Nível d’ água impacta ninhos de jacarés no Amazonas


O ano de 2014 foi marcado por uma seca atípica na Amazônia. O nível d’água não baixou como em anos anteriores e a chuva, que geralmente iniciava em novembro, começou em outubro. Esse início antecipado da chuva fez o nível d’ água subir alagando ninhos de jacarés em regiões da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas. A constatação foi feita por pesquisadores do Instituto Mamirauá que monitoram os ninhos de jacarés desde 2007.

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Com isso, das oito áreas monitoradas na Reserva Mamirauá, em uma delas os pesquisadores encontraram corpos de água com até 40% dos ninhos alagados. A coloração preta dos ovos indica o apodrecimento dos mesmos. “Nós já registramos, em anos anteriores, a alagação de ninhos, sobretudo nos ambientes do Aranapu, que é um setor da Reserva Mamirauá [vide mapa 1]. Nessa área, os ninhos são colocados nos corpos d’água principais como canos e lagos, onde qualquer mudança da água é muito mais direta. Só que em 2014, o nível d’água não desceu tanto e começou a encher um pouco antes do normal”, explicou Robinson Botero-Arias, pesquisador do Instituto Mamirauá.

Mapa 1 – Áreas com ninhos monitorados pelo Instituto Mamirauá . Fonte: Geoprocessamento / Instituto Mamirauá .

Mapa 1 – Áreas com ninhos monitorados pelo Instituto Mamirauá . Fonte: Geoprocessamento / Instituto Mamirauá .

Segundo o pesquisador, a porcentagem de ninhos que estavam alagados foi maior do que em anos anteriores: “No ano passado, nós monitoramos 347 ninhos na Reserva Mamirauá, sendo que mais de 50 foram perdidos pela alagação. Se a gente faz uma somatória geral na área que abrange o estudo, na Reserva Mamirauá, 15% dos ninhos foram perdidos. Há lagos em que todos os ninhos foram inundados, e todos os ovos perdidos”.

Com o objetivo de estudar a ecologia de nidificação dos jacarés, o Instituto Mamirauá monitora os ninhos desses animais. As fêmeas constroem os ninhos em pequenos montes de vegetação, localizados próximos à água, e passam a vigiá-los. Quando os pesquisadores encontram os ninhos sem a presença das mães, eles abrem esses ninhos, procurando pelos ovos. São registrados os dados de número total de ovos no ninho, bem como dados de peso, comprimento e largura.  Entre dezembro e janeiro é a época de nascimento dos filhotes e os pesquisadores retornam aos ninhos para acompanhar o sucesso da eclosão e registrar quantos foram predados e quantos eclodiram.

Na opinião do pesquisador, possivelmente o percentual de ninhos perdidos em 2014 não representa uma consequência imediata para a conservação de jacarés. “Nós temos uma espécie muito abundante e as taxas de recrutamento [dos indivíduos que se inserem na população e são sexualmente ativos] são relativamente baixas. Cada ninho tem, em média, cerca de 40 ovos, portanto acreditamos que apenas um indivíduo vai chegar à vida adulta. Para um ano, talvez o efeito não seja tão negativo. Mas se isso tornar-se um padrão e começar a ocorrer ano após ano será necessário preocupar-se. Por enquanto, é um evento natural, já que temos uma população bastante saudável, bastante abundante”, analisou Robinson.

 

Texto: Eunice Venturi

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