História do leprosário de Manaus é relatada por sobreviventes da hanseníase
26/09/2012 – Você consegue imaginar como é viver isolado do mundo? É difícil conceber a ideia, mas há mais de 60 anos, muitas pessoas viveram essa realidade na capital amazonense. Elas eram portadoras de hanseníase e, naquela época, foram isoladas nos pavilhões do leprosário que hoje conhecemos como bairro Colônia Antônio Aleixo (zona leste).
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Essa parte da história da cidade de Manaus é relatada na pesquisa intitulada ‘De Leprosário a Bairro: reprodução social em espaços de segregação na Colônia Antônio Aleixo’, realizada pela doutora em Ciências Humanas Maria de Nazaré de Souza Ribeiro.
O estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), descreve, através de relatos dos sobreviventes, a segregação vivida por eles de 1942 até a desativação do local nos anos de 1970.
De acordo com Ribeiro, a ideia surgiu da própria vontade dos ex-internos do leprosário de terem sua história de segregação escrita, para que, no futuro, outros fatos semelhantes não voltem a acontecer. “A ideia partiu dos próprios moradores, entrevistados para a minha tese e que foram transferidos para o bairro Colônia Antônio Aleixo no período de 1942 em diante. Havia interesse dessas pessoas em contar a verdadeira história de como foi a segregação dos pacientes com hanseníase para aquela área”, destacou.
Ela contou que o primeiro contato com os moradores da Colônia Antônio Aleixo foi no ano 2000, quando foi convidada pelo Padre Hudson Ribeiro para desenvolver um trabalho na Pastoral da Saúde com a finalidade de capacitar líderes comunitários para acompanhar doentes em domicílio e orientar quanto à importância da promoção da saúde. “A vivência com os comunitários, me fez ver o quanto ainda há preconceito e segregação, apesar da desativação do leprosário em 1º de janeiro de 1979”, explicou a pesquisadora.
A discriminação e as práticas excludentes, que os portadores de hanseníase puderam experimentar, da sociedade, família, governo da época, equipe de saúde e administradores do bairro é apresentada em forma de relatos das próprias vítimas. “Os relatos mostram que os vínculos sociais criados entre os moradores foram muito importantes para que eles enfrentassem a doença”, explicou Ribeiro.
A pesquisa foi viabilizada por meio de uma parceria entre a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), no âmbito do Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas (RH-Posgrad). O trabalho descreve o viver com hanseníase e o viver segregado no leprosário de 1942-1978, além de destacar as formas de viver e trabalhar nesse período, mostra ainda como a hanseníase se tornou endêmica no Amazonas com o advento da exploração da borracha no século 19.
“A desativação do leprosário e a formação do Bairro Colônia Antônio Aleixo, de 1979a 2010, também é apresentada dando destaque ao Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Mprhan) e à Igreja Católica, instituições que ajudaram a construir uma nova história para os moradores locais”, finalizou Ribeiro.
Sobre o RH-Posgrad
O Programa consiste em apoiar, com bolsas de estudo e auxílio-instalação, pesquisadores interessados em cursar mestrado ou doutorado em instituições de fora do Estado do Amazonas.
Rosilene Corrêa – Agência FAPEAM