Manaus é estratégica para preservação da biodiversidade amazônica
Brasília-DF – “Manaus pode ser planejada para ser uma cidade mundial de marca amazônica”. A afirmação partiu da pesquisadora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a geógrafa Bertha Becker, durante a 1ª sessão plenária “Biodiversidade e os novos padrões de desenvolvimento via inovação”, na programação da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), com início na manhã desta quarta-feira (26/05), em Brasília-DF.
Becker, que posiciona-se de forma contrária à implantação do mercado de carbono e ao financiamento do não-desmatamento, defendeu o macrozoneamento ecológico-econômico da Amazônia Legal como uma alternativa para a sustentabilidade da região. “Certamente, há urgência em conter o desflorestamento, mas há diversos caminhos para alcançá-lo”, disse, destacando que a escolha do caminho é difícil, na medida em que intensos conflitos de interesses dificultam a identificação clara dos atuais projetos, mas essa identificação é essencial para informar à sociedade e aos tomadores de decisão.
Ela propôs, durante a 4ª CNCTI, que a capital amazonense seja a base para prestação de serviços ambientais, inclusive com uma bolsa de valores. “Isso é possível graças a sua posição ímpar frente à floresta amazônica sul-americana”, frisou.
A pesquisadora foi mais além e destacou que é preciso haver uma revolução científico-tecnológica na Amazônia, com foco no desenvolvimento de cadeias produtivas baseadas na biodiversidade, envolvendo as comunidades do âmago da floresta até os centros de pesquisa e as indústrias localizadas nas cidades. “É nesse contexto que Manaus seria uma base para múltiplos serviços ambientais, tais como água, energia renovável, energia solar, entre outras alternativas, tudo com foco na mudança e na inovação”, explicou em sua proposta.
Segundo ela, o empresariado brasileiro ainda não se deu conta das amplas possibilidades oferecidas pelos negócios sustentáveis que precisam ser dinamizados. “Não se trata, portanto, de uma economia verde focalizada nas técnicas, mas o que se propõe aqui é um novo modo de produzir, baseado no conhecimento, capaz de reproduzir ao máximo a sinergia da natureza e não de destruí-la”, afirmou.
A sessão foi coordenada por Luiz Gonzaga Belluzzo, da Universidade de Campinas/Unicamp, que mediou as apresentações feitas por pesquisadores e representantes de instituições, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Abertura da CNCTI
Com a participação de 3,8 mil participantes de todo país, a 4ª CNCTI teve início, na manhã desta quarta-feira, 26, no hotel Royal e Golden Tulip, em Brasília, sob a ótica da sustentabilidade.
O evento contou com a presença do diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), Odenildo Sena, da diretora técnico-científica da FAP, Patrícia Sampaio, do secretário de Ciência e Tecnologia do Estado, Marcílio de Freitas, e de representantes de instituições de ensino e pesquisa do Amazonas. Estiveram presentes na solenidade, analistas, gestores de instituições de pesquisa, empresários, tomadores de decisões e membros da comunidade em geral.
De acordo com o ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, o evento contribuirá para o crescimento do país por meio de propostas que vão consolidar uma política de Estado em ciência, tecnologia e inovação, com o desenvolvimento sustentável como foco principal. “O intuito é que a ciência nacional melhore cada vez mais a vida das pessoas e ajude o Brasil a crescer com sustentabilidade. Para isso, é fundamental uma ampla discussão entre os representantes dos diversos setores da sociedade”, disse Rezende.
Em sua fala de boas-vindas, o coordenador da 4ª CNCTI, Luiz Davidovich, conclamou os participantes a serem ousados, apresentando propostas viáveis, que garantam o alcance das metas do evento. “Essa Conferência tem um olhar voltado para o futuro. Não se inicia hoje e termina na sexta, mas já vem sendo preparada há meses, com as reuniões regionais, e culminará com a elaboração de um documento que vai nortear a formulação de propostas importantes para o progresso do país”, declarou.
A 4ª CNCTI prossegue até a sexta-feira (28/5), no Golden Tulip Brasília Alvorada. Mudanças climáticas, energia, recursos naturais, desigualdades regionais e educação científica de qualidade em todos os níveis são os principais temas discutidos no evento.
Cristiane Barbosa – Agência Fapeam
com informações do MCT