Frequência de infecções fúngicas em pacientes com doenças hematológicas são avaliadas em estudo científico
A incidência de infecções fúngicas, principalmente, no ambiente hospitalar pode representar uma das principais complicações infecciosas no quadro de pacientes hospitalizados com baixa imunidade, podendo até ser mortal em alguns casos. Uma pesquisa apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) buscou caracterizar a nível molecular espécies de fungos isolados de processos infecciosos de pacientes atendidos na Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (FHemoam).
A pesquisa é resultado da dissertação de mestrado de Lucyane Mendes Silva, que contou com bolsa da Fapeam, por meio do projeto intitulado “Epidemiologia molecular de Staphylococcus epidermidis multirresistentes” coordenado pelos pesquisadores Cristina Motta Ferreira (FHemoam) e William Antunes Ferreira da Fundação da Fundação Alfredo da Matta (Fuam) no âmbito do Programa de Apoio à Pesquisa (Universal Amazonas) edital N°030/2013.
O estudo publicado na Biomedicentral (BMC public health) avaliou 162 pacientes com o objetivo de conhecer a frequência dessas doenças e seus respectivos agentes etiológicos, como o perfil de suscetibilidade a drogas antifúngicas das espécies isoladas, a verificação de possível correlação com os dados clínicos, os diferentes genótipos circulantes e a identificação do ancestral comum através da filogenia.
Segundo Lucyane, dentre os pacientes hospitalizados com maior risco para aquisição de infecções fúngicas estão os pacientes com doenças hematológicas que são submetidos à internação para tratamento quimioterápico, o que afeta o sistema imune e os deixa mais suscetíveis. “As infecções fúngicas de origem hospitalar são de grande relevância devido ao aumento progressivo das taxas de morbidade e mortalidade. Muitas dessas infecções são de origem endógena e outras podem ser adquiridas por via exógena, pelas mãos, jaleco de profissionais das áreas da saúde, infusos contaminados, biomateriais e fontes inanimadas ambientais”, explicou.
Para Cristina Ferreira trata-se de um estudo transversal, no qual o período de coleta de dados ocorreu de novembro de 2017 a outubro de 2018 e, que ainda existem outros dados que estão sendo analisados e que podem gerar futuras publicações. “Com esses resultados foi possível identificar e contextualizar diversos aspectos importantes desses patógenos como as questões relacionadas à saúde pública, à clínica, epidemiologia molecular e à terapêutica recomendada para os mais diversos processos infecciosos causados por esses agentes”, comenta.
As informações obtidas nesse primeiro trabalho sobre fungos realizado na FHemoam foram de alta relevância e poderão contribuir para prevenção dessas infecções. “As abordagens propostas no projeto de pesquisa trazem benefícios como a ajuda na implantação do protocolo de monitoramento de infecções fúngicas em pacientes neutropênicos com malignidades hematológicas, protocolo diagnóstico através de técnicas moleculares, e consequentemente, a importância da implantação do laboratório de micologia na instituição, além do conhecimento dos tipos de infecções que os acometem, características genéticas dos agentes e um adequado tratamento profilático para este grupo de pacientes”, acrescenta Lucyane.
Aplicação
Participaram do estudo, 162 pacientes sendo 91 (56,2%) do sexo masculino e 71 (44%) feminino, com média de idade de 32 anos, todos de nacionalidade brasileira. Dos 162 pacientes com suspeita de processo infeccioso, 30 (18,51%) apresentaram infecção por espécies de fungos onde 13 (39,39%) de espécies de Penicillium spp.
No total, foram isoladas 12 (36,36%) amostras de hemocultura. A maioria dos isolados leveduriformes apresentou dentro da faixa sensível frente aos antifúngicos testados, não detectando nenhum gene de resistência. Apenas dois isolados de Candida glabrata apresentaram sensibilidade reduzida ao Fluconazol, afirma Lucyane.
Lucyane relata que os agentes etiológicos mais comuns responsáveis pelos processos infecciosos foram Aspergillus spp. 38-80% e Candida spp. 28-58%, sendo relatado resistência frente a antifúngicos amplamente utilizados na terapia. Já a parte de identificação das espécies de leveduras e teste de suscetibilidade (Fluconazol, Voriconazol, Caspofungina, Micafungina, Anfotericina B e Flucitosina) foram realizados com o equipamento automatizado Vitek-2 Compact.
Universal Amazonas
O Programa Universal Amazonas da Fapeam financia atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, ou de transferência tecnológica, em todas as áreas do conhecimento, que representem contribuição significativa para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do estado do Amazonas em instituição de pesquisa ou ensino superior ou centro de pesquisa, públicos ou privados, sem fins lucrativos, com sede ou unidade permanente no estado do Amazonas.
Por: Jessie Silva
Fotos: Érico Xavier