Musa abre exposição e novas instalações no Jardim Botânico
10/12/2013 – O Museu da Amazônia inaugura na próxima quinta, dia 12, às 9h30, no Jardim Botânico, um novo orquidário experimental, laboratórios e a exposição Peixe e Gente, baseada no livro “Gente e Peixe no Alto Rio Tiquié”, do Instituto Socioambiental, organizado pelo antropólogo Aloisio Cabalzar, com ilustrações de Mauro Lopes e Feliciano Lana. O livro trata sobre os conhecimentos indígenas e ictiológicos, mitos e conceitos cosmológicos relacionados à origem dos peixes e suas relações com o homem.
A direção de arte da exposição é do artista plástico Zeca Nazaré. Também trabalharam na montagem da exposição o artista Feliciano Lana, da etnia desana, que ilustrou mitos e histórias e a fachada da exposição, conhecedores e artesãos indígenas das etnias Tuyuka, Tukano e Yeba masã, do rio Tiquié e profissionais do Musa.
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A exposição, organizada com recursos provenientes da Lei Rouanet, integrados pelas empresas Bemol e Fogás, e das seguintes instituições: Fundo Amazônia (BNDES), CNPq, Fapeam, UEA e SECTI. Ocupa cerca de 1 mil metros quadrados do centro de visitação do Museu da Amazônia, na Reserva Florestal Adolpho Ducke (em duas tendas esticadas na floresta e um pavilhão) e retrata, através de mapas, mitos e artefatos indígenas a rica e complexa relação entre homens e peixes no Alto Rio Tiquié, região da bacia do Rio Negro. Objetos de cerâmica e cestaria também compõem o acervo da exposição.
A exposição conta com uma cozinha tipicamente indígena, inspirada nas comunidades Pirarara (Médio Tiquié) e Caruru (Alto Tiquié), onde são preparados os pratos da culinária do alto Rio Negro. As armadilhas de pesca foram trazidas das comunidades Caruru, São Domingos, Bela Vista, São Paulo (etnia Tukano) e São Pedro (Tuyuka, Yebamasã), ou confeccionadas no próprio local da exposição. São jequis variados, imihnó (cacuri portátil), esteiras (grandes e pequenas), matapis, caiás e puçás – dispositivos fixos utilizados na captura de peixes.
Armadilhas e abstinência sexual
Os povos indígenas têm uma relação muito especial com os peixes. Não apenas por constituir o principal item de sua dieta, depois da mandioca, mas por seu significado cosmológico, que envolve lendas e rituais de construção.
Depois de fazer o matapi, por exemplo, ao voltar para casa, o pescador tem que fazer jejum e seguir certas regras. “Não pode se assustar, levar ferrada de caba, fazer ou ouvir muito barulho, sorrir e falar alto, pegar criança chorando, funcionar motor, comer pimenta verde (só se for moqueada), beber manicuera quente e, mesmo sentindo frio, o pescador não pode se esquentar no fogo, nem deitar com a mulher, dizem os pensadores indígenas”, explicam os irmãos tukano Adalberto e Roberval Pedrosa, da comunidade de Serra de Mucura.
Montar um cacuri, outro tipo de armadilha, não é apenas trabalhar com habilidade cipós, madeiras e paxiúba. Sua manufatura e utilização envolvem também um conjunto de regras e restrições que influenciam diretamente no funcionamento da armadilha. Durante a coleta dos materiais, por exemplo, deve-se evitar o consumo de carne, alimentos picantes e quentes. O homem que for tirar as matérias-primas não deve ter relações sexuais antes de sair para a floresta. Também deve evitar os ruídos produzidos por certas aves, pois se acredita-se que estes serão transmitidos para sua armadilha e vão assustar os peixes.
Além de restrições alimentares, os homens que levantam um cacuri devem fazê-lo em silêncio e com uma atitude comedida e tranquila, principalmente ao tecer os paris de cipó e paxiúba. Esta atividade é realizada longe da vista das pessoas e tem múltiplos aspectos: tecer (seera linguagem kotiria) é um ato técnico, mas também intelectual e espiritual. Entre os povos Tukano, um homem é considerado adulto quando, entre outras habilidades, aprende a tecer.
Formas femininas e engenharia apurada
Entre os conhecedores tukano comenta-se que, ao se levantar um cacuri, também se constrói o corpo de uma mulher. Isso é possível através de benzimentos. Assim, o trabalho na armadilha não é apenas técnico, mas também mágico. As partes do wairo coincidem com a anatomia de uma mulher sentada à beira do rio, com pernas, costelas, coluna, cabelo e vagina.
As armadilhas exigem técnica apurada e esforço coletivo. O Caiá, a maior delas, é uma grande esteira (jirau) de paxiúba suspensa no nível superior de uma cachoeira, apoiada em estrutura grande e sólida, que suporta o peso de vários homens adultos. A armação, que suporta o jirau de paxiúba, é feita com esteios e varas, amarrados com cipó. Demanda uma semana para ser construído. Os construtores permanecem em uma barraca provisória durante os dias de trabalho, sem retornar para casa.
Matapi é a mais utilizada e simples de fazer. De forma cônica, tem a entrada grande em forma de funil e o fundo estreito e amarrado. A abertura é colocada a favor da correnteza, encaixada em cercado rústico de varas entrelaçadas com galhos e folhas. Esse cercado tem extensão variável, chegando a 20 ou mais metros; tendo suas paredes internas em ângulo que conduz os peixes à entrada da armadilha. Os peixes entram quando estão descendo com a correnteza.
Orquidário e laboratórios
Serão inauguradas, ainda, as novas instalações do viveiro de orquídeas e bromélias e um prédio para laboratórios, sala de reuniões e eventos. O orquidário, totalmente reformado, tem área de 250 metros quadrados e altura entre 3,30 e 7 metros no vão central. A estrutura metálica sustenta uma cobertura em sombrite (tela) e tem abertura para circulação de pássaros e insetos, essenciais para a polinização das plantas. Também estão previstas aberturas na parte inferior do prédio para entrada de sapos, também frequentadores assíduos das bromélias.
Serviço – Inauguração
Exposição Peixe e GenteLocal: Tenda no Jardim Botânico
Av. Uirapuru, bairro Cidade de Deus, Manaus – AM
Inauguração: 12/12/2013 – 9h30
Horário de visitação: De terça a domingo, das 8h às 17horas.
Entrada gratuita
Fonte: D24 AM