Lançamento de livro e exposição sobre a trajetória negra atrai grande público
Em homenagem ao Dia da Consciência Negra, comemorado nesta sexta-feira (20), o Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas apresentou, na noite de quinta-feira (19), a exposição “Negros, corpos e almas: trajetórias no Amazonas” e realizou o lançamento do livro “A Cidade dos Encantados”, do professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Aldrin de Moura Figueiredo.
Considerada um marco acadêmico, a exposição foi construída a partir da produção científica da Ufam em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nela se materializa a preocupação contemporânea de se tomar uma posição política em defesa da diversidade racial e da tolerância religiosa. Estudantes da rede pública de ensino, pesquisadores, capoeiristas, membros do hip hop, candomblé e simpatizantes prestigiaram o evento. A exposição fica aberta ao público até o dia 18 de dezembro.
De acordo com o diretor do Museu Amazônico, Sérgio Ivan Gil Braga, a exposição constitui o esforço coletivo de pesquisadores, técnicos e alunos, que de diferentes formas buscam uma inteligibilidade possível sobre as trajetórias históricas e culturais percorridas pelos negros no Amazonas. “Procura-se contribuir para desfazer a ideia de que o Estado não teve a participação significativa desse segmento social em sua economia e cultura”, afirmou.
O convidado Babalorixá Raul Trindade de Oxum, dirigente espiritual do grupo Ylê Axé Omakatê, disse ser louvável a iniciativa do evento, pois na cultura amazonense existem poucas informações documentadas sobre os afrodescendentes e de pessoas que praticam essas culturas. “Temos sangue negro correndo em nossas veias, pois em algum momento da história, nossos ancestrais se relacionaram com essa raça. Por isso, é preciso perder a vergonha de ser negro”, comentou.
Segundo Patrícia Sampaio, uma das pesquisadoras responsáveis pelo projeto, a exposição também visou revelar dimensões ainda pouco conhecidas sobre a presença negra e africana. O ponto de partida foi a Manaus do século XIX, desvendando rostos e corpos de homens e mulheres escravos, seus lugares de convivência e de trabalho e suas experiências de liberdade.
Para a museóloga Lívia Baêta, o evento representa a resistência do povo negro que vive e que viveu em Manaus. “Os livros não dizem, mas o negro sempre contribuiu para a construção da cultura amazonense, das construções de palacetes à festa folclórica do boi-bumbá. As pesquisas provam isso”, revelou.
‘Cidade dos Encantados’
Durante a exposição, também houve o lançamento do livro “A Cidade dos Encantados”, do professor doutor Aldrin de Moura Figueiredo, da UFPA.
Segundo o professor, o livro estava pronto há 10 anos e foi fruto da sua dissertação de mestrado em História na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A obra faz um panorama pela história social da pajelança indígena, ao recontar histórias de pajés não somente da cidade de Belém, mas também de muitas cidades do interior da Amazônia. “Foram utilizadas narrativas recolhidas pelos diversos intelectuais que atuaram na região e fora dela”, afirmou.
A pajelança indígena, a cabocla e os denominados cultos afro-brasileiros também foram abordados pelo pesquisador. Como exemplo, citou os vuduns e os tipos de candomblés, muito frequentes no Pará e no Maranhão.
Pela manhã, o professor ministrou palestra sobre o livro na Ufam e à noite realizou lançamento do livro durante a exposição em homenagem ao Dia da Consciência Negra no Brasil.
Carlos Fábio – Agência Fapeam