Nível da qualidade da produção científica é alvo de debates em Brasília


Brasília/DF – O avanço da ciência brasileira tem sido notável nas últimas décadas, em termos de produção científica em revistas indexadas. No entanto, o desafio para incrementar os trabalhos científicos de forma qualitativa foi um dos pontos altos do debate ocorrido na 3ª Sessão Plenária “Ciência Básica e Produção do Conhecimento: um desafio para o Brasil”, dentro da programação da 4ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia (CNCTI), nesta quinta-feira (27/05), no Royal Tulip Hotel, em Brasília/DF.

Ao falar sobre o crescimento no número de mestres e doutores formados no país, o presidente da Associação Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis, ressaltou o importante papel das Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados (FAPs), destacando a FAPEAM, que vem contribuindo de forma sistemática para o salto na formação de recursos humanos no Estado do Amazonas. “O cenário das FAPs é notável, pois elas apresentam vários projetos de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da ciência”, disse.

Palis informou que, segundo a Capes, o número de doutores titulados chegou a cerca de 2 mil em 1995 e 11,5 mil em 2009, o que representa uma taxa média de crescimento anual de mais de 12%. “Há que acelerar, mas sem perder a qualidade”, destacou Palis.

Competitividade e qualidade

Nesse contexto, o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, afirmou que a “evolução qualitativa” deve ser reconhecida, chamando a atenção para o impacto crescente dos números da produção científica brasileira, mas ressaltando ainda estarem abaixo da média mundial. “Este é um desafio que preocupa e torna-se mais difícil porque se refere a aspectos qualitativos”, disse.

Brito Cruz apontou alguns desafios para um salto qualitativo na produção científica do país, destacando a possibilidade de prazos mais longos por parte das agências de fomento. “É possível sim, pois projetos ousados requerem cinco ou mais anos, teses ousadas podem demorar mais, especialmente em certas áreas”, frisou.

Entre outras questões, ele abordou a importância do maior envolvimento das instituições. “Projetos longos e caros requerem apoio institucional, nos aspectos administrativos, na gestão, e no apoio técnico. As agências exigem pouco, as instituições garantem pouco”, asseverou.

 O diretor-presidente da FAPEAM, Odenildo Sena, concorda com Brito Cruz, destacando que o apoio das instituições de ensino e/ou pesquisa seria uma contrapartida para com os pesquisadores, que têm captado bastante recursos para essas instituições.

src=https://www.fapeam.am.gov.br/arquivos/imagens/imgeditor/ciencia%20b.jpgSegundo ele, as instituições não têm recursos para realizar pesquisas e, por isso, é preciso que ofereçam essa contrapartida aos pesquisadores, que criem estrutura mínima para ajudá-los a lidar com a burocracia, que deve ficar por conta de estruturas criadas no âmbito institucional. “Senão o pesquisador tem que parar seu trabalho para prestar contas. Rigorosamente, penso que não é competência dele”, afirmou.

 

Contraponto

O palestrante Sérgio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apontou os fatores que ainda dificultam a produção de ciência com alta qualidade: pesquisa baseada na pós-graduação, tradição de pesquisa com baixos níveis de criatividade e inovação, além de ênfase no rápido retorno tecnológico da pesquisa.

Pena questionou o modelo de funcionamento das agências de fomento, que segundo ele, têm “demanda criacionista” e ênfase em rápido retorno das pesquisas. “As agências de fomento insistem que projetos submetidos tenham início, meio e fim facilmente perceptíveis por burocratas da ciência, com cronogramas e conclusões pré-definidos”, declarou em sua apresentação.

Sobre este tema, Odenildo Sena, considera que a qualidade da pesquisa não pode ser comprometida por conta da pressa na execução dos prazos. “Por outro lado, não se pode perder de vista que algumas pesquisas têm um gancho com o mercado, como o setor produtivo que exige resultados”, disse.

Dessa forma, os dois pontos devem ser relativizados. “Há pesquisas que em determinadas áreas, sobretudo na área da saúde demandam 5, 10 e até 15 anos para serem concluídas. Por outro lado, há pesquisas cujos resultados precisam estar ligados com o mercado”, explicou Sena, concluindo que “tem que ser algo que não perca a competitividade, senão vai outro e patenteia a ideia na sua frente”.

Cristiane Barbosa – Agência Fapeam

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