Inpa desenvolve corante ecologicamente correto
Há muito tempo a “medicina popular” recomenda o crajiru (Arrabidea chica) para a cura de inflamação. A planta também já está sendo empregada na produção de xampus e sabonetes. Porém, o uso dessa erva nativa vai além de suas propriedades fitoterápicas e fitocosméticas, podendo servir como corante natural.
É o que indica o estudo realizado pela pesquisadora Karina Melo, cujo objetivo foi avaliar o uso de corantes vegetais no tingimento do couro de matrinxã (Bricon amazonicus). A dissertação foi desenvolvida como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre em Ciências Agrárias, pelo Programa Integrado de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Humanos, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Inicialmente foram avaliados resíduos de madeiras, cascas, sementes, flores, inflorescência e até borras de diversas plantas. De acordo com Karina Melo, em função do pigmento (antocianina), concentração (maior), solubilidade (hidrossolúveis) e adequação ao pH (ácido) de processo de pigmento, o crajiru e a cacauí foram selecionados como fontes de corante mais eficazes para o couro de matrinxã. “As flores de cacauí e folhas de crajiru foram selecionadas em função dos respectivos teores de antocianinas totais e pigmentos solúveis em água”, comenta.
Após o tingimento e acabamento, que consistiu no amaciamento manual permitindo maior maciez, flexibilidade e resistência, as amostras de couro foram avaliadas quanto à coloração, microscopia eletrônica de varredura, resistência à luminosidade e teste de lavabilidade.
De acordo com Karina Melo, os testes mostraram que os vegetais estudados apresentaram teores de corantes adequados ao interesse no tingimento do couro de matrinxã, porém, destacou que o crajiru apresentou maior resistência à ação da luz e água. “Essa propriedade do crajiru não é novidade. Há muito tempo, comunidades do interior e tribos indígenas utilizam essa planta como corante natural e por meio desse estudo, foi possível comprovar o seu excelente tingimento em couro de peixes”, afirma.
A autora justifica o interesse pela linha de pesquisa por se tratar de uma iniciativa inovadora, na medida em que não há registros de estudos com corantes vegetais, e ao mesmo tempo ecologicamente correta, pois permite o aproveitamento de matérias-primas que não causam danos ao meio ambiente, bem como do couro de peixe anteriormente descartados. “Com o aumento das criações em cativeiro e da tendência de alimentos processados, há o descarte do couro de peixe e por meio desse processo, é possível fazer o reaproveitamento”, afirma Karina Melo
Ela destaca que os resultados do estudo podem contribuir com a geração de emprego e renda na região. Uma das alternativas é o uso de resíduos da planta no tingimento de uma grande variedade de artigos, como bolsas, cintos, carteiras, pulseiras, entre outros, agregando maior valor aos produtos regionais. Outra possibilidade é na aplicação de artesanatos, principalmente, por comunidades do interior.
Karina Melo considera que novas pesquisas devem ser realizadas visando o melhor aproveitamento do potencial dos resíduos da região amazônica. “Dessa forma será possível criar alternativas de valorização dos produtos regionais e principalmente emprego e renda”, frisa.
Sobre a pesquisa:
Título: "Extração e Uso de Corantes Vegetais da Amazônia no Tingimento do Couro de Matrinxã"
Orientadora: Jerusa de Souza Andrade
Programa: Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Humanos
Instituição: Ufam/Inpa
Ano de obtenção do título: 2007
A pesquisa contou com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).