Mangabeira pretende rediscutir Amazônia


Futuro ministro defende projeto de gestão territorial ou zoneamento econômico e ecológico, com ações específicas para cada microrregião
Ainda sem pasta, mas falando como ministro, o professor e filósofo Roberto Mangabeira Unger disse que a questão da Amazônia é um dos pontos de avaliação do Ministério Extraordinário de Assuntos Estratégicos, pasta que será criada para abrigá-lo novamente no governo.

Em sua primeira aparição pública após os ajustes no órgão que cuidará do planejamento de longo prazo e das críticas dos parlamentares, ele disse, na Câmara, que há duas imagens da Amazônia. Uma é a da região como um grande parque para deleite da humanidade, sem atividade econômica. Outra é a de que vai ser tomada pela cultura da soja e pela pecuária. “Essas duas idéias devem ser rejeitadas; não podemos aceitá-las.”

Na semana passada, uma rebelião do PMDB levou o Senado a rejeitar a Medida Provisória 377, que criava a Secretaria Especial de Planejamento de Longo Prazo, ocupada pelo filósofo desde junho. A saída encontrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi criar o 37º ministério para acomodar Mangabeira – que em 2005 classificou o atual governo de “o mais corrupto da história nacional” e pregou seu impeachment.

Na terça-feira (02/10), Mangabeira não quis comentar se a extinção da secretaria atrapalharia seu trabalho. “Minha função é ajudar a formatar e discutir uma proposta que atenda ao desejo mais forte do país: elaborar um modelo de desenvolvimento baseado na ampliação do crescimento econômico e da inclusão social.”

Ele disse que o desafio é encontrar uma maneira de transformar economicamente a Amazônia, preservando a “enorme” riqueza local. O ponto de partida, afirmou, é a elaboração de um projeto de gestão territorial ou zoneamento econômico e ecológico, além do desenvolvimento de projetos produtivos para cada uma das microrregiões.

“Com isso, conseguiremos construir uma relação íntima ou orgânica entre o imperativo da produção e da preservação ambiental.”

Mangabeira classificou o potencial energético da Amazônia de “imenso”. Ele lembrou das disputas entre engenheiros e ambientalistas sobre o assunto. “Quando colocada essa discussão, eu garanto que os engenheiros acabarão ganhando.”

Para Mangabeira, o principal problema do país não é de natureza política nem econômica. “É nossa disposição para obedecer, para aceitar o formulado, o que nos impõe ou recomendam de fora”, criticou. “Audácia e imaginação, disposição para revelar-se. É o que eu quero ver instalado no Brasil.”

Ele contou que chegou a algumas constatações. A primeira é que não adianta formular projetos conceituais abrangentes. “Seria peça de museu.” Outra foi a de que o país está sob ameaça de ficar imprensado entre as economias de trabalho barato. “Não queremos escapar pelo lado baixo, de aviltamento do trabalho. O Brasil não tem futuro como uma China com menos gente.”

Uma terceira constatação é a de que “não há estratégia de desenvolvimento nacional sem estratégia nacional de defesa”. Ele disse que está trabalhando com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e com as Forças Armadas na formulação de estratégia para ação em hipóteses de paz e de guerra.

Jornal da Ciência

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