Investimentos em pesquisas alavancam piscicultura no AM


Figurando entre as cinco atividades mais rentáveis no mundo, ultrapassando a criação de gado e frango, a criação de peixes em cativeiro (piscicultura) já demonstrou ser uma alternativa importante para a geração de emprego e renda. Na região amazônica, onde existe uma variedade de espécies com valor comercial e diversas técnicas para a criação de peixes em cativeiro, essa também pode ser uma saída para a sustentabilidade e a preservação ambiental.

Acreditando nesse potencial, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) tem apoiado iniciativas de pesquisas por meio de financiamento de projetos voltados ao desenvolvimento de técnicas e resultados que visem aperfeiçoar a prática da piscicultura no Amazonas.

Alguns projetos fazem parte do Programa de Apoio a Pesquisas em Empresas, conhecido como Pappe, um programa que consiste em apoiar, com recursos financeiros, micro e pequenas empresas interessadas no desenvolvimento de produtos e processos inovadores reunindo empresas e pesquisadores.

Ração a partir de resíduos de frutos amazônicos

Um desses projetos, encerrado em 2008, trata do aproveitamento de resíduos de despolpamento de frutos regionais na elaboração de ração para peixes, desenvolvido pela empresa Cupuama – Cupuaçu do Amazonas Indústria, Comércio e Exportação do Amazonas. 

Com recursos da ordem de R$ 131 mil, a empresa desenvolveu estudos para aproveitar resíduos de frutos regionais (cupuaçu, tucumã, maracujá buriti, entre outros) para a fabricação de ração para peixes regionais criados em cativeiro. Como resultado, a pesquisa concluiu que as espécies de frutos estudadas apresentam alto teor de proteína, fibra, carboidrato e energia, excelentes para o uso em rações peletizadas ou extrusadas.

“A ração experimental foi bem aceita por espécies como o tambaqui, principalmente no desempenho de juvenis da espécie (filhotes). A idéia da empresa é disponibilizar a tecnologia resultante da pesquisa para a fabricação de ração e farinha para criadores de peixes e ao mesmo tempo resolver o problema de geração de resíduos das frutas utilizadas por indústrias”, destaca o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA),  Manoel Pereira Filho.

Anti-parasitas

Outro projeto, também financiado pela Fapeam por meio do Pappe,  desenvolvido pela empresa Litiara Indústria de Cerâmica da Amazônia, localizada no município de Itacoatiara (AM), abordou a prevenção e o controle de ictioparasitose. Ou seja: o aparecimento de parasitas em peixes criados em cativeiro. A pesquisa foi realizada no período de 2005 a 2008 com recursos da Fapeam da ordem de R$ 144 mil, sendo coordenada pelo pesquisador do Departamento de Ciências de Pesca da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Bruno Adam Sagratzki Cavero.

Por meio de experimentos, ele introduziu medicamentos (vermífugo) contra parasitas de peixes, diretamente na ração consumida e analisou os resultados a partir das dosagens aplicadas e das espécies estudadas nos períodos de crescimento e engorda.

A pesquisa, que também contou com a participação de pesquisadores do INPA, apresentou resultados satisfatórios quanto à eficiência da utilização do anti-helmintico e quanto à qualidade e aos parâmetros físico-químicos da água durante o cultivo das espécies em tanques.

Segundo o pesquisador, é comum criações apresentarem infestações parasitárias, pois alguns criadores não têm prática para lidar com o problema. “Nossa preocupação teve início em 2002, pois nessa época a piscicultura já demonstrava que ganharia importância comercial. Os resultados desse trabalho foram repassados à sociedade pela Litiara, por meio de consultorias, e hoje é aplicado por piscicultores no Estado”.

Aumento da produtividade

Atualmente, também com apoio da Fapeam, e junto à empresa Agroindustrial Tambaqui, localizada no município de Rio Preto da Eva (AM), o pesquisador Bruno Cavero, pesquisa o desenvolvimento de um equipamento para aumentar a oxigenação e a estratificação da coluna d’água para aumentar a capacidade do criadouro e, consequentemente, da produção por metro cúbico de área. “Normalmente a criação de peixes acontece em apenas um ambiente dentro de tanque, que é dividido em duas colunas, uma inferior e outra superior. Com esse equipamento que estamos desenvolvendo, que atuará como um airador e soprador de ar no tanque, a coluna será homogeneizada, assim como a temperatura e a quantidade de oxigênio na água, podendo ser usado em tanques e barragens”, explica o pesquisador, destacando ainda que a previsão é lançar o equipamento durante a Expoagro, realizada no segundo semestre de 2009.

Para destacar a eficácia do equipamento, Bruno Cavero cita o aumento da produtividade de peixes criados em cativeiro que, segundo os experimentos, passa de oito toneladas por hectare para 20 toneladas. “Com a homogeneização do ambiente aquático para criação, a profundidade do tanque passa de um metro e meio para três metros. Isso reflete um resultado importante para a profissionalização da piscicultura, que deve funcionar como uma linha de montagem e depende de três fatores para se tornar rentável: o fator genético, a nutrição e a qualidade da água, fatores que já dominamos”, destaca.

“A Fapeam está de parabéns por incentivar iniciativas nessa área. A piscicultura do Amazonas apresentou um crescimento, em média, de 500% nos últimos dez anos. Esse fortalecimento da cadeia produtiva do pescado proporcionou uma virada no setor. Hoje o Estado é apontado como o principal criador de tambaqui em cativeiro no Brasil. Antes havia apenas pequenos produtores, hoje existem grupos empresariais interessados e entrando na área”, finaliza Bruno.

Ulysses Varela – Agência Fapeam

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