Nova técnica pode ajudar no diagnóstico da neurotoxoplasmose
A doença pode ser transmitida por meio do contato com as fezes do gato recém-nascido e, também, através da ingestão do músculo do boi, caprino e do porco sem o cozimento ideal, ou ainda, durante a gestação. A infecção só se manifesta quando o sistema imunológico do indivíduo está fragilizado.
Denominado “Diagnóstico Molecular da Neurotoxoplasmose em pacientes com HIV”, o projeto é realizado pelo patologista Luiz Ferreira, com acompanhamento do graduando de medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Raphael Ferreira da Silva, bolsista da FAPEAM por meio do Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic).
No Amazonas, segundo o graduando, o número de pessoas portadoras da neurotoxoplasmose que não apresentam os sintomas é um dos mais altos do Brasil. “De cada 100 pacientes atendidos no pronto-socorro, 70 pessoas tinham a infecção, porém não apresentavam sintoma algum”, contou Silva ao explicar que os pacientes soropositivos são suscetíveis a forma neural da toxoplasmose por terem um sistema imunológico fragilizado.
Diagnóstico inédito
Realizar um diagnóstico de uma infecção neural não é algo fácil porque, em alguns casos, é necessário realizar a biópsia cerebral (procedimento em que o crânio do paciente é perfurado para que um fragmento de cérebro seja retirado e enviado a um patologista para análise). “É um método muito evasivo. O estudo propõe como alternativa o diagnóstico por um exame chamado pulsão lombar”, destacou Silva.
Segundo ele, a pulsão lombar é o exame utilizado para o diagnóstico da meningite. No caso da neurotoxoplasmose, é retirado o fluido cerebral (denominado líquor) pela coluna do paciente. O material é submetido à técnica de reação em cadeia polimerase (PCR), que consiste na ampliação do código genético (DNA). Caso seja confirmada a presença do DNA no fluido, o qual deve ser estéril, é sinal de que o paciente está infectado pelo Toxoplasma gondii. A doença pode ser tratada com medicação via oral.
Silva contou ainda que a técnica deve ser aplicada em 60 pacientes atendidos pela Fundação. “Desejamos ampliar futuramente a pesquisa a outros pacientes com imunodeficiência, como os portadores de câncer e pacientes que fazem tratamento com quimioterápicos”, comentou o bolsista.
Troca de Experiências
Atualmente, a técnica é utilizada para diagnóstico da neurotoxoplasmose em Cuba e no Laboratório de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Em fevereiro deste ano, Raphael Ferreira da Silva passou dez dias na USP para acompanhar os trabalhos feitos no local.
“Trocamos experiências e informações que foram primordiais para aprimorar os estudos na Ufam e na USP”, contou Silva ao agradecer à FAPEAM pela oportunidade de conhecer outro universo da pesquisa científica.
Segundo ele, o estudante precisa mudar a visão de estudar somente o que já foi comprovado cientificamente. “Temos que ter em mente que podemos gerar conhecimento”, disse.
Além de Silva, a pesquisa conta com a participação da estudante de medicina da UFAM, Keite Cunha, a infectologista, Silvia Leopoldina, a bioquímica e gerente do Laboratório de Bacteriologia, Rosicleia Lins, e o biólogo responsável pelo Laboratório de PCR, Roberto Moreira, todos colaboradores da FMT-AM.