Opinião: Muito além das palavras, artigo de Odenildo Sena


Não é comum encontrar vozes, principalmente vindas do rico sudeste, que se aliem, sem panfletagem, às preocupações que nós, que aqui vivemos, temos com a Amazônia. Nesses dias, revirando a pilha de material que costumo imprimir da internet, na convicta esperança de que um dia a vida me dará tempo para esgotar sua leitura, deparei-me com uma dessas vozes na figura da professora Vanderlan Bolzani, da Unesp. Com segurança, ela nos lembra que, diferentemente do que se possa crer, a natureza representa uma privilegiada fonte de produtos com valor agregado. No caso da Amazônia, ratifica que ainda há muito a se explorar de sua rica biodiversidade e que precisamos tomar a iniciativa de pesquisá-la, afinal, não é possível continuar permitindo que a geração de patentes de nossas plantas aconteça mais no exterior do que em território brasileiro. Aproveitar o recurso da diversidade molecular da floresta implica, entretanto, atentar para dois importantes fatores. Por um lado, não faz mais sentido a pura exploração extrativista. Além de se resumir à venda de insumos por preços aviltantes, com consequências danosas para a preservação de nossas espécies, essa prática não gera riqueza para o povo da região, pois alimenta a indústria de produtos sofisticados dos grandes centros do Brasil e do mundo, enquanto nós, aqui, ficamos literalmente a ver navios, que partem carregados com andiroba, castanha, copaíba e outros produtos in natura. Por outro, impõe-se como crucial a criação de condições permanentes para se produzir conhecimentos a partir do bioma amazônico, a fim de se proteger esses conhecimentos e, consequentemente, transformá-los em produtos com agregação de valor e herança de riqueza para o povo que aqui vive. Isso passa pela ampliação e consolidação da pós-graduação instalada em nossas instituições de ensino e pesquisa e pela fixação de pesquisadores, não como bolsistas de programas de incentivo, mas com vínculo permanente, o que propiciaria segurança e estímulo a essa massa crítica para trabalhar em prol da ciência na Amazônia. Neste particular – e isso não mais representa grande novidade –, o Amazonas tem sido exemplar no cumprimento de sua lição de casa. Falta, para se associar a essa ousadia, uma forte determinação do Governo Federal de considerar, muito além das palavras, a Amazônia como fator de soberania nacional.

 

Artigo de Odenildo Sena publicado no jornal Diário do Amazonas, em 15/9/2009.

 

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