Genes encontrados em tambaqui podem ser usados como bioindicadores


O Amazonas é o segundo maior produtor nacional terrestre de petróleo e o terceiro em gás natural. Por sua vasta biodiversidade e por possuir a maior bacia hidrográfica do mundo e a mais extensa rede fluvial, com 80 km de rios navegáveis, um derramamento de petróleo na região seria fatal para centenas de animais. Vários trabalhos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) têm tentando encontrar formas de se antecipar ao impacto ambiental por meio de ferramentas de monitoramento.

 
Entre as pesquisas realizadas destaca-se a dissertação de mestrado “Expressão Gênica Diferencial em Tambaquis, Colossoma macropomum, expostos ao petróleo e a hipoxia”. O trabalho foi feito por Luciano Ricardo Braga Pinheiro, sob a coordenação da cientista do Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM/INPA), Vera Val, e co-orientação do professor da UniNilton Lins, Sérgio Nozawa, doutor em Química pela Universidade de São Paulo (USP).

 
Durante a pesquisa, que recebeu recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e foi desenvolvida no âmbito do projeto Piatam, o pesquisador identificou cinco novos genes que funcionam como possíveis marcadores de contaminação ambiental por petróleo, além de metais pesados como cobre e chumbo.

 
Sérgio Nozawa enfatiza que a pesquisa é a apenas o primeiro passo para o desenvolvimento de um kit para monitoramento ambiental. Isso porque, apesar da conclusão do trabalho de Luciano, as pesquisas para identificação e expressão das proteínas, que são codificadas por esses genes, continuam sendo realizadas nos laboratórios do Inpa em colaboração com a UniNilton Lins.

 
Luciano explica que o tambaqui foi escolhido devido a sua presença em diversos ambientes da Bacia Amazônica, por exemplo, em águas brancas e pretas, além de ser uma espécie bastante estudada do ponto de vista da sensibilidade aos efeitos do óleo cru. Ele diz também que o que influenciou na escolha do peixe foi porque o animal tende a ter um aumento do lábio e a busca da lâmina d’água em condições de baixa oxigenação (hipoxia). “Esta peculiaridade provoca o maior contato do indivíduo com óleo em casos de derramamento”, afirma.

 
Em relação aos genes, Luciano explica que nem todos os genes presentes no código genético humano são expressos em todas as células ao mesmo tempo. Isso acontece também com o tambaqui e com todos os organismos eucariotos. Ele conta que diferentes células de diferentes sistemas possuem mecanismos que ativam os produtos transcritos (DNA que é convertido em RNA mensageiro) de acordo com sua função. Dessa forma, o RNA funciona como uma ponte entre os sistemas. Ou seja, em uma cidade existem várias zonas (sistemas). Para cada zona são designados carteiros (mensageiros) para entrega dos documentos (mensagens) nas residências (células).

 
“Uma situação de estresse como, por exemplo, exposição a produtos contaminantes ou baixa oxigenação podem provocar a ativação de genes, que em condições normais não seriam transcritos (ativados). A estes processos dá-se o nome expressão gênica diferencial. É o que ocorre com o tambaqui”, diz e acrescenta que a partir deste princípio, utilizando-se um marcador molecular (técnica genética), foi possível identificar os genes expressos na condição de estresse quando expostos ao óleo cru. Ele conta que as seqüências gênicas foram obtidas a partir de células do fígado do animal por meio de uma técnica utilizada para extração do cDNA, que é o mRNA após conversão em DNA complementar.

 
Alerta ambiental – Luciano pontua que as concentrações de óleo no ambiente não dependem exclusivamente de uma questão isolada, por exemplo, um derramamento de petróleo. Segundo ele, resíduos domésticos, escapes de embarcações e lavagem de tanques de combustíveis são questões que acompanham o crescimento das cidades na sociedade moderna.

 
“Até que ponto estas questões interferem ou podem chegar a interferir na qualidade do ambiente?”, questiona e acrescenta que o marcador utilizado na pesquisa pode ser útil para identificar diversas seqüências expressas de produtos transcritos (EST, sigla em inglês) para o monitoramento do ambiente.

Luís Mansuêto – Agência Fapeam

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