq
A primeira autora Andreza Mendonça recebeu em 2007 um apoio da FAPEAM para apresentar parte dos resultados no IV Congresso de Oleaginosas em Varginha MG.
Andréia Mayumi – Agência Fapeam