Jornalistas e cientistas debatem sobre cobertura amazônica na mídia


28/02/2011 – Provocações e reflexões sobre a abordagem dos temas científicos no cotidiano do jornalismo local permearam os debates do ‘1º Encontro Fapeam de Jornalismo e Ciência’, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), ocorrido hoje (28) na sede da instituição.

Com o tema ‘Ano Internacional das Florestas: a pauta amazônica no Jornalismo Científico’, os expositores, Cilene Victor, da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC) e Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), debateram com aproximadamente 40 jornalistas sobre as vertentes da cobertura da pauta na Amazônia.

Mediado pela professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), doutora Mirna Feitoza, o evento foi aberto pela diretora-presidenta da FAPEAM, Maria Olívia de Albuquerque Simão e pelo titular da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sect), Odenildo Sena.

Para a diretora-presidenta da FAPEAM, o encontro entre jornalistas e cientistas, que ocorrerá todos os meses daqui por diante, servirá como um espaço para entender melhor e equacionar o diálogo entre esses profissionais. “Estamos aqui para criar um espaço aberto de discussão. Queremos entender melhor este diálogo para que posssamos fazer uma avaliação das posturas, do que incomoda e pode ser ajustado”, destacou.

Debate

src=https://www.fapeam.am.gov.br/arquivos/imagens/imgeditor/enccilene.jpgEntre as principais constatações resultantes do debate, está o fato de o Brasil não ter  a cultura da prevenção dos desastres ambientais, levando à mídia somente as tragédias. Para Cilene Victor, a cobertura será a mesma enquanto a sociedade não demandar, já que a imprensa é o retrato dos costumes dos povos.

Em sua apresentação, a presidenta da ABJC, enumerou vertentes para coberturas de temas recorrentes na região, como biodiversidade, sustentabilidade e desmatamento. Victor classificou como “imoral” o jornalismo apontado por ela como militante, denuncista, sensacionalista e alarmista.

“O foco é sempre o mesmo, nas mudanças climáticas. Claro que o tema merece visibilidade, mas creio que a mídia extrapola. Não estou minimizando a importância dessa cobertura, porém temos outras áreas que precisam ascender”, enfatizou.

As reportagens com tônicas “negativas e apocalípticas” foram criticadas pelos palestrantes. Durante sua palestra, Higuchi mostrou matéria de 1985, da Agência Estado, “prevendo” que a Amazônia seria uma “imensidão de areia em 2010”, fato que não ocorreu.

src=https://www.fapeam.am.gov.br/arquivos/imagens/imgeditor/encniro.jpgNiro Higuchi elaborou um roteiro de como o jornalista pode abordar o cientista, começando pelo acesso ao currículo lattes, de modo que possa filtrar o tema conforme a especialidade do pesquisador. “Acontecem sempre os exageros como esse da imensidão de areia. Temos que ter o cuidado de pautar a Amazônia e não ficar a reboque dos jornalistas de outras regiões”, sugeriu.

No encerramento, Cilene Victor enfatizou o resgate do respeito pela profissão do jornalista como fundamental na relação com os cientistas.

Impressões

Para a jornalista Ana Célia Ossame, o jornalismo científico está em processo no Estado. “Necessitamos exercitá-lo para estreitar a confiança com a fonte, ou seja, com o pesquisador, para nós, enquanto profissionais, aprendermos também. A participação da FAPEAM é fundamental para o jornalismo científico”, destacou a jornalista sobre o evento que reunir pesquisadores, jornalistas e estudantes.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Amazonas, César Augusto Monteiro Wanderley disse que o encontro é importante, uma vez que um evento desse porte prepara os profissionais a levarem a informação à sociedade. “Como representante da categoria, parabenizo a FAPEAM pela iniciativa, o que dá mais sensibilidade no trato com as questões do jornalismo científico”, completou.

Segundo a doutora em Comunicação, professora Mirna Feitoza, “estamos num momento em que a Região Amazônica se tornou pauta de interesse  mundial, e precisamos estar preparados para tratar deste assunto jornalisticamente. Muitas vezes, o jornalista da Amazônia que vive na região não está preparado para cobrir os problemas daqui. Somente a partir de  iniciativas como essa  é que nós vamos nos capacitar para conhecer melhor a nossa região e saber divulgá-la", finalizou.

O próximo Encontro Fapeam de Jornalismo e Ciência está marcado para acontecer no final de março, em local e com expositores convidados que ainda serão confirmados e divulgados aos interessados.

Alessandra Karla Leite e Sebastião Alves – Agência FAPEAM

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