Malária é vista pela mídia e poder público como endemia amazônica, diz pesquisadora
A malária é vista pela mídia e pelo poder público como uma endemia amazônica. A conclusão é da mestre do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS) do Instituto de Comunicação e informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fiocruz, Andréa Maria Pampolha Arruda.
Siga a FAPEAM no Twitter e acompanhe também no Facebook
O dado é o resultado da dissertação ‘Imprensa, Estado e Malária no Amazonas: vozes e sentidos tecidos no tempo’, apresentada no dia 30 de abril, no qual a jornalista manauara analisou 47 textos jornalísticos e documentos oficiais, do período de 1898 – 1900, durante o Ciclo da Borracha, e no século 21, nos anos de 2005 a 2007, para entender como a malária era tratada pela mídia e pelo poder público.
Segundo Andréa Arruda, nos discursos do período analisado foi verificado que a malária era tratada como uma doença geográfica e socialmente periférica. “São sentidos negativos e superlativos em que o doente é apenas eventualmente citado, tendo uma presença meramente ilustrativa nos textos. Além disso, verificamos que a ciência foi uma voz mais forte e presente no século 19, quando médicos e cientistas, mesmo a serviço do Estado, mantinham sua autonomia técnica, falando do lugar de especialistas”, disse Arruda.
De acordo com ela, a pesquisa mostrou que os acometidos pela doença não eram ouvidos para tratar da malária, figurando, a partir do século 21, como complementos da matéria jornalística. “No século 19, os únicos textos onde o doente cabia com nome e sobrenome eram os obituários. No século 21, quando (os doentes) aparecem como sujeitos individualizados, normalmente ocupam o lugar de ilustração da matéria, confirmando sentidos predeterminados, como ‘a malária castiga o bairro tal’”, disse a jornalista.
Em 2013, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), a malária afetou 198 milhões de pessoas e colocou em risco outros 3,2 bilhões (metade da população mundial). A Amazônia Legal (formada pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), segundo o Ministério, concentrou cerca de 99,5% dos casos.
O Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica do MS (Sivep-Malária), identificou, até o final de abril deste ano, 30.721 casos de malária na região amazônica. Segundo dados disponibilizados no Sivep-Malária, de 2012 a 2014 foram identificados 564,1 mil casos de malária na Amazônia Legal. Deste, 241,8 mil foram identificados em 2012, 177,7 mil em 2013 e 142,5 mil casos foram identificados de janeiro a dezembro do ano passado.
Estudos
Atualmente, estão sendo desenvolvidos no Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) 22 projetos de pesquisa relacionados à malária. Os estudos buscam a prevenção, tratamento, além do desenvolvimento de políticas públicas para combate e o controle da doença.
Entre os projetos está o do doutor em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do ILMD / Fiocruz Amazônia, Ricardo Agum Ribeiro. Ele está mapeando as influências das trocas de governo e/ou comando secretarias e órgãos relacionados no desenvolvimento de políticas públicas de combate à malária.
O estudo está sendo desenvolvido nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, por ser uma área indígena; Tabatinga, por estar na fronteira; Coari, pelo crescimento populacional nos últimos anos, e em Manaus, por ser a capital do Estado. “É uma análise político-institucional dos municípios. Trabalharei com a Secretaria estadual e as secretarias municipais, além da coordenação do combate à malária, para verificar como essa troca (de governo e/ou comando) pode afetar, ou não no controle e combate à doença”, disse o pesquisador.
O ILMD / Fiocruz Amazônia também estimula o intercâmbio de conhecimentos e a interação entre as instituições e pesquisadores da Amazônia Legal nos estudos referentes à malária por meio da Rede Inter-regional e Interdisciplinar de Pesquisa em Malária, coordenada pelo doutor em Relação Patógeno Hospedeiro pelo Instituto Ciências Biomédicas e pesquisador da Fiocruz Amazônia, Paulo Afonso Nogueira.
A Rede de Pesquisa em Malária é um subprograma temático do Programa de Apoio aos Núcleos de Excelência (Pronex – Rede Malária) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM), que tem o objetivo de promover projetos de pesquisa referentes à malária, com foco na pesquisa básica, centrada no parasita da malária, no hospedeiro (homem) e no vetor (inseto), e aplicada, voltada aos aspectos clínicos da doença
Fonte: ILMD, por Nathane Dovale