ITA lidera em produtividade científica
A USP é a universidade brasileira com maior produção científica, mas, quando são levados em conta critérios como o número de doutores ou de cursos de pós-graduação por trabalho publicado, é o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) a instituição mais produtiva.
Essas são conclusões de um estudo realizado pelo Instituto Lobo a partir da base de dados Thomson-ISI, que permite a comparação da produtividade das instituições a partir do número de trabalhos publicados em periódicos internacionais.
No levantamento, foram consideradas apenas as instituições de ensino superior que conseguiram publicar ao menos 50 trabalhos no período de 2001 a 2005. Esse corte mostra que o número de instituições privadas com produção significativa é muito baixo. Das 86 universidades particulares do país em 2005, apenas 23 (27% do total) conseguiram publicar ao menos 50 trabalhos no período.
"Dá uma média de dez trabalhos por ano. É um patamar baixíssimo para instituições que, pela lei, têm que realizar pesquisa", afirma Oscar Hipólito, autor do estudo em parceria com Roberto Lobo.
Nas federais, o percentual de universidades com ao menos 50 trabalhos foi de 77% e, nas estaduais, 42%. Após esse corte, sobraram 83 instituições com produção significativa. Dessas, apenas 24 são privadas, e a produção delas representou somente 5% do total de trabalhos publicados no período.
Com o objetivo de avaliar também a produtividade de cada instituição, os autores compararam o total de trabalhos publicados com o de doutores em regime integral, de cursos de pós-graduação reconhecidos pela Capes e de recursos recebidos pelo CNPq.
No ranking por doutores, o ITA apresentou a média de 5,4 trabalhos por doutor em regime de dedicação exclusiva, superando Unicamp (5 por doutor), USP (4,9), UFSCar (4,8) e Unifesp (4,7). A média das 83 instituições comparadas foi de 2,25 nesses cinco anos.
A comparação com o número de trabalhos por cursos reconhecidos pela Capes coloca de novo o ITA no topo do ranking.
Por último, levou-se em conta também os recursos recebidos pelo CNPq. Nesse caso, é preciso considerar que outras fontes importantes de financiamento ficaram de fora, como as fundações de apoio estaduais, a Capes ou a Finep.
Quem mais recebeu recursos dessa fonte única foi a USP (R$ 374 milhões em cinco anos), mas o maior investimento por trabalho publicado está na PUC-SP (R$ 517 mil por trabalho publicado).
Para tentar agregar esses três critérios (doutores, cursos e verba do CNPq) num único indicador, os autores do levantamento elaboraram um índice de produtividade em que, mais uma vez, o ITA aparece como a instituição mais produtiva.
Critérios
A produção medida por meio de trabalhos publicados em revistas científicas indexadas -com critérios mais rigorosos de edição- não é a única forma de avaliar instituições. Outros levantamentos costumam utilizar também critérios como o número de patentes obtidas por uma instituição ou o número de vezes que um artigo é citado em outros trabalhos.
O número de trabalhos publicados por pesquisador, no entanto, é cada vez mais usado por órgãos de fomento.
Particulares reclamam de preconceito dos órgãos públicos de apoio à pesquisa
“A falta de apoio governamental e o excesso de impostos são fatores que limitam o investimento em pesquisa no setor privado”, diz Abib Salim
O presidente da Anup (Associação Nacional das Universidades Particulares), Abib Salim Cury, diz que a falta de apoio governamental e o excesso de impostos -especialmente no caso de instituições com fins lucrativos- são fatores que limitam o investimento em pesquisa no setor privado.
"Temos de tirar dinheiro para a pesquisa daquilo que recebemos das mensalidades porque enfrentamos muita dificuldade para conseguir recursos nos órgãos federais", diz Cury, que é chanceler da Universidade de Franca.
Para ele, há preconceito no momento de analisar um pedido de recursos para um projeto de pesquisa no setor privado ou mesmo no de autorizar novos cursos de pós-graduação.
"Tenho a preocupação em investir em pesquisa, tanto que já temos hoje quatro patentes, inclusive uma para cura da doença de Chagas que foi aceita e registrada nos EUA. Decidi, no entanto, que não peço mais nada à Capes. Se o projeto é bom, não interessa de onde veio, é preciso fomentá-lo. Mas já somos barrados na base. É muito difícil vencer esse ranço contra o ensino particular."
Oscar Hipólito, do Instituto Lobo, concorda que ainda existe preconceito contra o setor privado, mas diz que o problema principal é de gestão: "O preconceito já foi muito pior. É preciso lembrar também que há universidades privadas, como a PUC do Rio, que sempre tiveram bom desempenho e respeito nessa área. O que falta são bons projetos".
Roberto Lobo, co-autor do estudo e ex-reitor da USP e da UMC (Universidade de Mogi das Cruzes), diz que, quando trocou o setor público pelo privado, decidiu apostar em grupos específicos e organizados.
"Muitas universidades privadas acham que fazer pesquisa é separar uma parcela de seu orçamento e contratar professores para desenvolverem projetos por duas horas por semana. Isso pulveriza os poucos recursos que a instituição tem."
Segundo ele, sua estratégia ao assumir a reitoria da UMC foi identificar áreas que tinham mais potencial e formar grupos de pesquisa chamando também gente de fora.
"Quando há foco, mesmo com poucos recursos, é possível obter resultados. Tanto que nosso levantamento mostra que a UMC é uma das mais produtivas hoje", diz.
Humanas distorcem média, afirmam escolas
Pesquisador concorda que há uma tradição menor de publicação na área de humanas, mas também pondera que um trabalho publicado em uma revista científica passa por processos mais rigorosos
O investimento recente em pesquisa e o perfil homogêneo do ITA foram as razões apontadas pelo pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da instituição, Homero Maciel, para explicar a boa colocação no levantamento do Instituto Lobo.
"O fato de sermos uma escola concentrada na área de ciências exatas nos favorece na comparação com uma instituição como a USP, que cobre um universo imenso de áreas. Mas também tivemos uma preocupação, especialmente nos últimos seis anos, de levantar a pesquisa aqui dentro e incentivar a publicação", diz Maciel.
Paulo Saldiva, pró-reitor em exercício de Pesquisa da USP, também destaca o perfil diferenciado das instituições.
"O ITA é como um poço artesiano numa pequena área e que é explorado a fundo com competência e apoio da iniciativa privada [no caso, da Embraer]. Aqui na USP também existem alguns "ITAs", mas também existem áreas como a de Saúde, com alta produtividade medida pela publicação em periódicos, e a de humanas, onde essa cultura de publicação [em periódicos] não é tão forte."
A pouca tradição da área de humanas na publicação em periódicos internacionais também é apontada pela pró-reitora de pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina, Thereza Cristina Monteiro, para explicar por que a instituição cai da 9ª posição do ranking de instituições com mais trabalhos publicados para a 30ª no de produtividade por doutor (de 1,9 trabalho em cinco anos).
"Depois das engenharias, a maior parte dos nossos grupos de pesquisa é da área de humanidades. Muitos pesquisadores dessa área preferem divulgar seus trabalhos em livros ou jornais que não são indexados nessas bases internacionais."
Oscar Hipólito, um dos autores do estudo, critica a baixa publicação nas humanidades.
"No mundo todo, publica-se mesmo na área de humanas. Pode ser que essa baixa publicação [no Brasil] aconteça por uma questão cultural, mas pode ser também porque esse pesquisador não produza ou não consiga publicar numa revista internacional."
Leandro de Faria, pesquisador da UFSCar que trabalha num levantamento sobre a produção científica para a Fapesp, concorda que há uma tradição menor de publicação na área de humanas, mas também pondera que um trabalho publicado em uma revista científica passa por processos mais rigorosos.
"A menor publicação de humanas é uma questão internacional, não só do Brasil. Isso, no entanto, não invalida a avaliação por meio do número de trabalhos publicados em revistas científicas. A publicação num livro tem, em tese, menos validação da comunidade científica porque o critério de edição é, em geral, menos rigoroso."