Pesca ornamental ameaçada por mudanças no clima
O mercado legal de comércio de animais silvestres movimenta R$622 milhões ao ano, de acordo com a Traffic, organização de monitoramento do comércio de animais e vegetais selvagens. Desse valor, R$ 394 milhões são oriundos da compra e venda de peixes ornamentais, em grande parte, capturados nos rios da Amazônia. Entretanto, para pesquisadores de institutos locais, essa comercialização, que já é a mais expressiva na Bacia do Rio Negro, está ameaçada pelo fenômeno das mudanças climáticas.
A comercialização de animais silvestres para finalidade doméstica está sob consulta pública realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que disponibiliza uma lista com 50 espécies, neste caso, para aves e répteis. A consulta está disponível no endereço eletrônico www.ibama.gov.br, até dia 6 de abril.
Na região do Rio Negro, a pesca ornamental supera, em importância econômica, a comercial, para finalidade de consumo. Os “piabeiros”, como são chamados dos pescadores de piabas, espécie encontra na região, figuram como folclóricos, mas são agentes centrais na movimentação desse mercado no Amazonas.
De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa na Amazônia (Inpa), Jansen Zuanon, eventos climáticos extremos e constantes, ligados às mudanças climáticas e aquecimento global, podem reduzir o estoque pesqueiro da Bacia do Rio Negro, que, segundo ele, já são naturalmente baixas.
“Se temos secas seguidas, a espécie não tem tempo de equilibrar seu ciclo de reprodução. Soma-se a isso a própria ação humana, já que a reação imediata do pescador diante da estiagem é de euforia, pois a captura do pescado se torna mais fácil", explicou, durante o evento de mudanças climáticas e aquecimento global promovido pelo ISA na última semana.
Pesquisas indicam que a fauna de peixes de água doce da Amazônia é a maior do planeta, com pelo menos 3 mil espécies já identificadas. São comercializados, por ano, cerca de 173 mil toneladas de pescado – mas menos de 4% delas vêm da Bacia do Rio Negro, onde o destaque é a pesca ornamental, voltada à exportação. O consumo médio diário de pescado na região é estimado em 600 gramas por pessoa.
"Se começa a faltar peixe na região como um todo, os moradores do Alto Rio Negro, por exemplo, serão os mais afetados. Porque lá, naturalmente, o pescado já é escasso. E o que resistir deverá ser trazido para Manaus, onde o poder aquisitivo dos consumidores é maior”, alerta o pesquisador.
Traffic
De acordo com a Traffic, a segunda espécie mais comercializada legalmente é a de primatas, que correspondem a R$115 milhões ao ano, nesse mercado. Atualmente, estes animais estão envolvidos numa polêmica. Pesquisadores de todo o mundo pedem que eles não sejam mais utilizados em produções cinematográficas, porque a exposição esconde do público a as ameaças que a espécie sofre em diferentes países.
Passarinhos, répteis, águias e falcões também estão na lista dos mais vendidos, correspondendo a R$58 mi, R$47 mi e R$8 mi, respectivamente.
Michelle Portela – Agência Fapeam