Máquina pode ajudar produtores de Malva


Na intenção de melhorar a qualidade de vida dos malvicultores de três comunidades do município de Manacapuru, o programa que possibilita estudos a cerca dos Potenciais Impactos e Riscos Ambientais da Indústria do Petróleo e Gás Natural no Amazonas (Piatam) introduziu uma máquina que gera mudanças significativas no processo tradicional da cultura da Malva.

As comunidades de Santo Antônio, Bom Jesus e Nossa Senhora das Graças, denominadas pelo Piatam de cinturão da Malva, experimentam o uso de uma máquina descortissadora que está em fases de teste para posteriormente ser aprimorada. Este aparelho foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Nacional de Pesquisas Ambientais (Inpa).

Malva é uma planta lenhosa cuja fibra obtida da casca é matéria-prima para a indústria automobilística na fabricação de forro para o teto e bancos de carros, e para indústria de sacaria. A exportação de feijão, arroz e açúcar podem ser realizados somente em sacos de malva.

Na separação da fibra por meio do processo tradicional, os feixes são submergidos por 12 dias em rios e lagos. A máquina reduz este período para cinco dias e diminui o peso dos feixes substancialmente por fazer a separação da fibra do restante da planta.

A cultura da malva foi introduzida no Brasil a mais de 200 anos e até então o sistema de produção não havia sofrido nenhuma modificação. O processo tradicional impõe aos trabalhadores rurais, que compreendem homens, mulheres e crianças a permanência de 6 horas da manhã às 18 horas da tarde com o corpo submerso na água para manipulação do produto.

Os riscos ocasionados por esse longo período de molho vão de picadas de cobras, ferradas de arraia e agravamento de doenças como reumatismo, resfriados e glaucoma. Adalto Silva Lima, 19, que cursou até a 8ª série do ensino fundamental e desde os 15 trabalha com a produção de malva, conta que certo dia estava trabalhando quando uma sucuri lhe picou o braço esquerdo.

Maria de Fátima Barboza, 50, que está afastada das plantações de malva por ter contraído fortes dores reumáticas devido ao peso de 80 quilos dos feixes que carregava nas costas, afirma que vive mais tranqüila ao ver que seu esposo, Sebastião de Lima Mendonça, 50, já não correr tantos perigos como antes.

Na forma tradicional de produção, os malvicultores estão dependentes do ciclo dos rios. O plantio é realizado durante o período da várzea e a colheita se dá à medida que o rio vai enchendo. Assim se faz para encurtar o perímetro até água onde das varas de malva são retiradas às fibras, e onde é abandonada a parte da planta de não interessa aos produtores.

Com a incorporação da máquina, que por ser portátil pode ser levada para o interior das plantações, a separação do feixe do restante da planta ocorre lá mesmo, na área de plantação. Além de não poluir mais o rio pela liberação de toxinas no processo de decomposição dos resíduos não aproveitados pelos malvicultores, a parte antes desperdiçada agora é incorporada ao solo como adubo natural.

Segundo o professor do departamento de agronomia da Ufam, Carlos Messias Medeiros, com a independência do ciclo dos rios, a produção que antes era realizada uma vez por ano, agora pode ser realizada duas vezes ano ou mais.

Para o produtor Rural, Sebastião de Lima, “a comunidade está unida, pois todos estão roçando juntos. A máquina garante a qualidade que o mercado exige e pode trazer moradores que abandonaram a produção pela demora do retorno lucrativo”.

Sebastião Lima espera para o futuro que organização dos comunitários, que hoje somam o total de 15 malvicultores em Nossa Senhora das Graças, possa excluir a presença do atravessador (uma espécie de agente comercial), e vender sua produção diretamente ao governo.

O produtor destacou ainda que no ano passado o quilo da malva era vendido ao preço de R$ 1,35 e que o preço atual de 1,05 se dá ao afastamento das famílias dos meios de produção, que ocasiona demora na retirada da vibra de dentro do lago, que por conseqüência faz o produto ficar frágil. “As vibras de boa qualidade, obtidas com a máquina, misturam-se em meio às de má qualidade fazendo com que o nosso produto seja desvalorizado” afirmou Sebastião Lima.

“O processo artesanal produz diariamente 100 quilos de vibra por dia. Com a introdução da máquina desfibriladora a produção salta para 350 quilos dia. Em termos percentuais o aumento é de 250%”, afirmou Messias Medeiros.

 

Cleidimar Pedroso – Decon/Fapeam

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