FAPEAM: uma conquista de todos


04/02/2013 Natural do Alto Careiro (distante 102 quilômetros da capital), José Aldemir de Oliveira tem 59 anos e atuou como professor na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Veio estudar em Manaus, onde se formou em Geografia. Ingressou na Ufam, em 1985, como professor colaborador e, três anos mais tarde, entrou para o quadro efetivo.

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Ao longo de sua carreira, dedicou-se ao magistério desde a década de 1970. Fez pós-graduação em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP), e deu início ao mestrado em 1990. Em apenas um ano, migrou direto para o doutorado. Ao final, retornou para a Ufam. Nesta entrevista à Agência FAPEAM, Oliveira fala como foram os primeiros anos à frente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), das dificuldades de implantação e o que significou para os pesquisadores do Amazonas a implantação da Fundação.

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Agência Fapeam – Como era o cenário de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) no Amazonas quando o senhor foi nomeado?

José Aldemir de Oliveira – Tínhamos uma instituição responsável pelo financiamento científico e formação de recursos humanos (RH) para a área de pesquisa. Contudo, não havia uma instituição que coordenasse os respectivos projetos de formação, no caso de concessão de bolsas e financiamento de pesquisa no estado. Significa que a criação da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e da FAP foi fundamental como política pública, uma vez que a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) não tinha esse suporte. Saímos de zero de financiamento, no primeiro ano, e alcançamos cerca de R$ 6 milhões. A partir de então, o crescimento do orçamento foi sucessivo.

Agência Fapeam – Como o senhor se sentiu ao ser escolhido para dirigir a FAP do Amazonas? A que atribui à escolha?

José Aldemir de Oliveira – Primeiro, vale ressaltar que havia um movimento de pesquisadores para a implantação da FAPEAM, que tinha sido objeto de inserção na Constituição do Estado em 1988 e ano anterior. No mês de junho, o então governador sancionou a lei de criação de estruturação da FAP. O governador Eduardo Braga tinha se comprometido de que o setor de tecnologia seria ocupado por pessoas ligadas à área. Não tinha nenhuma participação política e fiquei surpreso quando ele foi à aula inaugural do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), da Ufam, onde ministrava aulas. Na ocasião, chamou-me para dizer que assumiria.

Sempre fui professor e pesquisador, não tinha experiência em gestão. Contudo, entendi que o momento era propício para dar minha contribuição a alguém que sempre atuou em instituição pública, é amazonense, encontrou a oportunidade de construir uma instituição forte e que se prestasse ao que faz até hoje: financiar pesquisas e fomentar capacitação de recursos humanos. A FAPEAM é um divisor de águas à ciência do Amazonas. Ela se consolidou desde cedo como uma instituição forte e orgulha-se em dizer que não há outro critério na seleção de projetos que não seja a meritocracia, o que é fundamental para ter o respeito dos pesquisadores.

Agência Fapeam – Como encontrou a FAPEAM? Qual foi o maior desafio?

José Aldemir de Oliveira – Não encontrei a FAPEAM. Ela não existia. Nos meses de março e maio, período de aprovação do regimento, tivemos a primeira reunião do Conselho Superior. A FAP existia apenas no meu notebook. Como o ex-governador Eduardo Braga conhece sobre ciência e tecnologia, por transitar na área, dialogava e discutíamos projetos, etc. Contamos também com uma equipe de pessoas da universidade, de instituições de pesquisa que nos ajudaram. Primeiramente, foi voluntário porque demoramos a estruturar o quadro de pessoal. Não havia sede, regimento, literalmente, começamos do zero. Contudo, preparamos os primeiros editais e conseguimos alocar bolsas. Lembro-me que o Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da Ufam me procurou porque naquele ano ele tinha 16 professores no doutorado sem bolsas. Ou seja, havia uma demanda reprimida, principalmente, bolsas de mestrado e doutorado. Entretanto, com o apoio do governo do estado, passamos a colocar o dinheiro na mão do pesquisador. Foram passos simples que demos para chegar ao arcabouço legal. O processo foi discutido com a Procuradoria Geral do Estado (PGE), Secretaria da Fazenda (Sefaz). O trabalho foi árduo, especialmente nos anos de 2002, 2003 e 2004.

Agência Fapeam – Qual foi o primeiro ato enquanto diretor-presidente?

José Aldemir de Oliveira – A primeira proposta foi a elaboração de um banco de dados, a qual contou com a ajuda do professor Vandick Batista. Ele teve um papel relevante nos 10 anos da FAP, por entender muito de informática. Vale ressaltar que ele nunca quis ocupar um cargo na Fundação. Fomos ao palácio levar a proposta e tratava-se da segunda audiência com o governador, que sempre atendeu com bastante atenção. No primeiro encontro, nos foram passadas as linhas gerais da instituição. Os primeiros financiamentos destinaram-se à concessão de bolsas e a realização de um evento científico na área de genética, em 2003, organizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). A pesquisadora responsável pelo evento foi paciente e compreensiva porque o financiamento só chegou depois da sua realização. Mesmo assim, fui convidado pela professora para a mesa de abertura e até hoje, quando a encontro, agradeço. Ela poderia ter sido extremamente crítica, mas ocorreu o contrário. Os pesquisadores foram compreensivos porque entendiam nossos propósitos.  Hoje, quando olham para a FAP, as pessoas não imaginam as dificuldades pelas quais passamos, uma vez que não sabíamos lidar com a burocracia do estado. Quase que dobramos nossas primeiras execuções, em 2004, quando comparadas com as de 2003.

Agência Fapeam – Como o senhor avalia hoje o aumento do volume de programas e recursos destinados à ciência no Amazonas?

José Aldemir de Oliveira – Creio que é uma área que sempre existe uma necessidade em termos de financiamento. O fato de podermos acessar a FAP nos possibilita criar condições de acessarmos as instituições de fomento federais, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Diria como pesquisador que os recursos são os que necessitamos. Mas como dirigente de uma instituição de ensino, digo que ainda faltam recursos. Temos um grande potencial, especialmente na UEA, com novos professores no interior. Significa que temos que ampliar esse leque. Entretanto, é necessário que tenhamos claro que se trata de uma instituição pública e que tem todos os entraves burocráticos. Mas vejo a FAPEAM como um divisor de águas, entre o que éramos em 2002 e o que somos em 2012 e 2013.

Agência Fapeam – Fale sobre a importância da FAPEAM hoje para as Instituições de Ensino Superior (IES), em especial, a UEA.

José Aldemir de Oliveira – Ela é fundamental. Existem alguns programas nossos, que não executaríamos se não fosse o aporte da FAPEAM. Há algumas políticas públicas de estado, por exemplo, na área de formação de recursos humanos para a saúde, que sem o concurso da FAPEAM, teríamos muita dificuldade de fazer, isso desde 2003, quando iniciamos. Portanto, entendo que a FAP não tem que privilegiar instituições, temos que ser suficientemente competentes para concorrermos por todas as instituições. Mas, sem dúvida nenhuma, a UEA tem se beneficiado significativamente dos aportes.

Ulysses Varella – Agência Fapeam

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