Ferrovia é opção para substituir BR-319, dizem especialistas


Os participantes da mesa-redonda “Recuperação da BR-319 x Ferrovia – Um debate sócio-ambiental necessário e urgente” foram unânimes em dizer que a construção de uma ferrovia é alternativa para o desenvolvimento da Amazônia. Além de praticamente inviabilizar a ocupação desordenada das áreas do entorno do trecho a ser construído, evita o desmatamento de grandes áreas de floresta, conseqüentemente, diminui a emissão de gases do efeito estufa para a atmosfera, além da grilagem de terras. Apesar do visível benefício da ferrovia, os membros levantaram uma questão: não há estudos relacionados ao assunto e é algo que precisa ser feito.
A mesa-redonda aconteceu nesta segunda-feira, pela manhã, na sala de seminários da biblioteca do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e foi organizado pela Coordenação de Extensão (Coxt/Inpa) e pela Associação dos Pesquisadores (Aspi). O debate contou com a participação do secretário de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS), Virgílio Viana, do cientista Philip Fearnside, da Coordenação de Pesquisas em Ecologia (CPEC/Inpa), de Marcos Mariani, representante da ONG Preserva Amazônia, e do representante do Fundo de Estratégia e Conservação (CSF, sigla em inglês), Leonardo C. Fleck.

Mariani disse que o bom exemplo para a Amazônia é a estrada de ferro que faz o percurso entre Curitiba e o porto de Paranaguá, no Paraná, construída em 1860. A ferrovia transporta, até hoje, 30% da mercadoria que chega ao porto, as pessoas que utilizam o trem, além de causar menos impactos ao meio ambiente. “É visível que a utilização de ferrovias é a alternativa mais viável. Elas podem ser uma opção para o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC)”, enfatizou.

Segundo o secretário da SDS, Virgílio Viana, a reconstrução da estrada não é um fato consumado, apesar de ser algo difícil de ser revertido. Mas depende da mobilização da sociedade. “O governo do Estado está aberto às discussões sobre alternativas. Por isso, é preciso apresentar propostas. O processo envolve componentes científicos, tecnológicos, econômicos e políticos. Talvez o político seja o mais forte. Contudo, a maior arma são os dados sobre os prós e contra da construção da rodovia. É preciso aproveitar o momento”, afirmou Viana.

Durante a apresentação, o secretário apresentou números comparativos sobre o desmatamento e emissão de gás carbônico (CO2) até 2050, com e sem a rodovia. Com a estrada o desmatamento ficou em torno de 34%; sem a estrada, apenas 7%. “O objetivo é saber qual a melhor alternativa do ponto de vista ambiental, social e econômico. O ideal é consultar os estudos feitos pelo Inpa”, destacou Viana, acrescentando que é necessário melhorar a ligação com o Sul do país, que é o principal mercado do Pólo Industrial de Manaus (PIM).

O cientista Fearnside, em sua apresentação: “Considerações sobre a proposta de uma ferrovia entre Porto Velho e Manaus”, disse que a rodovia ligaria Manaus ao arco do desmatamento, onde são comuns invasões de terras, grilagem e mortes. Ele alertou que os problemas poderiam se espalhar para outros locais da Amazônia, bem como a migração. E  citou o caso da estrada de Ferro Carajás, que faz o percurso entre Maranhão e Pará. “A ferrovia causou vários danos ao meio ambiente no centro do Pará. Contudo, entre a rodovia e a estrada de ferro o melhor é a ferrovia”, ressaltou.

Em relação à migração para Manaus, Fearnside lembrou que estão planejadas construções de hidrelétricas no rio Madeira. A obra vai exigir cerca de 20 mil trabalhadores, os quais serão demitidos no final da obra, em 2012. “Eles não vão querer ficar desempregados em Porto Velho. A primeira opção será Manaus. Isso porque a cidade é uma das mais ricas do país. Fica em terceiro lugar no rank nacional. Tem o dobro da renda per capta de Rondônia e quatro vezes a do Maranhão”, informou.

Luís Mansuêto – Agência Fapeam

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *