Livro reúne dados sobre plantas tóxicas da Amazônia
A Amazônia é a região do país onde, atualmente, as plantas tóxicas causam os maiores prejuízos aos rebanhos bovinos, sendo uma das principais causas de mortes, além das perdas causadas pela fome em decorrência das enchentes e fatores climáticos. O curioso é que, apesar do tamanho da região, apenas três espécies são as responsáveis por quase todas as mortes ocasionadas por plantas tóxicas.
Em terra firme, boa parte das mortes é causada por uma só planta, Palicourea marcgravii, conhecida popularmente como cafezinho ou erva-do-mato, da família Rubiaceael. Na várzea, na área do Rio Amazonas, a principal planta responsável pelas mortes é a Arrabidaea bilabiata (gibata). Já na área do Rio Branco e seus afluentes, é a Arrabidaea japurensis, que não possui nome popular. Ambas pertencem à família bignoniaceae e são exclusivas da Amazônia. As três causam “morte súbita”.
Essas informações estão reunidas no livro “Plantas tóxicas da Amazônia a bovinos e outros herbívoros”, que acaba de ser reeditado pela Editora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A publicação é o resultado do trabalho dos pesquisadores: Carlos Hubinger Tokarnia; Jünger Döbereiner; Paulo Vargas Peixoto; José Diomedes Barbosa; Marilene de Farias Brito; Marlene Freitas da Silva.
Na obra, o leitor encontrará as plantas tóxicas identificadas e agrupadas conforme a importância como causa de mortandades em bovinos. Além disso, são fornecidos dados sobre: aspecto botânico; distribuição geográfica e habitat; espécies animais sensíveis à intoxicação sob condições naturais e experimentais; condições em que ocorre a intoxicação; partes e quantidades tóxicas da planta; início dos sintomas após a ingestão etc.
Rebanho bubalino é menos afetado
Em sua segunda edição, os principais acréscimos da publicação são relativos aos experimentos feitos em búfalos com Palicourea marcgravii (cafezinho ou erva-do-mato), Palicourea juruana (salsa ou batarana), Arrabidaea bilabiata (gibata). Os testes feitos comprovaram que o búfalo é mais resistente à ação tóxica das plantas. Por isso, os cientistas aconselham os criadores a criar búfalos no lugar de bovinos nas áreas onde as plantas ocorrem, com o intuito de diminuir os prejuízos.
O livro também reúne dados sobre as plantas mais conhecidas, que em experimentos mostraram possuir ação tóxica sobre bovinos. Contudo, em condições naturais, elas não são ingeridas ou não o são em quantidades suficientes para causar danos ao animal e que ocorrem em quase todo o Brasil.
A pesquisa foi desenvolvida em duas fases. A primeira envolveu os trabalhos de campo realizados durante viagens aos principais centros de criação de gado da região Amazônica: Médio e Baixo Amazonas; Ilha de Marajó; regiões de Altamira, Marabá, Conceição do Araguaia, Paragominas e Bragança; norte de Mato Grosso, Tocantins; oeste do Maranhão; Estados de Roraima, Amapá, Rondônia e Acre.
Durante os trabalhos de campo, foram coletadas informações sobre a mortandade e doenças em bovinos, presumivelmente causadas pela ingestão de plantas tóxicas e visitas às fazendas onde houve a mortandade. Nas locais, foram percorridos pastos para verificação da existência de plantas tóxicas conhecidas ou suspeitas para testes em bovinos e animais de laboratório. Ao todo, foram realizados experimentos com cerca de 100 plantas. Os pesquisadores procuraram estudar o quadro clínico-patológico das doenças espontâneas suspeitas de serem causadas por ingestão de plantas.
A segunda fase consistiu na identificação botânica, exames histopatológicos (permite afirmar com segurança a natureza de uma lesão), experimentos complementares em bovinos e animais de laboratório. Ao final, foi feita a comparação dos dados da intoxicação experimental com os observados na intoxicação natural.
Planta tóxica no sentido pecuário – É somente aquela que, quando ingerida pelo animal em condições naturais, causa danos à sua saúde ou mesmo a morte, as quais foram comprovadas experimentalmente.