Indígenas participam de oficina sobre recuperação de áreas degradadas


São comuns as notícias de queimadas no interior do Brasil que são feitas por pequenos agricultores para “limpar” a área de plantio. A técnica é considerada prejudicial tanto para o ecossistema quanto para a própria produção agrícola. A princípio, o pequeno agricultor queima para resolver dois problemas. O primeiro é acabar com pragas e doenças e, segundo, preparar o solo para pastagem ou plantio.

Mas não é apenas o pequeno agricultor que adota a queima para preparar o solo. A prática é realizada há séculos por grupos indígenas. Conhecer a vegetação que voltou a crescer no local onde o procedimento é adotado é o primeiro passo para recuperar o solo. O assunto foi abordado durante duas oficinas realizadas na Escola Indígena Utapinopona-Tuyuka, na Terra Indígena Alto Rio Negro, noroeste amazônico.

As atividades fazem parte do projeto "Paisagens Florestais no Alto Rio Tiquié", que contam com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), da Fundação Moore e dos Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI/MMA).

Segundo os consultores do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA), o engenheiro florestal Marcus Schmidt e o agrônomo Pieter Van der Veld, nas oficinas, os alunos discutiram o papel da fotossíntese no desenvolvimento da floresta e o acúmulo de carbono orgânico no ecossistema. “Nesses locais existem regiões com solos pouco desenvolvidos e formados a partir de areias sedimentares”, explicou o agrônomo.

/Conforme os especialistas, os povos indígenas dessa região praticam desde tempos remotos a técnica de derrubada e queima para transformar as florestas primárias em roças de mandioca. Eles disseram que esses estudos consideram o conhecimento indígena quanto às plantas em processo de restauração, partindo da caracterização de seus próprios sistemas locais de cultivo agrícola.

Segundo Pieter Van der Veld, durante as oficinas, foram avaliadas as consequências da queima (processo inverso da fotossíntese), que consome todo o material orgânico acumulado no sistema florestal. “Tudo o que a fotossíntese proporcionaria em acúmulo de material orgânico, retendo os nutrientes nessa camada mais estável, a queima consome em dois ou três dias”, disse.

Fotossíntese x Queima

“Enquanto a fotossíntese fixa o carbono orgânico no ecossistema, a queima devolve, em forma de gás carbônico, para atmosfera” salientou Marcus Schmidt.

Segundo ele, a técnica de restauração florestal deve considerar o retorno das funções ecológicas do ecossistema como um todo. O processo deve incluir a diversidade de recursos, as relações tróficas (interações inseto/planta e animal/planta), os nutrientes e a matéria orgânica. Assim, toda energia perdida pelo uso excessivo dos recursos (roçar e queimar por muitos anos sem deixar descansar o tempo necessário), será restaurada e o ambiente voltará a ser produtivo.

Alguns indicadores de biodiversidade local também puderam ser analisados durante as pesquisas. Os alunos foram orientados a registrar os animais que podiam ser vistos ou ouvidos. “Cerca de sete tipos de pássaros foram identificados pelos alunos, além de alguns insetos e até um tipo de sapo”, afirmou Van der Veld.

Para os consultores, as descobertas referentes à dinâmica e à diversidade de recursos serão importantes para a adoção de estratégias de manejo nesses ambientes.

Camila Carvalho e Luís Mansuêto – Agência Fapeam,
com informações do Instituto Socioambiental (ISA)

 

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