Modo de falar no Médio Amazonas é tema de pesquisa
“Palha” ou “paia”, “tinham” ou “tiam”, qual das variações estão corretas? Quando o assunto é língua portuguesa, é difícil apontar se esta ou aquela é a maneira certa de falar, tendo em vista as regras e exceções. Contudo, de acordo com a norma culta, “palha” e “tinham” são as corretas.
Mas as variações populares também podem ocorrer. Foi o que explicou Francinery Gonçalves Lima Torres, mestre em Letras pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que estudou esses fenômenos nos municípios de Itapiranga e Silves, região do Médio Amazonas.
Sob a orientação da pesquisadora Maria Luiza Cruz-Cardoso, doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Torres buscou registrar os aspectos do falar amazônico nestes dois municípios.
O projeto tomou como base o Atlas Linguístico do Amazonas (ALAM). A pesquisa é o resultado do trabalho de mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia da Ufam. O trabalho contou com aportes financeiros da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
Durante a pesquisa de campo, ela investigou as variações linguísticas dos fonemas palatais “LHE” e do “NHE”. “Através do emprego dessas variantes, verifiquei os fatores de ordem interna e externa que influenciaram ou influenciam no falar dessas comunidades linguísticas. Entre as hipóteses está a imigração portuguesa, que foi muito forte, o contato com a televisão ou foram adquiridas no cotidiano”, explicou.
Segundo Torres, quando a pessoa tem até a quarta série do ensino fundamental, ela tende a vocalizar as palavras, ou seja, pronunciar “paia” ou “tiam” ao invés de “palha” ou “tinham”, por exemplo. “Para o trabalho dialectológico – estudo dos dialetos, é fundamental que os informantes não tenham uma formação superior à quarta série”, disse.
O projeto trouxe surpresas, conforme a pesquisadora. Isso porque existe uma diferença grande entre as duas cidades. “Em Itapiranga, as mulheres vocalizam mais. Em Silves, os homens. Mas em geral, a vocalização é muito forte, principalmente no “NHE” nos dois municípios”, completou. Todavia, isto não necessariamente significa que a pessoa está errada, o que ocorre é que apenas tem uma linguagem diferente.
De acordo com Torres, a escolha das duas cidades se deu porque, em algum momento, as histórias de ambas se confundem, já que eram uma única comarca.
Metodologia
Em cada cidade, Torres entrevistou seis pessoas (homens e mulheres), dividas em três faixas etárias (18-35, 36-55 e a partir dos 56 anos). Com aplicação de questionários e conversas livres, as variações foram detectadas e analisadas. “Todas as entrevistas foram gravadas, transcritas e avaliadas utilizando um programa de computador criado especificamente para essa finalidade”, enfatizou.
Kelly Melo e Luís Mansuêto – Agência Fapeam