O perigo dos sacolés de ervas


O tradicional uso de plantas medicinais pela população amazonense pode se configurar em risco, de acordo com pesquisa que será divulgada esta semana, no XVI Congresso de Iniciação Científica (Conic) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Conforme dados do pesquisador Ari Fidalgo e da bolsista Maíra Mendonça, da área de ciências agrárias, até dez gêneros de fungos puderam ser encontrados em plantas comumente usadas em chás ou emplastros. Os dados serão debatidos em Sessões Orais do Congresso, que acontecem de hoje até dia 3 de agosto, no Auditório do Centro de Processamento de Dados (Setor Sul) e no Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da Ufam.

Para realizar a pesquisa, Fidalgo e Mendonça tomaram como pressuposto o fato da utilização de plantas nativas ser uma constante em Manaus, apesar da prática não se mostrar reconhecidamente segura pelo Ministério da Saúde e Vigilância Sanitária. Os pesquisadores ressaltaram ainda que o uso é feito, sobretudo, por pessoas de menor poder aquisitivo.

“Aparentemente não há fiscalização, no que se refere à segura identificação do material botânico e dos aspectos de higiene e salubridade, tanto do material vegetal quanto do ambiente em que este fica exposto à venda”, explicam eles no resumo da pesquisa, recém-divulgado no site do Congresso.

O estudo sobre a presença de “contaminantes de origem fúngica” no material vegetal vendido como medicinal no Mercado Adolpho Lisboa, Centro, ocorreu a partir de um levantamento das plantas mais vendidas. Seis espécies nativas da Amazônia (cinco nativas e uma exótica) foram avaliadas, sendo três a partir da casca e outras três a partir de partes subterrâneas do material (identificadas como rizomas e raízes). “As espécies selecionadas foram identificadas com auxílio das coleções botânicas dos laboratórios de plantas medicinais da Ufam e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)”, registraram em resumo os pesquisadores.

A análise do material coletado foi feita em laboratório. As ferramentas utilizadas para o estudo foram as mesmas de verificações cotidianas de fungos. Fidalgo e Mendonça, em sua avaliação, deram ênfase em pesquisar fungos que agem como potenciais patogênicos à saúde humana. O que significa dizer que a prioridade foi identificar as toxinas mais perigosas existentes em meio ao preparo de medicamentos caseiros com plantas, tal qual descrição no resumo do Conic.

De acordo com os pesquisadores, um dos resultados que mais chamaram atenção, por exemplo, foi o fato dos rizomas e raízes de três amostras estarem contaminados com ácaros, o que impediu a verificação da contaminação por fungos. Por outro lado, as três demais amostras de cascas puderam ser estudadas e apresentaram contaminação positiva por fungos. Os gêneros Aspergillus, Botriodiploidia, ColletoTrichum, Chaetamium, Fusarium, Nigrospora, Penicillium, Pestalotia, Rhizopus e Thricoderma foram encontrados nas cascas.

Os gêneros Aspergillus, Fusarium, Penicillium e Thricoderma, de acordo com a pesquisa, são perigosos por produzirem micotoxinas (secreção por determinados fungos para proteger seu ambiente de colonização). O gênero Rhizopus, conforme relatório, foi apontado como sendo uma “saprófita oportunista”, constituindo-se ameaça a pessoas deprimidas por conta de sua baixa resistência. Na literatura científica, essas pessoas são consideradas como imunodeprimidas. A imunodepressão pode agravar sintomas de doenças como a tuberculose.

Parte da pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os resultados serão apresentados no setor de painéis de agronomia da Ufam. No site, os resultados podem ser acessados pelo www.ufam.edu.br/conic.

Em Tempo (31/07)

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