PCE: formando jovens cientistas
Nos últimos dez anos, o Governo do Estado, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), criou um novo modelo de educação que se tornou referência nacional ao levar a alfabetização científica para estudantes da rede pública de Ensino. Trata-se do Programa Ciência na Escola (PCE) que possibilitou, a partir de investimentos na ordem de R$ 21,6 milhões até este ano, a inserção de 7,7 mil estudantes do Amazonas no “mundo científico”.
Siga a FAPEAM no Twitter e acompanhe também no Facebook
Com o desenvolvimento de projetos de pesquisa no ambiente escolar, as potencialidades dos alunos são desenvolvidas e suas habilidades acadêmicas destacadas, entre outros, pelo desenvolvimento de projetos e da participação em eventos científicos. As atividades têm servido como base, por exemplo, para a escolha do curso de Graduação de mais de 70% dos alunos que participam do PCE, segundo relatos dos seus coordenadores.
Os benefícios se estendem também aos professores e profissionais de Educação das escolas que abrigam as pesquisas. Ao longo do desenvolvimento das atividades, eles são beneficiados com formação continuada, que resulta na elevação da qualidade de ensino das instituições da rede pública de ensino.
Para a diretora-presidenta da FAPEAM, Maria Olívia Simão, por meio do PCE, o Governo do Estado está transformando a educação básica. “Estamos transformando a educação básica no seio da escola e da família ao tirar o conteúdo dos livros, que parece que nada tem a ver com a realidade, para contextualizá-lo no campo da vida. Trata-se de uma postura fundamental para modificar a qualidade do ensino, na medida em que formamos alunos com habilidades de buscar e construir conhecimento”, disse Maria Olívia.
Avaliação
Para consolidar o conhecimento adquirido ao longo dos estudos e para contribuição e promoção da socialização do saber científico na comunidade escolar, os resultados dos projetos de pesquisa desenvolvidos pelos estudantes, neste ano, estão sendo apresentados nos Seminários de Avaliação do Programa. Em Manaus, o seminário de avaliação foi realizado em novembro com a apresentação de 146 projetos realizados na rede pública estadual e municipal de ensino.
No interior do Estado, os seminários de avaliação iniciaram no final do mês de novembro e seguem até o dia 18 deste mês, com a apresentação final de 137 projetos desenvolvidos no interior do Amazonas.
Saldo positivo
Entre os destaques apresentados no interior do Estado está o ‘Transporte Escolar Fluvial, acesso à Educação’, executado na Escola Estadual Amazonino Mendes, no município de Nhamundá (a 383 quilômetros de Manaus).
“A preocupação com a falta de um transporte escolar adequado, dentro das normas de segurança e higiene para nossos alunos, nos levou a fazer esse estudo sobre os tipos de embarcações (canoa, bajarás, lanchas, etc) que são utilizadas pelos alunos que moram em comunidades ribeirinhas”, explicou o professor Ezenrahua Cabral Colares, coordenador do projeto.
Para a estudante Isabel Cidade da Silva, a apresentação foi uma experiência e serviu para que os alunos tenham noção de como são as avaliações no Ensino Superior. “Nosso maior inimigo foi o nervosismo, mas foi uma experiência válida e diferente de tudo aquilo que estamos acostumados a ver na escola. Me sinto até mais preparada para enfrentar outros desafios”, disse a jovem que sonha em ser advogada.
Para a coordenadora do Programa no município de Presidente Figueiredo (a 107 quilômetros da capital), Rosemary Andrade, o PCE ultrapassa o ambiente escolar e chega a influenciar nas relações familiares dos estudantes. “De certa forma, o PCE é uma contribuição efetiva no ambiente escolar do aluno e na mudança do comportamento, que se torna disciplinado e responsável com os estudos. As famílias ficam satisfeitas e se tornam apoiadoras ao saberem que os filhos estão em projetos científicos e educativos, que contribuem de maneira direta no crescimento estudantil”, disse.
Temas polêmicos
Os estudantes também têm utilizado os projetos de pesquisa para abordar temas polêmicos, como as doenças sexualmente transmissíveis, discussões acerca do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o uso de medicina alternativa.
Os alunos da Escola Estadual Maria Arminda foram os responsáveis pela pesquisa ‘A importância do uso de preservativo na era da AIDS’, coordenado pela professora Maria Francisca Lima. “Sexo não é nenhum bicho de sete cabeças, mas o ato exige responsabilidade de quem o pratica, e nesse caso o conhecimento também é essencial. Precisamos alertar nossos jovens a respeito dos riscos de uma gravidez na adolescência e do sexo sem o preservativo”, disse a professora.
Em Tefé (distante a 520 quilômetros de Manaus), os estudantes apresentaram o projeto ‘Direitos e deveres de crianças, adolescentes e família’ desenvolvido na Escola Estadual Santa Tereza. De acordo com a estudante Amanda Reis, a ideia é trabalhar as leis por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) na tentativa suprir a falta de conhecimento jurídico dos direitos e deveres dos jovens. “As crianças, adolescentes e suas famílias pouco conhecem dos seus direitos e por isso não têm condições de exigir, então é muito importante que todos conheçam o ECA para que possamos conseguir uma sociedade mais justa para todos”, disse Reis.
O uso da medicina alternativa ainda gera polêmica em todo o mundo. Em meio às discussões a respeito de sua real eficácia, os estudantes de Benjamin Constant desenvolveram o projeto ‘Plantas Medicinais: uma alternativa de cura’.
A estudante Ítala Helen Nascimento informou que durante as atividades foram analisadas as propriedades farmacológicas de pelo menos 30 espécies de plantas usadas como remédio pelos moradores do município. “Os medicamentos naturais, chamados de caseiros, são feitos a partir da manipulação de plantas como o cubio, alfavaca, crajiru, hortelã e boldo. Tentamos identificar o composto ativo dos extratos, já que eles são fabricados em forma de chá e contém diversas substâncias diferentes”, explicou a estudante.
Novos cientistas
Dando continuidade à política de incentivo à alfabetização científica, estão abertas, até 23 de fevereiro de 2015, a submissão de projetos de pesquisa para o PCE. Para esta edição, serão disponibilizados R$ 5.680.920,00 voltados para a educação científica no Estado. Os recursos representam um aumento de 30% em relação ao edital anterior.
A previsão é que 420 projetos de pesquisa da rede pública estadual e municipal de ensino sejam aprovados. Além de Manaus, o edital se estende aos municípios de Coari, Anamã, Anori, Beruri, Caapiranga, Codajás, Tefé, Alvarães, Uarini, Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamim Constant, Fonte Boa, Guajará, Jutaí, Santo Antônio de Iça, São Paulo de Olivença, Tabatinga e Tonantins.
Sobre o PCE
O Programa Ciência na Escola (PCE), criado em 2004 pelo Governo do Estado via Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-AM) e FAPEAM, em parceria com as Secretarias de Estado de Educação (Seduc) e Municipal de Educação (Semed), é uma ação de alfabetização científica e tecnológica destinada aos professores e estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio que desenvolvem projetos de pesquisa em escolas públicas municipais e estaduais do Amazonas.
Camila Carvalho – Agência FAPEAM