“Fazer educação no Amazonas é um desafio”, diz reitor do Ifam, Antônio Venâncio


Servidor público por mais de 20 anos, egresso da extinta Escola Técnica Federal do Amazonas (Etfam) e professor, o recém-empossado reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), Antônio Venâncio, expos à Agência FAPEAM quais serão as metas e os principais desafios ao longo da gestão pelos próximos quatro anos. Ele será o responsável por garantir o acesso à educação profissional e tecnológica de 20 mil alunos que atualmente fazem parte do corpo discente da instituição, além da interiorização do Instituto para o interior do Estado.

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Na entrevista à Agência FAPEAM, o reitor disse os desafios de se fazer educação em um Estado com as distâncias geográficas como o Amazonas, a importância da educação profissional para promoção de um novo modelo de desenvolvimento e ressaltou as parcerias com a indústria para inserção dos jovens no mercado de trabalho. Confira:

Agência FAPEAM: O senhor foi eleito com 3.237  votos com a missão de comandar cerca de 20 mil alunos e 15 campus no Amazonas. Qual é a meta da sua gestão?

Antônio Venâncio: Verificamos como meta maior ao longo deste período em que estamos pré-dispostos a atuar a consolidação do Instituto como instituição de Ensino, comprometido com o ensino, a pesquisa, a extensão e a interiorização da educação tecnológica e profissional no Amazonas.

AF: Ao longo da história do Ifam, o Instituto já foi Escola Técnica Federal do Amazonas (Etfam), Escola Agrotécnica e Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas (Cefet). O que mudou ao longo deste período?

Antônio Venâncio: Atualmente, a rede federal soma 106 anos de história da educação profissional e tecnológica. Em 1909, ano de criação da rede, tínhamos uma concepção das escolas de aprendizes artífices. Ao longo desse tempo, essas instituições tiveram várias denominações e, em 2008, a partir da promulgação da Lei 11.982, foi formatada um novo ente educacional para o Brasil. Neste ano, vimos surgir a figura dos institutos federais que nascem a partir da fusão de outras autarquias.

No Amazonas, o Ifam nasceu da fusão de três autarquias: o Cefet, a Escola Agrotécnica Federal de Manaus e a Agrotécnica Federal de São Gabriel da Cachoeira. Com a criação dessa nova instituição, houve uma somatória de experiências de cada autarquia, seja no setor primário ou na questão industrial, diversos cursos de Graduação foram criados. Atualmente, o Ifam é um ente que atua na formação profissional e continuada até a Pós-Graduação (lato e strictu sensu).

AF: O senhor é egresso da Escola Técnica Federal do Amazonas, foi pró-reitor de Ensino e de Desenvolvimento Institucional e é servidor público há mais de 20 anos. Como esta trajetória pode auxiliar na gestão como reitor do Instituto?

Reitor foi eleito, em 2014, com 3.237 mil votos. (Foto: Assessoria Ifam

Reitor foi eleito, em 2014, com 3.237 mil votos. (Foto: Assessoria Ifam)

Antônio Venâncio: Iniciamos na Instituição como alunos. Sou egresso da antiga Escola Técnica, saudosa Etfam, e logo depois fomos à Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e retornamos à Etfam como professor.

A partir do nosso trabalho como professor, passamos por diversos cargos no âmbito da instituição. Gerente de curso, diretor acadêmico, vice-diretor geral, e, após a criação dos Institutos Federais, assumi duas pró-reitorias. Ao longo desse período, passamos a conhecer a máquina administrativa e, em função dos cargos, adquiri experiência na gestão. Considero (esta experiência) como positiva para propiciar uma condução mais conjunta, colegiada e sistêmica do Ifam.

AF: Além das unidades acadêmicas, o Ifam possui um centro de referência em Iranduba. Qual objetivo desse centro e qual será o foco das atividades ao longo da sua gestão?

Antônio Venâncio: O Ministério da Educação regulamenta quais os procedimentos, a metodologia de criação de novas unidades e campis que constituem os institutos. O trabalho inicial se dá através de um Centro de Referência e o Instituto tem autonomia para criação dos centros.

O município de Iranduba faz parte da Região Metropolitana de Manaus (RMM) e é constituído de diversas comunidades, com arranjo produtivo definido e com uma demanda para a educação profissional.

O Centro de Referência iniciou suas atividades em 2014, a partir de uma parceria com a Prefeitura de Iranduba. Os trabalhos ainda estão no estágio inicial, mas muito em breve queremos dotá-lo de infraestrutura para promoção da oferta de cursos, que já vem acontecendo, mas que serão ampliados para chegarmos à implantação e consolidação de um campus do Ifam no município.

AF: O Instituto oferece cursos desde a Educação Básica, até o Ensino Superior de Gradução e Pós-Graduação. Atualmente, quantos cursos de Pós-Graduação são oferecidos nas unidades do Amazonas e qual perspectiva para aumento desta oferta ao longo da sua gestão?

Antônio Venâncio: A Instituição é pluricurricular e multicampi. Hoje, os cursos de Graduação estão concentrados na capital porque a consolidação dos campis no interior é recente. Mas, queremos entrar em processo de expansão desses cursos para o interior do Estado.

A Instituição possui três cursos em nível de Pós-Graduação que são desenvolvidos entre a capital e o interior. Temos dois Mestrados próprios, além de uma dezena de Mestrados conveniados com outras instituições, e dois Doutorados com instituições parceiras, além do ‘Ciência sem Fronteiras’.

Há um esforço conjunto para que o Ifam venha ampliar seus cursos de Graduação, mas também para consolidarmos a Pós-Graduação. Queremos ofertar novos Mestrados para credenciar a instituição para construção de um Doutorado próprio. Sem falar dos cursos técnicos, que temos dezenas, que atendem os municípios do interior do Amazonas e têm o padrão federal de ensino.

AF: Com a escassez de recursos humanos qualificados no Brasil, os cursos técnicos se tornaram aliados das empresas. Atualmente, o Ifam oferta Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Qual a importância da oferta da educação profissional, principalmente para o interior do Estado?

Educação profissional é a responsável pela promoção de um novo modelo de desenvolvimento para o Amazonas, segundo reitor. (Foto: Assessoria/Ifam)

Educação profissional é a responsável pela promoção de um novo modelo de desenvolvimento para o Amazonas, segundo reitor. (Foto: Assessoria/Ifam)

Antônio Venâncio: Acreditamos que a educação profissional é a responsável pela promoção de um novo modelo de desenvolvimento para o Amazonas. Visualizamos a educação profissional e trabalhamos isso de uma forma que possamos ter um sistema integrado de desenvolvimento e sustentabilidade do Estado.

Isso se dá porque os cursos de educação profissional implantados estão em harmonia com os arranjos produtivos locais. Então, se atuamos com cursos na capital, é porque a instituição garante a empregabilidade dos egressos.

No interior, temos buscado a inserção desses alunos e, em função disto, antes da criação dos cursos trabalhamos uma pesquisa de metodologia da economia regional e depois realizamos uma audiência publica para discutirmos com os diversos segmentos as demandas do município. Ao final deste processo é que o Instituto gera a formatação dos projetos pedagógicos de cursos que serão implantados em cada município.

A garantia é que os alunos, uma vez formados, possam ser inseridos nos arranjos produtivos locais, não só da sede do município, como do seu entorno. Que eles possam contribuir significativamente para o desenvolvimento da região.

AF: Há parceria com empresas para inserir estes jovens no mercado de trabalho?

Antônio Venâncio: O Ifam detém parceria com centenas de empresas na capital e no interior e houve uma crescente na oferta no âmbito da construção civil. É muito comum encontrarmos dezenas de egressos do Ifam nas empresas do Distrito Industrial, quer seja com formação na área industrial ou nos demais segmentos que constituem a economia local.

AF: Atualmente, quantos servidores compõem o corpo administrativo do Instituto e há quantos docentes no quadro da instituição? Esse número é suficiente para a demanda?

Meta do reitor é ampliar o quadro de servidores e docentes ao longo dos próximos quatro anos. (Foto: Assessoria /Ifam)

Meta do reitor é ampliar o quadro de servidores e docentes ao longo dos próximos quatro anos. (Foto: Assessoria /Ifam)

Antônio Venâncio: A instituição vem num processo de crescimento, estamos em um programa de crescimento do Governo Federal e aí surge a necessidade da contratação de servidores para constituir o quadro. Isso se dá através do concurso público. Recentemente realizamos um concurso público, com 550 vagas. Hoje, temos 848 técnicos administrativos e 789 docentes. Mas, muito em breve, teremos dois mil servidores no Ifam uma vez que em função da nomeação dos aprovados no concurso público.

Verificamos a existência de uma demanda reprimida gigantesca. Teríamos que ampliar tanto a estrutura física, e isso passa pela criação de outras unidades, e a ampliação do quadro de profissionais, porque, hoje, trabalhamos com a proporção de um servidor/docente para cada 20 alunos. Para atender a demanda, o número de servidores teria de dobrar. Nós esperamos, ao longo do próximo quadriênio, expandir esse quadro.

AF: Em 2011, o Governo Federal criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) para expansão, interiorização e democratização da oferta de cursos de educação profissional e tecnológica no País. Como o Ifam tem atuado para garantir a interiorização e a democratização da oferta de cursos de educação profissional e tecnológica no Amazonas?

Antônio Venâncio: O Amazonas é atípico dos demais Estados. Fazer educação no Amazonas é um desafio. Quando falamos de interiorização, o Instituto vem cumprindo este trabalho. Ao longo de muito tempo nos detivemos na capital, mas hoje temos 13 unidades no interior do Estado. Esperamos, cada vez mais, garantir o acesso e a permanência de alunos que estavam numa linha que tornava muito difícil o acesso à educação profissional, em situação de risco social. Temos alunos que ingressaram no Pronatec e que, hoje, estão no mercado de trabalho. É desta forma que verificamos que a educação profissional age como transformação social.

AF: Diante de tudo que foi dito, qual será o maior desafio da sua gestão?

Antônio Venâncio: O maior desafio da nossa gestão de uma forma geral é consolidar o Instituto como um espaço privilegiado de construção, socialização e democratização do conhecimento. Quando falamos disso, falamos especialmente da interiorização. Quanto à expansão, hoje estamos em regiões de difícil acesso, como em Eirunepé, distante a 15 dias de barco da capital, temos unidades no médio Purus, em Lábrea, São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro, em Tabatinga, numa região de tríplice fronteira. Então, a diversidade geográfica do Estado é uma grande fragilidade para expansão da educação profissional. Mas, acreditamos que, até porque somos oriundos do interior, estamos fazendo um trabalho para que a Educação possa chegar a essas regiões.

Nós queremos trabalhar a interiorização de uma forma completa, que possa garantir a educação àqueles que atuam e moram nos municípios, queremos garantir uma unidade do Instituto nas calhas dos rios no Amazonas e não só preocupados com a Educação, mas com a permanência dos servidores que estão nessas regiões e que carecem de um apoio, de um plano de capacitação e de um trabalho do Ifam para que a Educação tenha a qualidade do padrão federal que o Instituto sempre desenvolveu.

E, acima de tudo, a profissionalização da gestão. A instituição tem de dar um salto. Temos de trabalhar para que o Ifam venha a contribuir significativamente para construção do conhecimento no Estado, pesquisa aplicada, buscar sentido para o Ensino, e a consolidação do Ensino e da pesquisa.

Camila Carvalho – Agência FAPEAM

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