Ida para a cidade compromete a saúde dos Baniwa
O projeto de Iniciação Científica “Saúde e Alimentação entre os Baniwa de São Gabriel da Cachoeira”, do pesquisador Trinho Paiva Trujillo, estudante do 4° período de Normal Superior da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), revela os impactos da mudança no modo de vida e a conseqüente perda cultural das tradições dos Baniwa que saem das suas comunidades e vão morar na zona urbana do município de São Gabriel da Cachoeira, a 852 quilômetros de Manaus.
Um dos maiores impactos está na relação entre alimentação e saúde dos indígenas. “Os Baniwa que moram na zona urbana não praticam os rituais de preparo das refeições, por vários motivos. A perda da prática do roçado, da caça e da pesca, e a utilização do comércio para adquirir os alimentos, são alguns dos fatores determinantes para a perda das tradições culturais e conseqüentemente da saúde”, explica Trujillo.
Segundo ele, na cidade, não se pratica, com freqüência, a realização de refeições comunitárias, dificultando o acesso à alimentação para aqueles que não têm condições de comprá-la. Já na comunidade, essa prática permite que todos possam comer. “Na cidade, come-se frango, feijão, carne (que não é de caça). Essa prática de preparo já não é mais tradicional, então poucas crianças baniwa aprendem suas tradições”, lamenta.
Para os Baniwa, os ritos de preparo das comidas são muito importantes para a manutenção da saúde. Tanto os peixes quanto os animais de caça possuem mitos e, muitas vezes, são vistos como perigosos, principalmente para crianças pequenas, mulheres na primeira menstruação e pais que acabaram de ter filhos. "Nessas situações, os alimentos são benzidos pelos mais velhos e preparados com pimenta, para evitar doenças", conta Trujillo.
O pesquisador também analisou a questão da educação, acreditando que o ensino de um indígena não pode ser resumido às matérias comuns a todas as escolas. “É preciso haver uma educação diferenciada, com o ensino das tradições e costumes específicos para cada etnia”, defende.
Trujillo é indígena da etnia Baniwa e teve a experiência de viver na comunidade e na cidade, por isso possui “um olhar crítico de quem viveu as duas realidades”. Sua pesquisa começou em agosto de 2006 e será concluída em agosto de 2007. Para desenvolvê-la, ele entrevistou as mulheres Baniwa responsáveis pelo preparo da comida, comparando as condições de vida e saúde dos indígenas que moram nas comunidades e os que moram na zona rural.
O projeto foi apresentado recentemente na IV jornada de Iniciação Científica, na Fundação Oswaldo Cruz, e possui uma grande importância como registro cultural e como base para análises e estudos sobre as condições de vida dos indígenas que vivem na zona urbana de São Gabriel da Cachoeira.
Trujillo é egresso do programa Jovem Cientista Amazônida (JCA), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Sob a orientação de Maria Luiza Garnelo Pereira, ele desenvolveu a pesquisa “Cultura, escola, tradição: mitoteca na escola Baniwa”.