Modelos matemáticos analisam como vivem ribeirinhos do Amazonas
Os órgãos governamentais, as instituições de ensino e pesquisa e as organizações não-governamentais (ONGs) agora têm disponível para ajudar na elaboração de políticas públicas para o Amazonas o Índice de Desenvolvimento Sustentável Local (IDSL). A metodologia foi desenvolvida a partir de índices já existentes, por exemplo, o de Desenvolvimento Humano, o Índice Piloto de Performance Ambiental (IPA), o Índice de Desenvolvimento dos Pescadores de Bagres (IDPB) e o Índice Agregado de Sustentabilidade da Amazônia (IASAM).
O IDSL utiliza modelos matemáticos para tentar compreender as especificidades de locais com densas florestas onde ainda resistem atividades extrativistas.
O índice nasceu a partir de pesquisas realizadas em nove comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Piranha, que foi criada em 1997 pela Prefeitura Municipal de Manacapuru com base em um modelo participativo dos recursos naturais, que integrasse aspectos ambientais, sociais e econômicos.
O objetivo da reserva era possibilitar a permanência dos ribeirinhos no local, bem como a conservação dos recursos naturais, os quais estavam sofrendo com a pressão de extrativistas de madeira e pescado. Além disso, após cinco anos de sua implantação, a reserva sofria com a enorme dificuldade de viabilização sócio-econômica e ambiental, devido à falta de ferramentas para a avaliação e monitoramento do seu plano de manejo.
Foi então que o pesquisador Antônio Luiz Menezes de Andrade, da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (SDS-AM) desenvolveu o IDSL. A pesquisa foi divulgada na revista científica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Acta Amazonica, no final do ano passado.
O índice tem como objetivo avaliar, comparativamente, os meios de vida das pessoas que viviam nas comunidades a partir dos capitais: humano, social, natural, físico e financeiro. A idéia era propor indicadores de avaliação e monitoramento para áreas protegidas da Amazônia. Para isso, foram coletados dados por meio de entrevistas com os moradores, aplicação de questionários, bem como conversas informais com os ribeirinhos.
A adaptação do índice, segundo o pesquisador, demonstrou ser eficiente e eficaz quando da utilização dos meios de vida sustentáveis. Ele explica que foi possível retratar o contexto ambiental, social e econômico das populações rurais tanto de várzea quanto de terra firme. Além disso, permitiu análises profundas do desenvolvimento sustentável comunitário, por unidade e até mesmo familiar.
“Os resultados obtidos demonstraram um melhor desenvolvimento dos meios de vida dos comunitários das comunidades da zona de uso do Piranha, em relação às zonas ao norte e sul de Manacapuru, ou seja, mais afastadas da reserva. O destaque foi o capital financeiro, que atingiu os maiores índices de desenvolvimento sustentável local”, relata.
O IDSL construído mostrou-se representativo da realidade local, de fácil aplicação, eficiente e eficaz para medir o desempenho dos indicadores integrantes dos capitais, de acordo com pesquisador. Ele afirma que os recursos naturais têm exercido um papel importante no desenvolvimento social e econômico da região Amazônica.
Entretanto, práticas de exploração sem critérios técnicos e o gerenciamento inadequado desses recursos, vêm causando impactos negativos sobre o meio ambiente, reduzindo a diversidade biológica. Por isso, com o IDSL é possível apontar alternativas para os tomadores de decisões em concordância com os princípios da sustentabilidade e recomendações da Agenda 21 Global.
Resultados da pesquisa – Os levantamentos foram feitos em nove comunidades, sendo três da zona de uso sustentável e outras seis que ficam ao norte e sul de Manacapuru, ou seja, na zona de amortecimento da reserva. As comunidades foram distribuídas em três sistemas, os quais estão situados à margem esquerda do rio Solimões: Supiazinho; Piranha e Sacambú.
O sistema Piranha teve o melhor desempenho em quatro capitais: Humano, Natural, Físico e Financeiro. Em relação aos demais sistemas, o financeiro consegue superar o índice médio de 0.50, o qual é aceito como regular pelos Meios de Vida Sustentáveis.
Já o sistema Sacambú, obteve o menor desempenho em relação aos outros sistemas nos capitais humano, natural, físico e financeiro. Contudo, apresentou o melhor resultado no capital social. A comunidade com os melhores índices foi de Águia também no capital social. Segundo o pesquisador, nenhum capital atingiu índice médio de 0.50, o que é tido como insustentáveis.
O último sistema, Supiazinho, destacou-se pelo capital humano, igualando-se, ao sistema Piranha e nos demais capitais superou o Sacambú, exceto no social, onde obteve o menor desempenho. “As comunidades que compõem o sistema Supiazinho obteve os melhores resultados em quase todos os índices analisados”.
Sobre a ACTA AMAZONICA
Revista científica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), de caráter multidisciplinar, que publica artigos científicos de colaboradores internacionais e nacionais, em português, espanhol, e inglês, após revisão por pares antes da publicação. Desde 1971, a revista publica artigos originais sobre temas relativos a Amazônia. Atualmente, é editada com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam)
Informações no site http://acta.inpa.gov.br/
Foto: Portal Amazônia