Marcadores moleculares ajudam na conservação do peixe acará-açu
Pesquisas conduzidas pela cientista Carolina Fernandes Silva de Sousa, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), demonstraram que a espécie ainda apresenta uma moderada variabilidade genética, alta heterozigocidade (maior diferenciação entre os indivíduos) e, provavelmente, um alto fluxo gênico (movimento de genes de uma população para a outra).
A vantagem da variabilidade genética, conforme Souza, permite às populações de peixes, submetidos às mudanças ambientais, respostas com maior sucesso às pressões ecológicas. Ela disse que a variabilidade genética é a base para que as espécies evoluam e se adaptem às modificações ambientais naturais ou causadas pelo homem.
A pesquisa vem sendo desenvolvida com o auxílio do Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas (RH-POSGRAD – Mestrado) mantido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
“Ao se reproduzirem, os peixes conseguem transmitir suas informações genéticas aos filhotes. A baixa na variabilidade leva a uma redução populacional, queda da adaptabilidade e extinção da população local”, destacou.
Segundo Sousa, os dados são preliminares, por isso estão sendo analisados juntamente com os obtidos nos levantamentos da pesca de cada comunidade. O objetivo é verificar se a baixa variabilidade nos lagos pode estar relacionada às atividades da pesca mais acentuadas.
Denominado “Desenvolvimento e caracterização de marcadores microssatélites para Astronotus crassipinis a partir de biblioteca genômica enriquecida”, o projeto pretende contribuir para a ampliação dos conhecimentos sobre a espécie e garantir sua preservação. As informações servirão para criar medidas que previnam impactos negativos ou reduzam sua magnitude na preservação e manejo da espécie.
“Pesquisas sobre a variabilidade genética de espécies da ictiofauna amazônica (conjunto das espécies de peixes que existem na área com fronteiras definidas pela natureza e não pelo ser humano) são de suma importância para o levantamento de dados, conservação e manejo de populações naturais ou artificiais, que apresentam grande relevância econômica e ecológica para a região”, afirmou.
Marcadores
Durante dois anos, a pesquisadora desenvolveu e caracterizou marcadores moleculares (todo e qualquer fenótipo molecular oriundo de um gene expresso) para a espécie, no intuito de desenvolver planos de gestão e conservação adequados para as populações localizadas nos lagos Preto e Ananá, próximos ao município de Coari, localizado a 368 km de Manaus e lago Piranha, próximo a Manacapuru, distante de Manaus a 68 km.
“Os marcadores foram criados para avaliar a variabilidade genética, o grau de estruturação, o grau de endogamia (reprodução de espécies da mesma população) e o fluxo gênico (movimento de genes de uma população para a outra) da espécie na bacia Amazônica”, destacou.
A escolha dos lagos se deu a partir de um estudo anterior realizado na região pelo Programa de Inteligência Socioambiental Estratégica da Indústria do Petróleo na Amazônia (PIATAM). Na ocasião, foram analisados os potenciais riscos de impactos ambientais da indústria do petróleo e do gás no Estado do Amazonas. De acordo com a pesquisadora, estudos nesse trecho contribuem para a implantação de medidas de preservação ambiental dos peixes na área.
“Estamos tendo a oportunidade de comparar nossos resultados com as características socioambientais das comunidades próximas aos lagos desse trecho, bem como com os parâmetros da dinâmica de populações, assim poderemos subsidiar ações de intervenção, monitoramento e controle populacional, além de avaliar a influência da indústria petroleira sobre as características genético-populacionais de diferentes espécies de peixes dessa região”.
Método de verificação
Para o desenvolvimento da pesquisa foi firmada uma parceria entre o Laboratório de Expressão Gênica do Centro Universitário Nilton Lins (CUNL) e o Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM) do Inpa. O projeto também contou com o apoio e a orientação do Departamento de Biologia Vegetal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com o Laboratório de Evolução e Genética Animal (Legal) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
A técnica utilizada no trabalho foi a construção de Bibliotecas Genômicas Enriquecidas com Microssatélites, que são unidades de DNA com cerca de um a seis nucleotídeos repetidos em sequência nos genes de vários organismos. Estes são utilizados como marcadores moleculares por possuírem alto nível de polimorfismo (variação genética da população), o que proporciona sua utilização em diversos propósitos de estudo populacional, como estudos de paternidade, taxa de migração e estruturação de populações.
Luana Gomes e Luís Mansuêto – Agência Fapeam