Pesquisa aborda transtorno de coordenação em crianças de Manaus


06/01/2011- Desajeitadas, tristes e muitas vezes alvos de comentários de professores e colegas em sala de aula por terem seus cadernos desorganizados e letra feia. Muitas pessoas, inclusive pais e professores, acham que a criança é apenas preguiçosa, insegura ou desinteressada, mas deve-se observar com mais cautela, pois muitas dessas crianças apresentam o que é chamado de Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação ou TDC.

Em vista desse problema, o doutorando da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP), Lúcio Ferreira, em parceria com a doutora em Educação Física também pela USP, Andrea Freudenheim desenvolveram pesquisa em Manaus voltada para a identificação de crianças de 7 a 8 anos que apresentam o TDC em escolas públicas locais.

"Não se sabe ao certo as causas do TDC, mas dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que este transtorno afeta 5% a 6% das crianças em idade escolar, tendendo a ocorrer com maior frequência em meninos – proporção de 4 ou 5 meninos para cada menina", frisou.

Ferreira, que é bolsista do Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas (RH-Doutorado) da  Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), disse que a pesquisa, desenvolvida em 16 escolas e com 350 crianças da rede municipal de ensino de Manaus, investigou a lista de checagem do teste de Bateria de Avaliação do Movimento para Criança (MABC), considerado de fácil utilização e precisão para identificar transtornos do desenvolvimento da coordenação em crianças entre 4 e 12 anos de idade.

Lista não foi efetiva

vspace=10O estudo concluiu que a lista de checagem do MABC não foi efetiva na identificação de crianças com transtorno motor na realidade escolar manauara, independente do conhecimento que os professores têm dos alunos.

"Não correspondeu, dessa maneira, às finalidades para as quais foi elaborada, ou seja, como instrumento identificador, selecionador, e ainda, para a tomada de decisão quanto à elaboração de programas de intervenção", alertou o pesquisador.

Ferreira disse, no entanto, que o problema pode estar na bateria de testes motores, na lista de checagem ou nos profissionais que a preencheram. "Em todo caso, em função da amostra ter sido pequena, mais estudos devem ser realizados, envolvendo um maior número de professores", afirmou.

A pesquisa resultou na obra “Identificação de Crianças com Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação: A lista de checagem do teste MABC em foco ” de coautoria dos dois pesquisadores pela editora Schola, em 2010, com apoio da FAPEAM.

Ferreira acredita que, apesar da vasta publicação sobre a temática, a obra é considerada inédita na língua portuguesa. “Sem o apoio da FAPEAM, não seria possível a publicação da obra, disse o pesquisador, que adiantou sua aprovação e a participação de trabalhos relacionados à pesquisa, no IX Congresso Internacional de TDC, que acorrerá no próximo mês de junho, na cidade de Lausanne, Suíça.  

Benefícios

vspace=10Para Ferreira, a partir da publicação da obra, será possível um ambiente de discussão e maior envolvimento de profissionais, não somente da área de Educação Física, mas profissionais das áreas de Psicologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Medicina, mais particularmente especialistas da área de  Pediatria.

Ele disse que, no contexto nacional, há a existência de um baixo índice de profissionais estudando sobre a temática, mas aponta estudos iniciais, no Estado do Amazonas, que necessitam de profissionais engajados para o avanço das pesquisas. “O mais importante na obra, não é o resultado da pesquisa em si, mas as questões conceituais e os principais assuntos que norteiam a temática”, completou.

Algumas das características da criança com TDC:

desajeitada ou incoordenada em seus movimentos. Esbarra em obstáculos, derrama ou derruba coisas com mais frequência que crianças de mesma idade;
apresenta atraso no desenvolvimento de habilidades motoras;
demora mais para aprender novas habilidades motoras;
tem dificuldade para fazer atividades que requerem o uso coordenado dos dois lados do corpo (ex.: recortar com tesoura, escrever, cortar alimento usando garfo e faca, agarrar bola e andar de bicicleta);
pode apresentar problemas emocionais secundários, como baixa tolerância à frustração, autoestima diminuída e pouca motivação para fazer atividades esportivas;
tem dificuldades para organizar sua carteira/mesa, armário, mochila, cadernos, ou mesmo os brinquedos;
mais lenta nas atividades escolares que exigem desempenho motor, como copiar do quadro, usar régua, fazer o dever de casa;
estão mais propensas a apresentar problemas acadêmicos, pouca competência social;
tendem a não participar voluntariamente de atividades motoras e tem menos oportunidades para fazer exercícios e manter boa forma física.

Foto1: Pesquisador Lúcio Ferreira, coautor da obra que aborda o TDC (Foto: Sebastião Alves Filho)
Foto2: Capa da obra realizada a partir da pesquisa (Foto: Ulysses Varela) Sebastião Alves Filho e Cristiane Barbosa – Agência FAPEAM

 

 

 

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