INCTs da Amazônia buscam preservação e conhecimento científico da região
Proposta é gerar políticas públicas e novos produtos para auxiliar no desenvolvimento local
No início deste mês, a Regional Norte da Academia Brasileira de Ciências (ABC) diplomou seus novos membros para o quatriênio 2016-2020 e reuniu representantes de alguns Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) para apresentarem as atividades de pesquisa desenvolvidas na região. O simpósio de diplomação aconteceu no Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITVDS), em Belém do Pará.
Os INCTs do Norte vêm desenvolvendo importantes pesquisas que visam à proteção e conservação das biotas amazônicas, mas focam também em evolução geológica e recursos minerais e em tecnologias da informação. No entanto, conforme relataram seus representantes, essas atividades estão ameaçadas pela falta de recursos. Diversas pesquisas estão atualmente paradas por conta da descontinuidade do financiamento.
Além disso, os projetos dos atuais INCTs se encontram em fase final e, embora 11 INCTs sediados na região tenham sido recomendados pelo CNPq na avaliação de edital recente, não há garantia de sua efetivação. “O CNPq enfrenta severas limitações de recursos e as FAPs regionais, que apoiaram o desenvolvimento de INCTs aprovados no primeiro edital, não se comprometeram publicamente até o momento com a liberação de recursos”, informou o vice-presidente da Regional Norte da ABC, Roberto Dall’Agnol.
O acadêmico Adalberto Val, ex-vice-presidente regional da ABC para a região Norte e ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), apresentou o INCT Estudos de Adaptações da Biota Aquática – Adapta, que teve as fases I e II. Este INCT busca gerar informações científicas para as políticas públicas e novos produtos e processos a partir da capacidade de adaptação dos organismos aquáticos da Amazônia, frente às mudanças ambientais – as naturais e as provocadas pelo homem.
A primeira fase do Adapta pretendeu responder duas perguntas: como reagiam diferentes organismos a desafios ambientais, como expansão urbana, e como cada espécie ajustava sua informação genética para responder a mudanças, que podem estar relacionadas a fenômenos como fortes secas e enchentes na região, que afetam esses organismos. Ele deu o exemplo de uma espécie de sardinha que vive nos três tipos de água da região – a branca, como a do rio Solimões, a preta, como a do rio Negro, ambos os rios no Amazonas e a clara, como a do Tapajós, no Pará, o que demonstra sua capacidade genética adaptativa muito grande.
“A história evolutiva de organismos aquáticos, incluindo as estratégias para enfrentar restrições ambientais, está escondida no DNA dos animais que vivem em rios e lagos hoje”, disse Val. Para estudar esse tema, o INCT Adapta reproduz a atmosfera em quatro cenários diferentes previstos pelo IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – para 2100.
Observou-se, por exemplo, danos ao DNA do tambaqui a partir da exposição à radiação solar. “Os organismos aquáticos tropicais são vulneráveis aos processos de aquecimento global e acidificação.” O Adapta II incluiu em seus estudos a segurança alimentar e propostas para mitigar e minimizar os efeitos das mudanças climáticas na região.
Biodiversidade
O INCT Serviços Ambientais da Amazônia, apresentado pelo acadêmico Philip Fearnside, do Inpa, faz estudos do impacto ambiental das ações de devastação na Amazônia e da importância dos serviços ambientais prestados pela floresta. Uma das maiores preocupações de Fearnside é o impacto das hidrelétricas nessa região. Ele afirma que estamos exportando energia para outros países, mas os impactos ficam na Amazônia. Quem paga são os ribeirinhos e indígenas.
Entre os aspectos negativos das hidrelétricas apontados por Fearnside, estão as enormes perdas de transmissão, de cerca de 20% – na Argentina, são apenas 8%. Esse número corresponde à transmissão de Itaipu, no Paraná, para São Paulo. Haverá ainda mais perda no caso da transmissão das novas hidrelétricas da Amazônia, como Belo Monte, para o sudeste.
O acadêmico William Magnusson, também do Inpa, apresentou o INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia (Cenbam), que coordena uma rede de instituições amazônicas e extra-amazônicas envolvidas em estudos de biodiversidade. O objetivo é a integração da pesquisa da biodiversidade amazônica em cadeias científica-tecnológicas eficientes e produtivas. Isso porque, atualmente, a biodiversidade amazônica não está sendo preservada ou utilizada de forma eficiente por falta de conhecimento científico-tecnológico. A pouca pesquisa que é feita está concentrada nos grandes centros populacionais – Belém e Manaus. Assim, os centros regionais enfrentam um círculo vicioso de falta de recursos, que, em longo prazo, impedem a fixação dos pesquisadores em áreas remotas.
Magnusson falou sobre a Reserva Florestal Adolpho Ducke, com uma área de 100 km², situada junto à área urbana de Manaus, onde o Cenbam avalia mudanças ambientais e impactos e modificações de uso da terra, bem como os efeitos de vários tipos de intervenção humana, por meio de um sistema chamado Rapeld. Esse sistema é utilizado em várias regiões do país, pois funciona em áreas perturbadas, desde o Pantanal à savana. “Ele gera informação biológica, mas não adianta nada se ela não for disponibilizada para os tomadores de decisão”.
De acordo com o acadêmico, cada área da Amazônia tem solos e climas diferentes, então os impactos das mudanças também são respondidos de maneiras distintas. “Não estamos preparados para utilizar os dados gerados. Precisam treinar o pessoal do Ibama, do serviço florestal e envolver habitantes locais para formar núcleos regionais. O que a Amazônia precisa é de um Centro de Capacitação em Biodiversidade”, finalizou o cientista.
Fonte: Academia Brasileira de Ciências
Foto: Divulgação