Médica amazonense comprova presença da borreliose no Brasil


A confirmação da presença da borreliose, doença transmitida por carrapatos a humanos, a partir de estudos realizados no Amazonas por pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM) representa um feito inédito no Brasil.

A constatação é da médica amazonense Mônica Santos, em sua tese de doutorado intitulada “Ocorrência de Borreliose no Estado do Amazonas: Evidências Clínicas e Laboratoriais”, que confirmou a existência, no país, da bactéria Borrelia por meio de estudos laboratoriais realizados em conjunto com a Universidade de Graz (Áustria) e com o professor Rodrigo Rodrigues, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

O estudo foi realizado no período de 2006 a 2009 pelo Programa de Pós-Graduação da FMT-AM, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e Fundação Muraki.

src=https://www.fapeam.am.gov.br/arquivos/imagens/imgeditor/borreliose.jpgSegundo Santos, que lidera o grupo de pesquisa em borreliose da FMT-AM junto com seu orientador, Sinésio Talhari, a doença é mais frequente em países do hemisfério norte e, por isso, sempre ficava a dúvida de que essas lesões seriam mesmo causadas pela bactéria do gênero Borrelia. A doença foi identificada pela primeira vez no país em 1987, pelo então pesquisador e hoje diretor-presidente da FMT-AM, dr. Sinésio Talhari.

“Essa descoberta foi importante para demonstrar a existência de uma doença que, sem tratamento adequado, pode cursar com manifestações sistêmicas graves e para alertar a classe médica em geral sobre sua existência, buscando assim um diagnóstico e tratamentos precoces”, destacou a médica.    

Sintomas

A infecção é diagnosticada primeiramente pela presença de grandes placas avermelhadas que podem chegar a 50 centímetros, localizadas principalmente nos membros superiores e inferiores. “Essa lesão inicial costuma surgir de três a 30 dias da picada do carrapato e pode desaparecer, mesmo sem tratamento. O problema é que, sem o tratamento adequado nessa fase inicial, a doença pode causar manifestações neurológicas, cardíacas e reumatológicas graves até 20 anos após a infecção inicial”, frisou.

O tratamento da doença é feito com antibióticos orais por períodos que variam de 14 a 21 dias.  A médica recomenda que as pessoas evitem o contágio usando roupas e repelentes que impeçam que o carrapato fixe-se à pele. “Nos Estados Unidos existem pesquisas em relação à vacina, mas nenhuma ainda foi aprovada para uso em humanos”, explicou. 

De acordo com a pesquisadora, ainda não há estatísticas precisas em relação à ocorrência da doença. “Entre as pessoas mais suscetíveis a adquirir borreliose, estão aquelas que entram em contato com animais portadores dos carrapatos, como agricultores, pecuaristas, além das que frequentam áreas de matas próximas a rios, que são locais onde podemos também encontrar os vetores da doença”, alertou. 

Próximo passo

Após a constatação da presença da doença, o próximo passo é a identificação dos carrapatos vetores da doença e o levantamento de possíveis manifestações sistêmicas (principalmente cardíacas, neurológicas e reumatológicas) associadas à fase mais tardia da borreliose.

src=https://www.fapeam.am.gov.br/arquivos/imagens/imgeditor/borrec.jpgUm outro ponto importante é tornar mais conhecida à doença entre os médicos generalistas para que esses possam fazer uma suspeição clínica da doença e encaminhar os pacientes para tratamento o mais precocemente possível. “Nós já estamos elaborando um projeto de pesquisa, que será desenvolvido em parceria com cardiologistas, neurologistas e reumatologistas, para identificação da bactéria Borrelia em pacientes com doenças reumatológicas, neurológicas e cardíacas compatíveis com borreliose”, afirmou Santos.   

Sobre a pesquisa

Para realizar a pesquisa, ao longo de três anos, os dermatologistas da FMT-AM e a doutora acompanharam 37 pacientes amazonenses (Manaus e interior do Estado) que chegaram ao ambulatório da Fundação com essas e outras manifestações dermatológicas.

Antes da pesquisa, o que havia eram relatos de casos com suspeita clínica da doença no Brasil, mas sem a demonstração do agente etiológico. “Todos os 37 pacientes tinham borreliose e ficaram curados por meio do tratamento feito com antibióticos. Em nove deles conseguimos comprovar a existência da bactéria, pela primeira vez no país”, observou a dermatologista.

(Fotos: Divulgação)

Cristiane Barbosa – Agência Fapeam
Colaboração: Assessoria de imprensa da FMT-AM

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