Fundação Bill Gates apóia pesquisas no AM
A Fundação Alfredo da Mata, referência no diagnóstico e tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), está prestes a dar um passo importante no combate – e a possível erradicação – da sífilis no Estado do Amazonas. A instituição foi uma das escolhidas pela Fundação Bill Gates, que financia projetos de pesquisas sobre DSTs em todo o Mundo, para receber investimentos da ordem de US$ 500 mil que serão utilizados na aplicação de testes rápidos de sífilis em todo o Estado do Amazonas durante o período de dois anos. O apoio da fundação foi anunciado durante o Congresso Mundial de DSTs, que ocorreu na cidade de Seatell, promovido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Além do Amazonas, a Fundação Bill Gates destinará recursos para projetos similares no Haiti, China e Tanzânia. A notícia do financiamento foi recebida pela diretora da Fundação Alfredo da Mata, a médica ginecologista Adele Schwartz Benzaken, que participou do congresso como convidada da OMS. Segundo Adele, a fundação é um dos centros colaboradores da OMS no Brasil e desde 2002 estava envolvida com projetos de validação de testes rápidos para DSTs, como sífilis, gonorréia e clanídia.
A Fundação Alfredo da Mata foi uma das 32 instituições selecionadas pela OMS em todo o Mundo para realizar a validação dos testes rápidos. "Naquela época diversas marcas de testes rápidos estavam sendo lançadas no mercado, sem que nenhum deles tivesse passado por processo de validação", explica Adele. A OMS selecionou as instituições por meio de edital de concorrência internacional.
A médica explica que o trabalho de validação pela OMS foi dividido em duas fases. "Primeiro, dentro dos laboratórios com a comparação de resultados feitos com os testes rápidos e os exames tradicionais. A segunda fase foi a de campo, em que desenvolvemos o Projeto Anamã, numa área de prostituição do Centro de Manaus, e o Diagnósitco da Saúde Sexual no Alto Solimões, com exames realizados em gestantes dos municípios de Atalaia do Norte, Benjamim Constant e Tabatinga", diz.
"Na primeira fase, realizamos exames em 506 pessoas, entre homens e mulheres que freqüentavam, trabalhavam ou estavam ligadas de alguma forma com a atividade da prostituição no Centro", explica Adele. Nessa fase, que aconteceu de agosto a novembro do ano passado, foram aplicados testes rápidos de sífilis em 114 mulheres prostitutas, 88 mulheres que circulavam na área, quatro mulheres clientes, 125 clientes homens e três profissionais do sexo masculinos. O resultado foi uma prevalência de 34% da doença – um índice altíssimo, segundo a médica.
Na fase do interior, o projeto – que contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) – aplicou os testes rápidos em 712 mulheres gestantes, sempre com o exame comparativo feito em laboratório, para validação dos testes, com uma prevalência de 2,4% de prevalência dos casos. Os resultados das pesquisas foram apresentados pela diretora da Fundação Alfredo da Mata, em Seatle, na palestra Diagnóstico de DSTs em Áreas Remotas de Fronteiras, assistida por médicos representantes da Fundação Bill Gates, que anunciaram o financiamento para continuidade das ações.
Júlio Pedrosa (A Crítica – 09/08)